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domingo 3 de março de 2024 às 19:04h

Com eleição de outubro, Kassab tenta cacifar PSD para 2026

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Presidente do PSD, partido com mais prefeituras do Brasil, Gilberto Kassab vem se movimentando para remar na contramão dos nomes mais importantes da política nacional, Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). O dirigente partidário pretende manter, nas eleições de outubro, a dianteira no número de cidades administradas e avançar no Sudeste, onde concentra o maior número de gestores. Liderando as negociações, Kassab se esforça para manter diálogo com os dois polos e não ficar refém do debate nacional.

O presidente do PSD planeja usar a eleição municipal como trampolim para o partido em 2026. Embora tenha três ministros na Esplanada, Kassab já enviou recados ao presidente Lula sobre a possibilidade de não apoiar seu projeto de reeleição e lançar o governador do Paraná, Ratinho Jr. à Presidência. Em 2022, ele ensaiou uma pré-candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ao Palácio do Planalto, o que não prosperou. O partido acabou ficando neutro nas eleições presidenciais.

Aliados de Lula desconfiam da fidelidade do presidente do PSD. O receio é reforçado pelo fato de Kassab tentar catapultar o ex-ministro de Bolsonaro Tarcísio de Freitas (Republicanos), de quem é aliado e secretário no governo de São Paulo, como principal liderança da direita no país.

No discurso, o PSD busca o caminho do meio, de centro, mas finca um pé em cada lado do espectro político nos estados. A estratégia já provoca reação, como manifestações recentes do próprio Bolsonaro. O ex-presidente avisou que não vai apoiar “ninguém” do “PSD do Kassab”.

Na capital paulista, Kassab já fez afagos ao pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos, mas declarou apoio à recondução de Ricardo Nunes (MDB) à prefeitura. Ao liderar a articulação política de Tarcísio, Kassab é alvo constante de apoiadores do ex-presidente, mas também sofre rejeição de forças de esquerda locais.

Só em São Paulo, a sigla está no comando de 329 prefeituras, 263 a mais do que conquistou na eleição de 2020. A mudança foi o resultado de um processo agressivo de filiação de gestores, com desfalque significativo para o PSDB.

— O partido é a vida dele. O Kassab faz política 24 horas por dia e gosta — diz o ministro da Pesca, indicado pelo PSD, André de Paula.

Segundo dados em mãos dos partidos, hoje há pelo menos 968 prefeituras comandadas pelo PSD, o que coloca a sigla no topo do ranking. No fim do ano passado, Kassab superou o MDB, que passou a ter 838 prefeituras. Procurado, ele disse por meio de sua assessoria que planeja conquistar mais 750 municípios em outubro.

— Kassab é uma pessoa que deixa muito à vontade os diretórios regionais para decidir. Em Manaus, por exemplo, onde o PL (de Bolsonaro) estiver, o PSD não estará — diz um dos vice-presidentes da legenda, o senador Omar Aziz (AM), integrante da base do governo Lula.

No plano nacional, Kassab tem enfatizado a necessidade de Bolsonaro ter a oportunidade de se explicar sobre as acusações de que liderou uma tentativa de golpe de Estado. O presidente do PSD, porém, diz que o ex-presidente não representa a política e, em entrevista recente ao site Brazil Journal, sinalizou que Tarcísio e Lula devem garantir o diálogo entre direita e esquerda.

Contorcionismo

A postura está ligada às dificuldades encontradas no cenário político. Kassab tem deixado claro que Tarcísio seguirá apoiando Bolsonaro, pois seria uma incongruência abandoná-lo. Por outro lado, segue destacando a necessidade de seu partido dar governabilidade à gestão Lula e da importância do vice-presidente, Geraldo Alckmin, para dar à administração federal um rumo mais próximo do centro.

Entre um polo e outro, Kassab tem feito críticas comedidas. Em dezembro, em encontro com o mercado financeiro, afirmou que o governo não vinha trabalhando pelo equilíbrio fiscal, o que esperava que fosse “revisto”:

— A Dilma (Rousseff) quis comandar e economia, não foi bem. E eu tenho receio que não vá bem se o presidente Lula quiser comandar.

Hoje, Kassab também tenta fazer com que o governo embarque ou pelo menos não trabalhe contra a candidatura de Antônio Brito (PSD-BA) à presidência da Câmara. O líder do PSD na Casa tem sido apontado como um dos quatro principais concorrentes.

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