Com o anúncio da vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, que também é presidente nacional do PCdoB, como Ministra da Ciência e Tecnologia, as expectativas de quem faz ciência neste país, estão cada vez maiores e direcionadas para os próximos passos.
O setor foi um dos que mais sofreu congelamentos e cortes de recursos durante o governo Bolsonaro. Só este ano, a redução chegou na ordem de R$ 1,7 bilhão, e o orçamento que foi aprovado para 2023 prevê uma queda superior a 21%.
Conforme o novo plano de governo, os segmentos têm um caráter estratégico para o Brasil se transformar mais soberano e desenvolvido, caminhando para a sociedade do conhecimento. E com a chegada de Luciana, que teve uma passagem pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia em Pernambuco na gestão do Governador Eduardo Campos e ex-integrante da comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, as expectativas são ainda maiores.
Em suas redes, Luciana já afirmou que “depois de quatro anos de negacionismo, a ciência vai voltar a ser prioridade no Brasil. E que é uma honra ser escolhida como ministra”. Ela também declarou que esse é um trabalho que assume com muito compromisso e com muita disposição.
A expectativa é que Luciana intensifique o plano do presidente de recompor o sistema nacional de fomento ao desenvolvimento científico. Fomento esse que além de público, aconteceria por meio de fundos de agências estatais, como o FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior).
Frente a essa realidade, a Cientista Biomédica baiana, Mariana Silva, CEO da Planty Beauty e Planty Biotech (startups de biotecnologia e inovação), analisa as propostas para ciência e tecnologia que constam no plano de governo e que estão direcionadas ao uso da inteligência artificial, biotecnologia e nanotecnologia em processos produtivos sofisticados com valor agregado. Propostas que agora estão nas mãos da nova ministra.
De acordo com Mariana, o plano de retomada da ciência é extremamente dependente da aprovação da PEC da transição. “Só com um orçamento definido teremos condições de entender o quanto, em quê e como será o investimento na ciência. Apesar disso, conseguimos ler os sinais. O primeiro sinal evidente é o histórico, o presidente tem grande credibilidade na área da gestão da ciência e a nova ministra já foi Secretária Estadual de Ciência e Tecnologia. Outro sinal se encontra nas diretrizes do programa de governo. Fala-se em “recompor o sistema nacional de fomento do desenvolvimento científico e tecnológico”, explica.
A cientista ainda traz uma reflexão sobre a importância das universidades públicas e a grande potência tecnológica que o Brasil pode se tornar. Ela enxerga um caminho otimista para os próximos anos.
“Ciência de base se faz majoritariamente em universidades públicas, com linhas de pesquisa custeadas por agências de fomento que viram ao longo desses 4 anos, grandes cortes nos seus orçamentos. Essa afirmação é um sinal muito claro da relevância e retomada de um orçamento quase inexistente, porque para o atual governo ‘é fundamental inovar para enfrentar o desafio da transformação tecnológica em curso, ecológica, energética e digital, com políticas de Estado’. Um país não se transforma em uma potência tecnológica sem investimento público e parece que isso é muito claro para o presidente”, comenta Mariana.
Outro ponto importante a ser mencionado são os valores relacionados à conta do Tesouro Nacional. Considerada uma das fontes decisivas para a produção de conhecimento no Brasil, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), teve seus recursos bloqueados nos últimos anos a ponto de ter R$ 35 bilhões parados na conta do Tesouro Nacional.
De acordo com Mariana, o Brasil sempre foi visto como um país do futuro, com um grande potencial, principalmente por conta da sua riqueza natural. Apesar dos últimos anos, o país ter sofrido um enorme desmonte de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da ciência, deixando o Brasil isolado politicamente.
“Espera-se que o comando da pasta tenha capacidade de afirmação narrativa da importância da ciência para nosso país. Um governo que tem histórico de investir de forma consistente no desenvolvimento da ciência no país, já faz com que o mundo queira voltar a dialogar conosco e antigos investidores, retomarem seus investimentos interno e externo com consonância. É uma alavanca para deixarmos de ser potencial e virarmos de fato uma força e liderança efetiva no desenvolvimento científico, principalmente no que diz respeito à biotecnologia”, ressalta Mariana.
Nesse momento, o mundo todo está em busca de ferramentas que ajudem a preservar o planeta. Tudo isso se consolida com um primeiro grande movimento internacional que foi o convite para presidente eleito discursar na COP 27, maior palco de políticas climáticas do mundo, mesmo sem ainda ter tomado posse do cargo.
A frase dita pelo presidente na COP 27, que aconteceu entre os dias 6 e 18 de novembro de 2022 em Sharm El Sheikh, no Egito, chamou a atenção da CEO da Planty. Na frase, Lula dizia que seu governo vai provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem provocar mais mudança climática. E que fará isso explorando com responsabilidade a extraordinária biodiversidade da Amazônia, para a produção de medicamentos e cosméticos, entre outros.
Segundo a biomédica essa frase se alinha ao propósito da Planty Beauty, além de parecer uma proposição dentro da política ambiental do governo. “Aqui na Planty, enxergamos que esse ‘explorar com responsabilidade’ é usando ferramentas da biotecnologia para estudar a biodiversidade e ter na natureza nossa fonte de inspiração e não exploração. O que pavimentou o caminho da Planty rumo a esse futuro mais sustentável foi o investimento em pesquisa de base nas universidades.Todos os cientistas da Planty que trabalham na área de botânica e genética, passaram pela universidade pública. A expectativa também é que aumente linhas de fomento para startups biotecnológicas”, ressalta.
Em 2023, um novo governo surge, junto com ele, o desafio de Luciana recompor o que foi destruído. Investir numa sociedade plural e inclusiva com cidadãos bem informados, capazes de fazer ciência de forma crítica será de grande valia para o país. A ciência é uma grande geradora de informações e ferramentas, saber usá-la à favor da sociedade depende também de quem está fazendo ciência.
“Há também de se refazer o diálogo e de recolocar no trilho o comando de instituições que por vezes foi desvirtuada para atender interesses do governo Bolsonaro, à exemplo do INPE. Dentre os meus desejos mais profundos e longevos, defendo a formalização da profissão cientista, para que trabalhadores da ciência tenham estabilidade para executar um um projeto de país que se debruça em cima de buscar soluções tecnologicamente competitivas e mais sustentáveis. Talvez seja pedir muito para ‘terra arrasada’ que se encontra a pasta da ciência e tecnologia, mas tenho esperança que com uma mulher na liderança, chegaremos lá”, conclui Mariana Silva.