A melhora nos índices de aprovação da administração de Lula da Silva (PT), revelada na pesquisa Ipec, terá impactos diretos na seara que mais vem causando dor de cabeça ao mandatário: a governabilidade. Com uma base volátil e descompromissada, o Executivo colecionou derrotas em série, em variadas áreas – o que pode mudar em breve.
Em seus dois primeiros mandatos, Lula habituou-se a tratorar a oposição, então diminuta: os plenários das duas Casas estavam nas mãos dos líderes do governo, que convocavam as votações – e ganhavam quase todas – conforme as conveniências do Palácio do Planalto.
E havia dois motivos principais. Em primeiro lugar, as emendas ao orçamento não eram impositivas: a liberação dos recursos se dava por critérios de fidelidade – o insigne “toma lá, dá cá”. Além disso, com a popularidade de Lula no topo, poucos se dispunham a contrariá-lo frontalmente.
Todavia, com a mudança constitucional que tornou obrigatórios os pagamentos das emendas (na alvorada do ocaso da gestão de Dilma Rousseff), o governo perdeu a moeda de troca – e deputados e senadores não mais se viram obrigados a retribuir, em votos, as benesses conquistadas (ora empenhadas de ofício, sem que uma mão precise lavar a outra).
Nesse cenário de disparidade de armas, em que não é possível obter o beneplácito do Congresso com a liquidação de emendas, resta a Lula, para fazer avançar suas pautas – ou barrar as proposições que podem comprometer interesses do Executivo –, recorrer à pressão exercida pelo apoio popular.
Por essa razão, a pesquisa IPEC assume ares alvissareiros. Enquanto a avaliação positiva subiu – 37% dos brasileiros com idade para votar consideram a administração “ótima” ou “boa”, contra 33% registrados em março –, as classificações “regular” e “ruim/péssima” permaneceram estáveis, oscilando dentro da margem de erro.
Em comparação com os levantamentos anteriores, a avaliação positiva aumentou, notadamente, entre indivíduos que residem na região Nordeste, de 43% para 53%, e pessoas com renda familiar mensal de até 1 salário mínimo, de 39% para 48%.
Outro indicador significativo é o que mostra a interrupção do movimento de queda na “aprovação da forma como o presidente Lula vem governando o país”: de 56%, anotados em setembro de 2023, o nível chegou a 49% em março deste ano, e, agora, alcançou a marca dos 50%.
Relevante observar que a “desaprovação” se dá, sobretudo, entre eleitores de Jair Bolsonaro: 79%. Pessoas com renda mensal familiar superior a 5 salários mínimos e evangélicos também entram nesse grupo, com a mesma média: 55%.
Com relação à “confiança” em Lula, esta é maior nos seguintes grupos: os habitantes do Nordeste, os “menos instruídos”, os católicos e as pessoas com renda familiar de até 1 salário mínimo. Por outro lado, “não confiam” no presidente os moradores da região Sul, os “mais instruídos”, os evangélicos e aqueles com renda mensal familiar de 2 a 5 salários mínimos.
O presidente da República tem o desafio de converter tais resultados em ações que viabilizem a transformação de sua agenda em realidade. Para tanto, dependerá da habilidade de articulação de subordinados e de sua capacidade de lidar com as resistências persistentes de determinados setores da sociedade, igualmente estratégicos para as pretensões do petista de renovar o mandato em 2026.