As condições adversas do mar no leste das paradisíacas Ilhas Canárias, arquipélago espanhol no Oceano Atlântico, dificultaram a interceptação de um cargueiro de bandeira do Togo, procedente do Porto de Santos, no Brasil, na madrugada do último dia 18.
Segundo a coluna de Josmar Jozino, no UOL, após algumas tentativas de abordagem, os agentes da Polícia Nacional, Guarda Civil e Vigilância Aduaneira, em ação conjunta, conseguiram embarcar no navio Blume. Durante minuciosa inspeção, os policiais encontraram 4.500 kg de cocaína avaliados em R$ 700 milhões.
A droga estava escondida em meio a uma carga lícita de 200 toneladas de café. Os agentes prenderam 13 tripulantes paquistaneses e dois albaneses. A embarcação saiu de Santos, no litoral paulista, e tinha como destino Riga, capital da Letônia, considerada uma das mais belas cidades dos países bálticos.
A operação contou também com o apoio do Centro de Inteligência contra o Terrorismo e o Crime Organizado, da Espanha, e o Centro de Análises e Operações do Atlântico, formado por seis países europeus. Os policiais escoltaram o Blume até o porto de Santa Cruz de Tenerife.
Interceptado un carguero con 4.500 kilos de #cocaína al este de #Canarias y detenidos sus 15 tripulantes.https://t.co/7VdZOpDxFx pic.twitter.com/n39bmyR6JY
— Guardia Civil ?? (@guardiacivil) January 20, 2023
Essa foi a segunda grande apreensão de cocaína no Atlântico em navios procedentes de Santos. No último dia 17, policiais encontraram uma tonelada de cocaína em uma embarcação no porto de Savona, na Itália. A droga havia sido colocada no casco do navio por mergulhadores.
Antes de seguir rumo à Itália, o cargueiro chinês Cosco Shipping Honor tinha passado pelos portos de Santos e Paranaguá (PR); Conchilas, no Uruguai, e novamente no porto de Santos. A cocaína foi localizada por agentes da Polícia Alfandegária da Itália.
Maior fornecedor
Agentes da Polícia Federal e da Receita Federal do Brasil investigam se os 4.500 kg de cocaína encontrados no Blume foram exportados à Europa por narcotraficantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) ou ligados à facção criminosa, como integrantes da máfia italiana Ndrangheta ou dos balcãs.
As autoridades brasileiras consideram o PCC o maior fornecedor de cocaína para os países da Europa Ocidental. A facção costuma usar os portos de Santos, Paranaguá, Itajaí (SC), Salvador (BA) e outros do Nordeste para fazer as remessas da droga introduzidas em contêineres.
Os técnicos da receita, porém, acreditam que as 4,5 toneladas de cocaína não saíram do porto de Santos e suspeitam que o transbordo da droga foi feito no meio do Atlântico por tripulantes de outra embarcação. Os agentes analisaram as filmagens na área portuária santista e não notaram nada de estranho.
Para a Procuradoria Antidrogas do Tribunal Nacional da Espanha, o tranbordo é uma prática comum na chamada “Rota Atlântica” da cocaína é muito utilizada por barcos pesqueiros, mercadores e cargueiros procedentes da América do Sul.
Em recente entrevista concedida ao Diário de Notícias, de Portugal, o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), de Presidente Prudente (SP), classificou o PCC como a maior organização criminosa da América do Sul.
Gakiya afirma que a partir de 2010, o PCC começou a comprar cocaína da Bolívia, Colômbia e Peru, por US$ 1,2 mil e enviar para a Europa por 30 mil a 35 mil euros o quilograma. Pelos cálculos do promotor de Justiça, em 2020, a facção criminosa apresentava receita de US$ 500 milhões por ano.