Com carta branca para montar a equipe, o futuro ministro da Justiça Ricardo Lewandowski se prepara para trocar os principais cargos da pasta – os titulares das estratégicas Secretaria-executiva e Secretaria Nacional de Segurança Pública, Ricardo Cappelli e Tadeu Alencar, respectivamente, devem ceder os lugares para nomes de confiança do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal – mas um episódio específico do passado é lembrado como trunfo para um auxiliar do ministério tentar se manter no posto.
Secretário de Defesa do Consumidor, o petista Wadih Damous era presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio segundo reportagem de
, da Veja, quando Lewandowski, revisor dos processos do mensalão no STF, foi hostilizado ao votar nas eleições de 2012. Chamado de “bandido, corrupto, ladrão e traidor” na saída de uma escola estadual em São Paulo, acabou defendido por Damous. Em nota na época, o então presidente da OAB-RJ classificou as ofensas como uma “conduta de vândalos com conotações fascistas”. Com Lewandowski alçado a ministro e Wadih no segundo escalão da pasta, o episódio tem sido lembrado como um tento para a virtual manutenção do secretário no posto.Desde a vitória de Lula, em outubro de 2022, o nome de Lewandowski circulava entre os potenciais ministros da Justiça do novo governo. Ainda no STF, dizia a interlocutores que, se topasse trocar o tribunal por uma vaga no Executivo antes da aposentadoria que se iniciaria meses depois, repetiria o erro do ex-juiz Sergio Moro, que abandonou a magistratura para cerrar fileiras com Jair Bolsonaro. Não era bem assim. No mesmo raciocínio o magistrado não escondia a ideia de que, se convidado, não poderia recusar um convite para a pasta mais vistosa da Esplanada.
Quais foram as principais decisões de Lewandowski no STF?
Na figura de revisor do mensalão, o ministro abriu uma trincheira para abrandar penas, livrar próceres petistas do crime de quadrilha e em alguns votos afirmou que sequer estava comprovado o pilar da acusação feita pelo Ministério Público, a de que foi montado um milionário esquema de compra de parlamentares para a formação da base do governo. Flagrado na época pelo jornal Folha de S. Paulo em uma conversa telefônica, confidenciou que “a tendência era amaciar para o Dirceu”. Antigo homem forte de Lula, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu acabou condenado a sete anos e 11 meses de prisão.
Como presidente da sessão de impeachment de Dilma Rousseff no Senado, em 2016, acatou uma proposta de fatiar o julgamento da petista, o que abriu caminho para que a sucessora de Lula perdesse o mandato mas se mantivesse apta a disputar futuras eleições. Meses depois, em sala de aula, ele atribuiria o impeachment a um “tropeço na democracia”. Dilma disputou uma vaga ao Senado em 2018 por Minas Gerais, mas ficou apenas na quarta colocação.
Guardião das mensagens de procuradores, que, hackeadas, reduziram a Lava-Jato a pó, ainda no Supremo Lewandowski autorizou um sem-número de políticos e autoridades a acessar as conversas em busca de teses jurídicas que pudessem levar à anulação de sentenças assinadas por Moro no petróleo. No julgamento da parcialidade do então juiz, foi um dos mais eloquentes críticos aos métodos de investigação de Curitiba.