No sétimo dia de protestos no Chile a temperatura segue alta e pode aumentar ainda mais. O Congresso Nacional, localizado em Valparaíso, foi esvaziado nesta última sexta-feira (25) por ordem do presidente da Câmara dos Deputados, Iván Flores, devido às manifestações e confrontos com a polícia que ocorriam do lado de fora.
A 110 km da cidade costeira, manifestantes foram convocados para a “a maior marcha do Chile”, que acontecerá à noite na Praça Itália, um dos principais locais dos protestos, localizada próxima ao palácio presidencial em Santiago. As convocações acontecem principalmente em redes sociais, e não há uma liderança clara no movimento.
Há uma semana, um protesto estudantil contra o aumento do preço das passagens de metrô resultou em uma explosão social sem precedentes, a mais grave em quase 30 anos desde o final da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Até o momento, o Ministério Público registrou 19 mortos.
As mobilizações cresceram e logo congregaram diversas reivindicações sociais, como melhoria no acesso à saúde, à educação e melhor política de aposentadorias. O Chile é uma das economias mais estáveis, mas, ao mesmo tempo, mais desiguais da América Latina.
Manifestações semelhantes foram convocadas para esta sexta em outras cidades do Chile, que está quase totalmente sob vigilância militar desde que o presidente Sebastián Piñera decretou um estado de emergência na madrugada de sábado (19), primeiro em Santiago e depois em outras regiões.
O dia começou com caravanas de caminhões bloqueando o fluxo nas principais rodovias de acesso à capital, em um ato contra a cobrança de pedágios em estradas, que foram concedidas em sua maior parte ao setor privado a partir da década de 1990.
Santiago tinha mais linhas de metrô operando parcialmente em relação aos últimos dias. É uma lenta recuperação em relação ao fim de semana passado, quando o serviço suspendeu completamente seu funcionamento na esteira de ataques a dezenas de estações.
Os protestos resultaram até agora em mais de 6 mil detidos e ao menos 19 mortos, apesar do toque de recolher em vigor durante a semana e que foi decretado novamente nesta sexta. A Justiça também investiga se agentes de segurança cometeram abusos no uso da força para reprimir as manifestações, como apontam organizações de defesa dos direitos humanos locais.
A Secretaria-Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), chefiada por Luis Almagro, denunciou o que descreveu como um “padrão” de desestabilização inspirado na Venezuela e em Cuba nos países da América Latina, primeiro na Colômbia e no Equador e agora também no Chile.
Em um comunicado divulgado na noite de quinta-feira (24), o escritório da Almagro insistiu nas colocações que havia feito antes, transferindo a responsabilidade das massivas mobilizações antigovernamentais na região aos governos de Nicolás Maduro, na Venezuela, e Miguel Díaz-Canel, em Cuba.
“As brisas do regime bolivariano impulsionada pelo ‘madurismo’ e pelo regime cubano traz violência, saques, destruição e um objetivo político de atacar diretamente o sistema democrático e tentar forçar interrupções nos mandatos constitucionais”, disse o secretariado da OEA em seu texto.
O Equador foi abalado na primeira quinzena de outubro por violentas manifestações antigovernamentais causadas pela eliminação dos subsídios aos combustíveis e o consequente aumento de preços de até 123%. O presidente equatoriano Lenin Moreno acusou Maduro de estar por trás dos distúrbios, que deixaram oito mortos e mais de 1.300 feridos.
No final de setembro, a Colômbia acusou Maduro perante as Nações Unidas de receber grupos armados colombianos do Exército de Libertação Nacional (ELN). A Secretaria-Geral da OEA afirmou que a Colômbia foi o país mais afetado pelos “crimes contra a paz do regime maduro”.
Almagro, diplomata uruguaio que lidera a OEA desde 2015, é um feroz oponente de Maduro, um ditador a quem atribui graves violações dos direitos humanos com o apoio de Havana.