sábado 27 de abril de 2024
Foto: Reprodução/PMS
Home / DESTAQUE / Cobrança de IPTU em concessões será analisado pelo Governo Federal
quinta-feira 4 de março de 2021 às 09:53h

Cobrança de IPTU em concessões será analisado pelo Governo Federal

DESTAQUE, NOTÍCIAS


A cobrança é classificada como inconstitucional por concessionárias de ferrovias, rodovias, aeroportos e portos

Iniciativas por parte de Prefeituras que visam cobrar Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) de empresas que administram ativos concedidos pela União entraram na mira do governo federal. Classificada como inconstitucional por concessionárias de ferrovias, rodovias, aeroportos e portos, a cobrança será discutida por um grupo técnico liderado pelo Ministério da Infraestrutura, que vai contar com a participação das três agências reguladoras que estão sob o guarda-chuva da pasta.

Segundo matéria do Estadão, o assunto preocupa empresas que arremataram ativos do governo em formato de concessão desde que algumas Prefeituras resolveram cobrar IPTU desses negócios. O movimento se tornou mais intenso nos últimos três anos, apesar de decisões judiciais terem segurado grande parte desses pagamentos até agora. O tema assusta as concessionárias porque os contratos com o governo federal não preveem esse tipo de custo. Até as primeiras faturas darem as caras, era pacificado que o tributo não pode ser cobrado em razão de uma regra da Constituição. Ela veda a cobrança de determinados tributos de um ente federativo sobre o outro, incluindo o IPTU.

Ou seja, mesmo que o ativo esteja concedido para uma empresa privada, o bem continua sendo do governo federal. Portanto, as concessionárias afirmam que não há como incidir o tributo nesses casos. A Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) é uma das entidades que alertam para o impacto dessa cobrança, caso ela vingue e se espalhe pelo País. São R$ 3 bilhões por ano, metade do que foi investido pelo setor ferroviário no ano passado. “Do ponto de vista econômico, você quebra a concessão e o serviço público”, disse o diretor-executivo da ANTF, Fernando Paes.

Ele classifica iniciativas de prefeituras para cobrar esse tributo como um “perde-perde” generalizado. Para os municípios, o esforço vai resultar numa batalha judicial e uma consequente derrota, segundo ele. A concessionária perde também pelos gastos jurídicos e pelo risco envolvido. E, no limite, se alguma decisão favorece a prefeitura, perderá o próprio serviço público, já que o equilíbrio econômico-financeiro da concessão precisará ser revisto, podendo haver redução de investimentos ou aumento de tarifa.

“Qualquer movimento que onere a prestação de serviço público na área de infraestrutura contribui para agravar o quadro de déficit de investimento no setor”, disse Paes. É a mesma posição da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). “Taxar esses bens faria com que os investimentos em infraestrutura ficassem comprometidos e levaria, ainda, ao aumento de tarifas para os usuários”, comentou o presidente da associação, Marco Aurélio Barcelos.

Apesar de torcerem para que isso não ocorra, se as cobranças de IPTU forem à frente, as concessionárias esperam que o governo federal esteja preparado com uma posição padrão para responder aos desequilíbrios nos contratos. Essas revisões são feitas pelas agências reguladoras. “A criação desse grupo com todas as agências é importante para evoluir e haver segurança jurídica. Estamos falando de valores astronômicos”, disse o presidente-executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini.

Insegurança

Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2018 pavimentou o caminho para essas cobranças. Na ocasião, a Corte autorizou o recolhimento do tributo da Petrobras sobre um espaço arrendado da União no Porto de Santos. Apesar de o tribunal ter discutido mais propriamente se a imunidade tributária se estendia ou não sobre empresas de economia mista, a posição do STF fez o recolhimento encontrar espaço no setor portuário.

Segundo a Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), a cobrança que recai sobre 10 terminais portuários de Santos, entre o que é devido em 2021 e o Refis de anos anteriores, soma R$ 150 milhões. “De fato, essa cobrança inesperada, e já sendo imputada aos terminais portuários, como efeito da decisão do STF, tem onerado os terminais e desincentivado investimentos”, disse o diretor-presidente da ABTP, Jesualdo Silva.

Diante da situação, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) já reconheceu que a incidência de IPTU tem potencial de desequilibrar contratos, cuja revisão precisa ser analisada caso a caso, por sua vez.

Ex-ministro do Planejamento e presidente da Associação Nacional das Empresas Administradoras de Aeroportos (Aneaa), Dyogo Oliveira enxerga como positivo o envolvimento do Executivo na questão. Ele pontuou que o governo tem interesse em discutir o tema porque, ao fim, quem precisará arcar com os custos de eventuais reequilíbrios de contrato é a própria União – que originalmente não pagaria o imposto em razão da imunidade tributária. “Então não faz sentido que haja essa cobrança”, comentou o ex-ministro.

E, apesar de decisões judiciais terem segurado o desembolso do tributo pelos aeroportos, o cenário é de insegurança, já que as empresas precisam prever eventuais perdas futuras em seus balanços, por meio dos passivos contingenciados, lembrou Oliveira.

Veja também

Indústria nacional de aviação vai bem depois de crise na pandemia

Depois de negócio frustrado com a americana Boeing, fabricante Embraer engorda carteira de vendas e …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!
Pular para a barra de ferramentas