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A revolta dos escravos haitianos deu início a eventos que alteraram para sempre a geopolítica mundial
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terça-feira 30 de junho de 2020 às 07:33h

Como uma epidemia no Haiti ajudou os Estados Unidos a se tornarem uma potência

CURIOSIDADES, NOTÍCIAS


Foi uma epidemia cujos efeitos mudaram a geopolítica mundial por muitos séculos.

No final de 1801, Napoleão Bonaparte enviou ao Haiti uma das maiores frotas marítimas já mobilizadas pela Armada francesa e suas forças acabaram sucumbindo a um mosquito.

Segundo reportagem da BBC, milhares de soldados franceses morreram vítimas de maior epidemia de febre amarela registrada no Caribe em 300 anos.

Assim naufragaram os planos de Bonaparte para as Índias Ocidentais, como eram chamadas as ilhas do Caribe, dos quais o Haiti era peça central.

Seu fracasso criou condições para a consolidação de uma pujante mas jovem nação, os Estados Unidos, cuja ascensão transformaria o jogo de forças internacional nos séculos seguintes.

Mas de onde vinha o interesse de Bonaparte pelo Haiti?

Um império de açúcar e café

Depois de se estabelecer no início do século 17 de maneira informal na parte ocidental da Espanhola, como era conhecida a ilha onde hoje ficam o Haiti e a República Dominicana, a França conseguiu fazer a coroa espanhola lhe ceder formalmente um terço da ilha em 1697 com o Tratado de Rijswijk.

Barcos franceses em Santo Domingo
Mais de 700 barcos atracavam em Santo Domingo para exportar seus produtos, principalmente café e açúcar

Batizada então de Saint-Domingue, ou São Domingos, logo se tornou a posse mais próspera da França em todo o Novo Mundo, graças à sua produção de açúcar e café, da qual a França era o principal exportador para a Europa e, em menor grau, cacau e índigo.

No início da década de 1780, mais de 700 navios atracavam lá todos os anos para carregar produtos dessa colônia, que naquela época representavam dois terços dos investimentos franceses no exterior.

Toda essa prosperidade, no entanto, foi construída com base no uso maciço e brutal da força de trabalho escrava africana.

Esses escravos ficavam presos num círculo vicioso porque os proprietários não se dedicavam a cuidar deles, convencidos de que não valia a pena gastar devido à alta taxa de mortalidade entre eles.

Como consequência, metade dos escravos morreu durante o primeiro ano no Haiti devido às duras condições de vida.

A cada ano dezenas de milhares de seres humanos eram trazidos, o que, por sua vez, transformou o comércio de escravos em um negócio lucrativo.

Socialmente, São Domingos era uma bomba-relógio com várias classes que se odiavam e se temiam. Como o historiador francês Paul Fregosi descreveu:

“Brancos, mulatos e negros se odiavam. Os brancos pobres não toleravam brancos ricos; os brancos ricos desprezavam os brancos pobres; os brancos de classe média tinham inveja dos brancos aristocráticos; os brancos nascidos na França menosprezavam os brancos locais. Os mestiços não gostavam dos brancos, repudiavam os negros e eram desprezados pelos brancos. Negros livres abusavam daqueles que ainda eram escravos; negros nascidos no Haiti consideravam selvagens aqueles trazidos da África. Todos – com boas razões – viviam aterrorizados com os outros. O Haiti era um inferno, mas o Haiti era rico.”

Em 1791, paradoxalmente inspirados pela Revolução Francesa e sua Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, os escravos iniciaram uma revolta que 13 anos depois culminaria na declaração de independência, a primeira em um país latino-americano.

Muitos proprietários de terra morreram nas mãos de seus escravos e numerosas plantações foram queimadas.

Fazendeiros foram mortos e plantações foram queimadas na revolta
Fazendeiros foram mortos e plantações foram queimadas na revolta

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