O número de mulheres eleitas para as Câmaras Municipais aumentou em comparação com o pleito de 2020. São aproximadamente 10,6 mil vereadoras, o que equivale a 18,2% do total de vagas em todo o país, contra 16% há quatro anos. A baixa representatividade, apesar da alta recente na quantidade de candidatas vitoriosas, se repete nas cidades com as maiores populações femininas proporcionais: nenhuma delas conta com sequer um terço de parlamentares mulheres, conforme reportagem de Roberto Malfacini sob a supervisão de Cibelle Brito, ambas do jornal O Globo.
Os municípios com maior proporção feminina do Brasil são Santos (SP), Salvador (BA), São Caetano do Sul (SP), Niterói (RJ) e Aracaju (SE). A predominância das eleitoras, porém, não significa uma menor disparidade na composição das casas legislativas.
Santos, localizada no litoral do estado de São Paulo, é a cidade com o maior percentual de mulheres entre seus habitantes. Dos 418.608 moradores, 228.881 (54,68%) são do gênero feminino, segundo o último Censo do IBGE. No entanto, das 21 cadeiras da Câmara Municipal, apenas duas (menos de 10%) serão ocupadas por mulheres, uma a menos do que na legislatura atual. Débora Camilo, do PSOL, garantiu a reeleição, sendo a candidata mais votada, com 8.016 votos. A outra eleita é Renata Bravo (PSD), ex-vice-prefeita e primeira secretária da Mulher da cidade, que obteve 4.359 votos, ficando em sétimo lugar.
Já a capital da Bahia, Salvador, possui atualmente uma população de mais de 2 milhões de habitantes, sendo 1,3 milhão de mulheres (54,4%). A Câmara Municipal é composta por 43 vereadores e, entre os eleitos, apenas oito são mulheres. Destas, seis foram reeleitas: Roberta Caires (PDT), com 16.517 votos; Marta Rodrigues (PT), com 13.840; Débora Santana (PDT), com 13.137; Marcelle Moraes (União), com 9.997; Ireuda Silva (Republicanos), com 9.725; e Cris Correia (PSDB), com 9.130 votos. As novatas são Eliete Paraguassu (PSOL), com 8.479 votos, e Aladilce (PC do B), com 8.514.
Localizada no norte do ABC Paulista, São Caetano do Sul elegeu apenas uma vereadora para a próxima legislatura. Bruna Biondi, a mais votada no município com 5.848 votos, representa a candidatura coletiva “Mulheres Por Mais Direitos”. Reeleita, ela será a única mulher na Câmara Municipal. São Caetano é a terceira cidade do Brasil em maioria feminina, com 84.234 mulheres, o que corresponde a aproximadamente 54,32% dos habitantes.
Em Niterói, cidade do estado do Rio de Janeiro com a maior proporção de mulheres (54,19% da população), apenas duas candidatas garantiram uma vaga na Câmara Municipal. Benny Briolly (PSOL), única mulher da atual legislatura, foi reeleita com 4.801 votos, ocupando o nono lugar entre os mais votados. Fernanda Louback (PL), que obteve 3.503 votos, foi eleita pela distribuição das vagas restantes com base na média de votos do seu partido. O estado do Rio de Janeiro teve a menor proporção de mulheres eleitas vereadoras no país nestas eleições.
Quinto município da lista, Aracaju tem 54,11% de sua população formada por mulheres. Nas eleições de 2024, a capital de Sergipe elegeu quatro candidatas para o Legislativo. Moana Valadares (PL), a mulher mais votada da história da cidade, conquistou 7.216 votos, ficando em terceiro lugar no pleito. Além dela, foram eleitas Professora Sônia Meire (PSOL), com 4.391 votos; Selma França (PSD), com 3.718 votos; e Thannata da Equoterapia (Mobiliza), com 2.271 votos.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Aracaju foi a capital com mais candidatas mulheres disputando a prefeitura, cinco no total. Entre os concorrentes ao segundo turno está Emília Correia (PL), que recebeu 41,62% dos votos. Ela enfrentará Luiz Roberto (PDT).
— O partido tende a investir mais recursos em candidatos que considera com maior probabilidade de vencer — diz Fratini. — O que, em um ambiente majoritariamente masculino, cria uma dinâmica onde as mulheres, muitas vezes, são preteridas.
Para a cientista política, quando as candidatas recebem um apoio adequado, elas têm uma maior condição de se destacar nas campanhas. Ela considera que o sucesso é uma “questão de onde o partido investe energia e recursos”.
— As mulheres enfrentam diferentes formas de violência política, incluindo assédio, onde colegas pedem votos para si em vez de apoiá-las — pontua. — Muitas famílias também não entendem o papel da mulher na política, o que gera um dilema para elas, que precisam escolher entre suas atividades políticas e suas responsabilidades familiares, aumentando a pressão.
Já Flávia Bozza, pesquisadora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj), avalia que há uma “pirâmide de barreiras” dentro dos partidos, o que dificulta a ascensão das mulheres na política. Elas teriam que enfrentar primeiramente a dificuldade para se filiar, depois a de concorrer um cargo, e, o que para Bozza seria o mais difícil, transformar a sua candidatura em uma postulação competitiva.
— A necessidade de se provar competente e enfrentar a violência torna o processo de candidatar-se mais penoso para elas do que para os homens — afirma. — Mulheres enfrentam assédio moral e sexual, precisam se provar constantemente e ainda são vistas como candidaturas “alternativas”, não prioritárias.
— A trajetória política de mulheres mostra o que elas enfrentam no mercado de trabalho. — lembra Bozza. — Quanto mais elas sobem de cargo, mais difícil se torna, pois a relevância das posições aumenta.