Com o anseio de não atingirem a cláusula de barreira, o PDT e o PSDB têm conversado nos bastidores sobre uma possível federação, tendo em vista as eleições majoritárias de 2026. Na semana passada, lideranças dos dois partidos se reuniram em Fortaleza, capital no Ceará, para discutir o tema. Estiveram presentes o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, o senador Tasso Jereissati (PSDB) e o ex-governador Ciro Gomes (PDT). O encontro ocorreu no apartamento de Jereissati.
Ao jornal O Globo, Perillo confirmou as tratativas:
— Tivemos uma conversa boa em Fortaleza. Perguntei se havia sinal verde para a gente prosseguir nesse diálogo e ambos (Tasso Jereissati e Ciro Gomes) disseram que sim. Portanto, a gente vai continuar conversando e eu vejo boa possibilidade de federarmos com eles.
Atualmente federado com o Cidadania, o presidente nacional do PSDB afirma que o partido deseja ampliar a união e não excluir o aliado.
— O que aconteceria seria uma ampliação da federação, mas o Cidadania pode continuar se quiser e nós temos todo o interesse que continue — diz Marconi Perillo.
Procurado pela reportagem, o presidente do Cidadania, Comte Bittencourt, afirmou que o partido tem uma relação histórica com os trabalhistas, mas que, neste momento, o assunto não será discutido internamente por ter como prioridade as eleições municipais.
O plano se concretizaria apenas em 2025, tendo em vista as eleições para a mesa diretora do Congresso Nacional. No PDT, articuladores também veem com bons olhos uma possível união, que tem o aval do presidente nacional, André Figueiredo, e do presidente licenciado, o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi.
A aproximação entre tucanos e pedetistas não data de hoje. Em 1990, Ciro se elegeu governador do Ceará pelo PSDB, sigla que permaneceu por sete anos. Desde o final de 2023, o ex-governador vem ensaiando uma aliança, marcando presença em eventos tucanos, com discursos repletos de elogios.
Em outubro passado, Ciro compareceu à convenção estadual do PSDB, em um sinal de apoio ao ex-senador tucano Tasso Jereissati:
— O Ceará, Fortaleza, precisa muito de Tasso Jereissati e do PSDB. E contem conosco, contem conosco, porque esse pedaço de PDT que tá aqui não aceita suborno — disse o ex-governador a época.
Nos bastidores, dirigentes também tentar atrair o Podemos para o acordo. Integrantes da sigla, contudo, negam qualquer conversa formal e afirmam terem sido procurados, há meses, apenas por PSDB e Cidadania — que estão atualmente federados e devem continuar em 2026.
Nas eleições de 2022, o PSDB teve o seu pior desempenho ao perder cadeiras na Câmara dos Deputados e deixar de governar São Paulo, após quase trinta anos de hegemonia.
PDT e PSB
O racha na família Ferreira Gomes atrapalhou a federação entre PDT e PSB, que foi articulada por meses no ano passado. Os grupos dos irmãos Cid e Ciro Gomes, contudo, entraram em rota de colisão, o que resultou na desfiliação dos aliados do senador, que migraram para o PSB.
Uma das condições impostas por Cid Gomes antes de deixar o PDT foi a não concretização da federação, já que os grupos discordavam justamente nos rumos partidários. O cerne girava em torno do apoio ao PT: a ala de Cid queria ser base, enquanto a de Ciro oposição, tanto ao governador Elmano de Freitas, quanto ao presidente Lula.
Assim como o PSDB, o PDT saiu enfraquecido das últimas eleições, quando Ciro amargou quarto lugar na corrida à Presidência, com 3% dos votos válidos. A debandada dos cidistas intensificou a problemática, visto que um grupo de quarenta prefeitos já deixou a sigla e deputados estaduais e federais tentam na Justiça o mesmo caminho.