Existe uma convicção na Faria Lima, principal centro financeiro do País, de que os estrangeiros devem aumentar a participação no mercado de capitais brasileiro no ano que vem. Segundo o Broadcast/Estadão, a expectativa é de que sejam metade dos investidores nas ofertas iniciais de ações e aumentem a alocação de recursos em empresas já listadas na B3. Nos dois últimos anos do boom no mercado de ações, eles compraram entre 20% e 30% das ofertas. Sinalizações desse apetite já acontecem este ano, mesmo com indefinições grandes nos cenários macroeconômico externo e interno, sobretudo sobre a política econômica do governo eleito Lula. A bolsa brasileira já recebeu cerca de R$ 100 bilhões em recursos líquidos em 2022, e executivos de grandes bancos esperam por mais ingressos em 2023.
Por temer resgates, fundos fizeram caixa
Os fundos que investem em países emergentes fizeram muito caixa, em preparação à perspectiva de resgates, e à medida que ficar mais clara qual direção o Federal Reserve, o banco central norte-americano, dará ao juro por lá, parte dessa liquidez vem para o Brasil, segundo a co-head do banco de investimento do Goldman Sachs, Cristina Estrada.
“Vai haver uma demanda maior dos investidores internacionais para as Américas versus outras regiões do mundo”, diz ela. Nas Américas, o Brasil será prioridade. Um dos indícios, afirma, é a maior disposição dos investidores internacionais em marcar reuniões com empresas da região, sempre buscando as maiores e aquelas que têm volume maior de transações em bolsa.
Bolsa brasileira segue no positivo enquanto as dos EUA perdem
Além disso, há um cenário no qual as bolsas norte-americanas perdem entre 20% e 30% no ano e a brasileira segue no positivo e ainda mais rentável em dólar, diz o co-head do banco de investimento do Goldman Sachs, Ricardo Bellissi. Ajuda ainda o fato de o País ter muitas empresas relacionadas a áreas que os investidores têm buscado, como commodities, energia limpa, proteínas e infraestrutura. “Em 2022, já teve maior apetite de investidores internacionais, mas não foi disseminado para todos os setores”, afirma Bellissi.
O líder de renda variável para América Latina do Morgan Stanley, Eduardo Mendez, concorda que o Brasil está propenso a receber mais recursos estrangeiros e com o fato de o País ter vantagem relativa a outros emergentes, que atravessam condições pontuais mais desafiadoras, especialmente geopolíticas, como no Leste europeu.
Investidor está mais cauteloso com China e Rússia
Entre os emergentes, tanto a China quanto a Rússia têm tido problemas que deixaram o investidor mais cauteloso com seus mercados. Nessa dinâmica, Mendez diz que o Brasil é a outra economia grande e diversificada, na qual os estrangeiros podem alocar seus recursos.
O Brasil já chegou ao piso na alocação das carteiras dos investidores internacionais e recuperou posições em 2022. Com recursos saindo da China e da Rússia, a fatia voltada ao Brasil retornou para patamares um pouco maiores. Com maior previsibilidade da política econômica de Lula, a tendência é que essa alocação aumente, de acordo com o diretor de um outro banco na Faria Lima. Na América Latina, Chile, Argentina e agora Peru estão com problemas internos que afugenta estrangeiros. “O grande cavalo da região para receber alocação é o Brasil”, afirma.