Era pouco antes das 15h da última quinta-feira (26) quando Arthur Lira (PP-AL) recebeu o aviso de que o presidente da República queria conversar. Reunido na residência oficial em Brasília com aliados, o comandante da Câmara tratou de desmarcar o encontro que havia convocado com líderes da Casa e dirigiu-se ao Palácio da Alvorada. Por uma hora e quinze minutos, Lula da Silva (PT) e Lira conversaram a sós, diz Renata Agostini , do jornal O Globo.
O presidente ouviu de Lira, ainda segundo a reportagem, que o encaminhamento das emendas não foi uma decisão tomada por ele individualmente, mas uma solução construída em parceria com o Executivo. Ele deixou claro que agiria para mostrar isso em resposta ao Supremo Tribunal Federal (STF) e que o governo também precisava assumir responsabilidades sobre o tema.
Lira indicou ainda especial preocupação com a entrada da Polícia Federal (PF) no caso. Segundo ele, esse era um descontentamento externado por todos os líderes e com potencial de contaminar a relação do Congresso com o governo. Na avaliação de Lira, era um “exagero” partir para esse caminho.
Lula indicou que entendia o ponto de vista de Lira e da Câmara. O presidente tentou tranquilizar Lira de que não haverá politização do caso e disse que o governo não pretendia agir para persegui-lo. O petista afirmou ainda que não havia conversado com o ministro Flávio Dino, do STF, sobre a decisão do bloqueio das emendas.
O movimento de Lula de pedir o encontro com Lira veio após relatos feitos por seus auxiliares de que o clima estava muito pesado. O presidente da Câmara não escondia a irritação com a decisão de Flávio Dino. Os parlamentares também estariam indignados, pois o ministro já foi um parlamentar.
O jornal diz que Lira dizia não engolir especialmente a atuação da PF no caso e vinha mandando recados por diversos emissários de que isso poderia inviabilizar o restante do mandato de Lula.
A conversa no Alvorada foi, portanto, uma tentativa de colocar água na fervura. Apesar de estar no fim de seu mandato, Lira seguirá um ator influente, lembram auxiliares de Lula. Além disso, a medida do STF questiona a ação dos próprios líderes partidários, entre eles, do sucessor de Lira no comando da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).