O comandante do Exército, general Tomás Paiva, defendeu durante reunião com subordinados o resultado eleitoral que deu vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que os militares, após um trabalho de fiscalização, não identificaram qualquer fraude no processo. A declaração foi dada a oficiais do Comando Militar do Sudeste, no dia 18 de janeiro, às vésperas de assumir o comando da Força. No áudio de 1 hora e 8 minutos, gravado sem autorização por um participante da reunião e divulgada pelo podcast Roteirices, do jornalista Carlos Alberto Júnior, ele afirmou ainda que houve interferência política do ex-presidente Jair Bolsonaro nas Forças.
“Ele [Bolsonaro] teve mais votos nessa eleição do que ele teve na outra. Então, a diferença nunca foi tão pequena. Foi mínima. E aí o cara fala assim: ‘pô, general, mas teve fraude’. Nós participamos de toda a fiscalização, fizemos relatório, fizemos tudo. Constatou-se fraude? Não”, afirmou Paiva.
Na ocasião, o general realizou uma apresentação sobre os acontecimentos político dos últimos meses, em que militares foram envolvidos em discussões eleitorais. Nesse contexto é que ele cita as interferências políticas de Bolsonaro nas Forças.
Entre as ações apontadas, ele citou uma suposta intenção de Bolsonaro de realizar uma motociata na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) – vetada, segundo o general, pelo comando do Exército -, e a mudança do desfile do 7 de Setembro de Brasília para o Rio de Janeiro, onde bolsonaristas realizaram uma manifestação de apoio ao governo.
Ao tratar das eleições, Tomás lembra que o mesmo processo que elegeu Lula como presidente também permitiu um Congresso Nacional e governadores conservadores. No entanto, Tomás refere-se à vitória do petista como um resultado que “infelizmente para a maioria de nós foi indesejado”.
“Não dá para falar com certeza que houve qualquer tipo de irregularidade. Infelizmente foi o resultado que para a maioria de nós foi indesejado. Mas aconteceu”.
Apesar de o comandante do Exército afirmar que as Forças Armadas não constataram nenhuma irregularidade no processo eleitoral, Paiva colocou-se favorável ao voto impresso, bandeira levantada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro por desconfiança no sistema eleitoral eletrônico e afirmou que era “legítima” a vontade do então mandatário de “aperfeiçoar o sistema”. Ele ponderou, entretanto, que “o que interessa naquele caso é a opinião do Congresso Nacional, que votou contra”.