Os biólogos sabem desde os anos 1980 que as plantas se comunicam com suas colegas por meio da emissão de moléculas mensageiras no ar circundante, os compostos orgânicos voláteis (VOCs, na sigla em inglês). Esses recadinhos químicos servem de acordo com Bruno Vaiano, da revista Super, para alertar a vizinhança sobre a aproximação de herbívoros.
Agora, de maneira inédita, um grupo de pesquisadores da Universidade Saitama, no Japão, desenvolveu um método para observar o momento em que as folhas de um vegetal recebem uma mensagem. Os resultados do estudo foram publicados no periódico especializado Nature Communications.
O primeiro passo foi colocar lagartinhas em cima de folhas de tomateiro e de uma planta chamada Arabidopsis thaliana, da família das mostardas. Essas folhas estavam dentro de um cilindro selado, para não deixar o ar escapar.
Conforme os bichinhos almoçavam, as plantas começavam a emitir VOCs. Uma máquina bombeava ar desse recipiente para um outro recipiente, onde havia plantas saudáveis para receber o recado (o aviso é útil porque as folhudas, embora não consigam fugir, podem emitir substâncias que afugentam pequenos herbívoros antes que elas se aproximem).
As duas moléculas mensageiras, conhecidas como Z-3-HAL E-2-HAL, se conectam a certas células na superfície das plantas e desencadeiam um fluxo de íons de cálcio. “Íon” é o nome que os químicos dão para um átomo quando há um desequilíbrio entre a quantidade de elétrons e prótons, que deixa ele com uma carga elétrica.
O cálcio é um mensageiro muito comum em vários seres vivos, inclusive seres humanos. É óbvio que, em condições normais, o fluxo desses íons é invisível. De modo a vê-lo, os pesquisadores modificaram o DNA das plantas para que elas produzissem uma substância que se torna fluorescente ao entrar em contato com os cálcio.
O resultado é o vídeo abaixo, que mostra ondas de cálcio pulsando das extremidades da folha em direção ao caule. O experimento permitiu identificar quais células reagem primeiro à chegada do telegrama químico: são as chamadas células-guarda, cuja função é abrir e fechar os estômatos – orifícios pelos quais a planta libera oxigênio e absorve gás carbônico.
Ou seja: as plantas cheiram mensagens químicas pela mesma estrutura que usam para respirar. Nada muito diferente do que os nossos narizes fazem. Vale dizer que, quando os pesquisadores forçavam a folhosa a fechar seus estômatos, sua capacidade de “cheirar” o aviso de perigo se reduzia um bocado.
Vamos torcer para nenhuma planta de estômatos fechados esquecer o gás do fogão aberto.