O aceno do presidenciável Ciro Gomes (PDT) aos partidos da chamada terceira via nesta semana foi recebido segundo a Folha de São Paulo, com descrença —e sua integração ao grupo que pretende lançar uma candidatura única é vista como difícil.
O pedetista, por sua vez, insiste na aproximação e afirmou à Folha que “em uma mesa de negociação se discute tudo”.
O principal obstáculo apontado pelos demais partidos seria a falta de disposição de Ciro de abrir mão de sua candidatura caso a terceira via opte por outro nome.
Para outras legendas e pré-candidatos que também buscam os votos entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), Ciro teria que sinalizar desprendimento para sentar-se à mesa que hoje reúne União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania (os dois últimos acertaram uma federação).
Na segunda-feira (18), Ciro afirmou que, como Sergio Moro (União Brasil) não é uma opção para a terceira via, ele aceitaria conversar com esse campo.
“O presidente [da União Brasil, Luciano] Bivar, por quem tenho muito apreço, perguntou-me se eu estaria disposto a sentar em uma mesa de negociação. Eu lhe disse que sim, porque não há mais a presença de nenhum inimigo da República”, declarou Ciro à Folha nesta terça (19).
“Acrescento agora: em uma mesa de negociação se discute tudo. Desde que as regras sejam claras e justas”, completou.
Isso porque esses partidos têm um compromisso de apresentar um candidato único até o dia 18 de maio. Com esse objetivo, tanto Simone Tebet (MDB) quanto João Doria (PSDB) já admitiram que podem ficar de fora das urnas em outubro.
Na última quinta (14), a União Brasil (fusão de PSL e DEM) também lançou o nome do presidente do partido, Luciano Bivar, como pré-candidato ao Planalto —sua pré-candidatura é lida por aliados como uma forma de segurar as pretensões presidenciais de Moro.
Entre os partidos da terceira via, Ciro mantém diálogo com a União Brasil e tem a simpatia de ACM Neto, pré-candidato ao Governo da Bahia e secretário-geral da legenda. O presidenciável também se aproximou do PSD, de Gilberto Kassab, que busca uma candidatura própria, mas ainda não apresentou um nome.
“O PSD e o União Brasil são os dois partidos que, ainda não tendo alinhamento, nós temos aprofundado nossa conversa na direção de tentar fazer”, disse Ciro.
Questionado sobre abrir diálogo com os partidos da terceira via, o pedetista relembrou encontro com Bivar e ACM Neto há duas semanas. Na reunião, afirmou, foi consultado sobre a eventual participação em uma “dinâmica de conversa com essas outras pessoas”.
“Eu disse a eles que a mim repugnava a ideia de sentar com um inimigo da República como Sergio Moro. Parece que essa questão está vencida. Portanto, a única restrição que eu fazia está superada, aparentemente”, disse.
Uma definição sobre uma eventual aliança, na avaliação do pré-candidato, deve ficar para julho. “Eles querem ver se eu atravesso o Rubicão [rio que Júlio César ultrapassou, rompendo a determinação que divisões militares ficassem fora de Roma]. Eles querem ver se eu me viabilizo.”
Para Ciro, é preciso haver método nas conversas da terceira via para que não se torne “um acordo de pretendentes a replicar o que está aí”.
No mês passado, Ciro demonstrou resistência em relação à terceira via, chegando a afirmar que Moro e Doria eram “viúvas do Bolsonaro”. “Eu estou em outra”, disse.
A lógica que rege a tentativa de união da terceira via é a estratégia de não pulverizar eleitores num contexto em que Lula e Bolsonaro estão isolados à frente das pesquisas eleitorais.
Segundo levantamento do Datafolha de março, Lula tem 43%, contra 26% de Bolsonaro. Moro aparecia com 8% e Ciro, 6%. Doria chegava a 2%, enquanto Tebet tem 1%. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Estrategistas e dirigentes dos partidos da terceira via dizem acreditar que só há chance de chegar ao segundo turno se houver um nome único que arrebate os eleitores anti-Lula e anti-Bolsonaro.
Em entrevista a uma rádio do Tocantins na noite desta terça, Lula afirmou não acreditar no surgimento de uma terceira via. “Vai ser uma eleição polarizada, mas não temos que ter medo de polarização. Ela existe sempre que tem duas pessoas disputando, dois times jogando, dois países em conflito”, afirmou.
Apoiadores de Doria afirmam, nos bastidores, que Ciro está isolado e, por isso, acenou ao grupo de partidos. Além de diferenças de perfil e nas propostas para a economia, os tucanos questionam se o PDT poderia abrir mão do seu candidato.
Membros do PSDB envolvidos nas negociações apontam ainda que Ciro tem um temperamento difícil e posição ideológica diferente da terceira via —mais à esquerda e menos liberal.
O ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB), que busca ser candidato ao Planalto apesar de ter perdido as prévias para Doria, tampouco pretende mirar uma aliança com Ciro neste momento. Seus esforços têm se concentrado em convencer tucanos e emedebistas da viabilidade de seu nome.
Mesmo integrantes da União Brasil consideram difícil que Ciro participe de costuras da terceira via, justamente por ter rejeitado aproximações anteriores e por ter chegado atrasado na conversa.
A avaliação é a de que Ciro não está disposto a fazer concessões e não sinalizou desprendimento —pelo contrário, se isolou.
De acordo com políticos ouvidos pela Folha, as divergências políticas com Ciro não são intransponíveis dentro da lógica de combater Lula e Bolsonaro, mas Ciro precisaria recuar e atuar como um polo agregador.
Nesta terça, Bivar almoçou em São Paulo com Tebet, pré-candidata do MDB à Presidência.
Em sabatina promovida pela Folha e pelo UOL, a senadora rejeitou a vaga de vice numa eventual chapa que reúna os partidos da chamada terceira via. E a avaliação também é de que Ciro não aceitaria ser vice em uma chapa encabeçada por Tebet.
Uma aliança de Ciro com o MDB é vista como improvável não só dentro do partido presidido por Baleia Rossi, mas também pelo próprio pré-candidato.
Em entrevista em março ao jornalista José Luiz Datena, o pedetista admitiu que a contradição era “muito grande.” “O que eu tenho a ver com Michel Temer?”, questionou.
Já o PSD de Gilberto Kassab mantém a intenção de ter candidatura própria —ou, no limite, se não houver um nome do partido à disputa presidencial, liberar.
A primeira opção da legenda para o Planalto foi o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG). Em março, no entanto, o senador desistiu da candidatura. O PSD tentou, então, atrair o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, que decidiu permanecer no PSDB.