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sábado 18 de novembro de 2023 às 11:03h

Congresso mira R$ 46 bilhões do valor que governo dispõe para gastar livremente

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Em uma queda de braço com o Palácio do Planalto pelo controle do Orçamento, o Congresso prevê aumentar para R$ 46 bilhões o valor em emendas parlamentares a que terá direito no ano que vem, o equivalente a quase um quinto do que o Executivo pode gastar livremente e a 75% do que espera investir no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Na prática, a ideia segundo Victoria Abel , Camila Turtelli e Renan Monteiro, do jornal O Globo, é compensar o fim do orçamento secreto e turbinar as emendas de comissão, com um acréscimo de mais de 60% nos recursos que podem ser indicados por meio dos colegiados. A iniciativa, contudo, enfrenta resistência entre governistas, que veem tentativa do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de ampliar seu poder.

Como publicou o jornal O Globo, além do reajuste, Lira trabalha para tornar a obrigatório o pagamento das emendas comissão — que devem somar cerca de R$ 11 bilhões em 2024. Parlamentares ainda discutem com o Tribunal de Contas da União (TCU) a possibilidade de estabelecer um calendário para que a execução da verba ocorra, evitando, assim, que o Planalto a utilize para barganhar apoio.

Emendas são a forma como os deputados e senadores destinam recursos do Orçamento a seus redutos eleitorais. Embora o pagamento da maior parte dos valores seja obrigatório, o ritmo de liberação é definido pelo Palácio do Planalto, que costuma usar isso como moeda de troca em negociações políticas.

Essa fatia do Orçamento controlado pelo Congresso registrou um salto em 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro, quando parlamentares passaram a destinar recursos por meio das emendas de relator — base do orçamento secreto. Essa modalidade, em que não era possível identificar quem era o responsável pelas indicações, foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2022. A destinação tinha a influência de representantes da cúpula do Congresso, como Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Compensação

Na época, havia R$ 19,8 bilhões previstos nesse formato no Orçamento deste ano, que foi divido pela metade entre emendas parlamentares e ministérios. O entendimento de congressistas agora é que, ao turbinar as emendas de comissão, o Parlamento apenas recupera o controle desses recursos dos quais já tinha direito. Parte do plano já começou a ser colocado em prática neste ano, quando as verbas na modalidade alcançaram R$ 6,8 bilhões — eram R$ 329 milhões em 2022.

Diferentemente das emendas de comissão, o aumento nos outros tipos de emendas é vinculado à receita do governo. Assim, com base nos números atuais, a previsão é que sejam reservados R$ 22,8 bilhões para emendas individuais e R$11,4 bilhões às de bancada em 2024. Caso a proposta seja aprovada, o Parlamento ficará responsável por definir 17,83% das despesas livres do ano que vem, previstas em R$ 257,9 bilhões.

O aumento total no valor das emendas, de 27% — dos atuais R$ 36,2 bilhões para os R$ 46 bilhões — supera a estimativa de inflação deste ano, prevista pelo governo em 4,85%. A quantia também equivale a 75% do que o governo reservou para obras do PAC.

Na tentativa de ampliar o controle do Congresso sobre os recursos, o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), deputado Danilo Forte (União-CE), chegou a propor a criação de uma nova modalidade de emendas, a RP5, batizada de “emenda de bancada partidária”. A inciativa, porém, naufragou, pois foi rejeitada por Lira e líderes.

O cálculo político entre aliados do governo é que as emendas de comissões turbinadas devem dar poder ainda maior para Lira. O presidente da Câmara é o responsável por indicar os presidentes desses colegiados e costuma privilegiar nomes alinhados a ele.

Governistas também avaliam que a distribuição do dinheiro entre as diversas comissões pode acabar sendo desigual — são 25 colegiados na Câmara e 17 no Senado.

— Vai dar briga dentro das comissões. Algumas têm desequilíbrios entre partidos na quantidade de membros. Além disso, você dá muito poder ao presidente do colegiado. Vai criar muita distorção. Todos vão querer ficar nas comissões que tiverem mais dinheiro — disse o coordenador de governo na Comissão Mista de Orçamento, Carlos Zarattini (PT-SP).

Contas públicas

A ampliação do pagamento obrigatório também pode ter impacto nas contas do governo. Neste ano, quando as emendas de comissão ainda não eram obrigatórias, o Executivo pagou apenas 1,1% do previsto, R$75 milhões.

O movimento preocupa a equipe econômica do governo, que vê pouca margem nas contas públicas para investir em novas ações. Diante da movimentação do Congresso, o Planalto deve apresentar uma emenda ao texto da LDO para que as emendas individuais e de bancada ao Orçamento possam ser destinadas para as obras de uma das principais bandeiras petistas.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, contudo, se antecipou e foi às redes sociais atacar Lira por defender o pagamento obrigatório das emendas de comissão. Ela apontou contradição do presidente da Câmara, que apoia o governo manter a meta de zerar o déficit nas contas públicas no ano que vem. Procurado, Lira não comentou.

Já parlamentares da oposição concordam em obrigar o governo a pagar as emendas de comissão. O principal argumento é impedir que o Planalto use as emendas como moeda de troca.

—Se já existe uma previsão de emendas ela tem de ser cumprida. Isso dá mais transparência ao diálogo entre Câmara e Executivo. Senão fica aquele negócio de ter uma emenda e o Executivo dizer “não, eu só pago se votar assim ou assado”. Quem perde são municípios e estados— disse o líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes.

O senador Carlos Portinho (RJ), líder do PL no Senado, atribui a movimentação do Congresso para retomar o controle sobre uma fatia maior do Orçamento à fragilidade do governo.

— A gente não está enxergando políticas públicas, então o Congresso prefere fazer as suas —afirmou ele.

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