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quinta-feira 4 de janeiro de 2024 às 07:15h

Com valor estimado em R$ 60 bilhões, Codemig volta ao centro da disputa política

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Com a proposta de federalizar as estatais de Minas Gerais para pagar a dívida do Estado com a União, hoje estimada em R$ 156,6 bilhões, a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) voltou ao centro da disputa política após ocupar esse lugar por muitos anos.

Estatal com valor de mercado estimado em até R$ 60 bilhões, a Codemig tem como única atividade a exploração de nióbio, por meio de uma sociedade em conta de participação (SCP) com a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), da família Moreira Salles, parceira do Estado na exploração do mineral desde 1972.

Em 2022, a Codemig distribuiu em dividendos e juros sobre capital próprio ao Estado R$ 1,3 bilhão. Em 2023, até outubro, a empresa teve lucro líquido de R$ 1,4 bilhão e distribuiu R$ 1,2 bilhão. Para 2024, a previsão da empresa é alcançar um lucro líquido anual de R$ 1,3 bilhão e distribuir 100% do valor.

No passado, a Codemig foi muito utilizada por governos mineiros para investir em obras públicas e fundos de investimentos e acabou no centro das suspeitas de corrupção envolvendo o ex-governador, atual deputado federal Aécio Neves (PSDB). Hoje, para o governo Romeu Zema (Novo), os recursos da estatal são usados para custear a folha de pagamentos do Estado.

A tratativa da federalização das estatais mineiras coloca a Codemig de novo no centro das atenções, inclusive sobre a eventual utilização política da companhia, caso passe ao controle do governo Lula. Também porque ela vale muito mais que as duas outras estatais apresentadas no pacote, a Cemig, de energia, e a Copasa, de saneamento básico. Considerando o preço das ações na B3, a Cemig é avaliada em R$ 28,5 bilhões, e a Copasa, em R$ 7,7 bilhões.

A Codemig é fonte de investimento importante para o Estado”
Roberto Brant

“O Ministério da Fazenda entendeu o que é a Codemig e seu tamanho. É um assunto que interessa inclusive por gerar mais arrecadação, dentro da pauta de interesse de Fernando Haddad”, diz o deputado estadual Cleiton Oliveira (PV), autor do projeto de federalização das estatais que acabou assumido pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD).

Oliveira chegou a participar de discussões em Brasília, com a equipe econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a federalização. E disse a Lucas Ferraz e Cibelle Bouça, do Valor ter recebido em seu gabinete na Assembleia Legislativa, só na segunda semana de dezembro, nove representantes diferentes de fundos de investimentos interessados em conhecer a Codemig.

A sociedade da estatal com a CBMM é feita por meio da Companhia Mineradora do Pirocloro de Araxá (Comipa), que opera a exploração de nióbio em Araxá (MG). Metade dela é da empresa pública e a outra metade, da privada. Em 2022, a CBMM assinou um termo de ajustamento de conduta com o Estado que resultou num pagamento de R$ 93,1 milhões em impostos estaduais, referentes ao repasse total de R$ 1,4 bilhão.

Sobre as tratativas para passar o controle da Codemig do Estado para o governo federal, a CBMM afirmou que a “decisão de federalizar ou privatizar é do governo de Minas”. “Independentemente do que ocorrer, os contratos que formalizam a parceria permanecem válidos e vigentes até 2032”, ressaltou a mineradora.

O governo Zema tenta desde o primeiro mandato privatizar estatais, incluindo a Codemig, mas esbarra na falta de apoio na Assembleia Legislativa. Com as dificuldades do governador em resolver o impasse da dívida, coube ao presidente do Senado liderar as tratativas em Brasília.

Rodrigo Pacheco: presidente do Senado assumiu proposta de federalização — Foto: Jonas Pereira/Agência Senado
Rodrigo Pacheco: presidente do Senado assumiu proposta de federalização — Foto: Jonas Pereira/Agência Senado

“É uma receita importante, mas não a utilizamos na lógica do que já foi feito no passado. A Codemig não investe em empreendimentos privados, nem executa obras públicas. O recurso vai para o caixa”, afirmou o vice-governador Mateus Simões (Novo).

O uso da estatal para aliviar a situação fiscal de Minas Gerais e financiar obras foi recorrente no passado. Aécio Neves, por exemplo, construiu a Cidade Administrativa, sede oficial do Executivo estadual inaugurada em 2010, com recursos da Codemig, à época dirigida por um contraparente seu, Oswaldo Borges da Costa.

Conhecido como Oswaldinho, o ex-presidente da Codemig foi investigado pela Lava-Jato por suspeita de desvio de verbas públicas na construção da Cidade Administrativa, mas ele escapou de indiciamento ao completar 71 anos, em 2020, resultando na prescrição dos crimes que respondia. Aécio Neves foi denunciado em 2020 com outras 15 pessoas pelo Ministério Público no mesmo caso.

Em setembro de 2023, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, determinou o arquivamento da investigação e anulou as provas da investigação da Lava-Jato. O entendimento do STF foi de que as delações dos executivos da Odebrecht (atual OEC, do grupo Novonor) são “imprestáveis” e “contaminadas”. Procurado, Aécio Neves informou via assessoria de imprensa que não iria se pronunciar, tendo em vista que o caso foi arquivado.

Entre políticos mineiros, a entrada em cena do tucano nas últimas semanas, articulando contra a federalização das estatais, foi vista como uma tentativa de evitar uma auditoria – que ficaria a cargo do Ministério da Fazenda – nas contas da Codemig que poderia colocá-lo, novamente, na posição de alvo de ataques por parte do PT.

Em novembro, o governo Zema abriu uma série de processos administrativos contra empreiteiras suspeitas de fraude em licitações na construção da Cidade Administrativa. A obra foi orçada em R$ 1,2 bilhão, mas custou ao fim R$ 2 bilhões. Três empreiteiras que assumiram irregularidades na obra – Odebrecht, Construtora OAS (atual Coesa) e Andrade Gutierrez – fizeram acordos de leniência com o Estado no valor total de R$ 374 milhões e se comprometeram a colaborar com as investigações, bem como pagar os prejuízos causados.

O coro dos contrários à federalização em Minas Gerais vai além de Aécio. “A Codemig permite um fluxo de renda e não tem custo nenhum. É uma fonte de investimento importante para o Estado. Abrir mão dela é mais ou menos como vender a própria aposentadoria”, afirmou o economista mineiro e ex-deputado federal Roberto Brant.

As negociações sobre a federalização das estatais devem ser concluídas até abril de 2024. O Supremo Tribunal Federal (STF) prorrogou até 20 de abril o prazo para Minas Gerais aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), para pagar a dívida com a União.

A revisão dos contratos da Codemig e das outras estatais envolvidas está fora de discussão, segundo o deputado Cleiton Oliveira. “A federalização é algo complexo, que demanda tempo. Mas nada será feito para depreciar as empresas”, disse.

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