Os chineses da State Grid arremataram sozinhos o lote 1 do segundo leilão de transmissão de energia do ano que aconteceu na B3, em São Paulo, nesta sexta-feira (15), registra João Sorima Neto, do O Globo. Foi o maior leilão de transmissão já feito no país, com previsão de investimentos de R$ 21,1 bilhões.
A Receita Anual Permitida máxima (RAP) que foi definida no edital para o lote 1 era de R$ 3,2 bilhões e os chineses ofereceram R$ 1,9 bilhão, deságio de 39,90%.Vencia a disputa que oferecesse o maior desconto.
A RAP é o valor a ser recebido pelas transmissoras pela prestação dos serviços, e esse montante é pago pelos consumidores, uma vez que está embutido na conta de luz.
Também fizeram propostas a Cymi, Construções e Participações e Consórcio Olympus, formado por Aluar e Mercury Investiments.
Eletrobras disputa e perde 3º lote
Já o lote 2 foi vencido pelo Consórcio Olympus, composto por Alupar e Mercury Investiments. O consórcio ofereceu R$ 239,5 milhões, deságio de 47% sobre RAP máxima de R$ 451,9 milhões.
O lote 3 foi o único a ir para a disputa viva-voz entre Celeo Redes Brasil e Eletrobras. Saiu vencedora a Celeo com lance de R$ 101 milhões, deságio de 42,39% em relação à RAP de R$ 175,6 milhões.
Os investimentos que deverão ser feitos pelos vencedores somam R$ 21,7 bilhões, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) , o maior volume já registrado no país em leilões de transmissão. O prazo de concessão é de 30 anos.
Os lotes oferecidos preveem a construção de nove empreendimentos em cinco estados – Goiás, Maranhão, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins. Os prazos de construção variam entre 60 e 72 meses, e a expectativa é de geração de 36,9 mil empregos.
Ao todo, foram licitados 4.471 km em linhas de transmissão para construção, manutenção e operação, sendo 3.007 km de novos linhões e seccionamentos e de 9.840 megawatts (MW) em capacidade de conversão nas subestações.
Tecnologia inovadora
Chamou a atenção neste megaleilão a grande linha de transmissão bipolo em corrente contínua, projeto que sozinho exigirá R$ 18,1 bilhões em investimentos, 83% do total previsto. Especialistas apontavam os chineses da State Grid com maior possibilidade de levar o lote por causa dos elevados investimentos, o que acabou se concretizando.
O bipolo integra o lote 1 que inclui a construção de 1.513 km de novas linhas de transmissão em corrente contínua e manutenção de outros 1.468 km, atravessando três estados (Maranhão, Tocantins e Goiás).
A usina hidrelétrica de Baihetan está equipada com 16 unidades geradoras hidrelétricas, cada uma com capacidade de 1 mil
Para estimular a competição, a Aneel permitiu que o lote 1 pudesse ser arrematado de forma integral ou em quatro sublotes. O prazo de conclusão será de 72 meses, o mais longo já concedido pela Aneel, devido ao porte e à complexidade da obra.
A tecnologia bipolo é nova no Brasil e tem ultra-alta tensão de 800 kV, permitindo o transporte de energia com redução de perdas. No mundo, há apenas quatro fabricantes que oferecem a tecnologia de conversores de corrente contínua em alta tensão, conhecido como “HVDC”.
No Brasil, essa novidade só é utilizada em Belo Monte e operada pela chinesa State Grid num linhão que conecta a hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, ao Rio de Janeiro.
Antes disso, o Brasil utilizava a tensão de 600kV nos sistemas de transmissão em corrente contínua. Como se trata de tecnologia operada por poucos players no país, a expectativa é que menos empresas disputem essse lote, que também demanda alto nível de recursos.
O lote 2 soma 1.102 km de linhas em Goiás, Minas Gerais e São Paulo e demanda investimentos de R$ 2,5 bilhões. O lote 3 tem 388 km de linhas em São Paulo requer investimentos de R$ 1 bilhão.
O leilão levou em conta o critério de deságio, vencendo a empresa que ofereceu o maior desconto sobre a receita anual permitida máxima (RAP) que foi definida no edital para cada contrato. A RAP total é de R$ 3,8 bilhões. As assinaturas com as empresas vencedoras devem ocorrer em março de 2024.
André Fonseca, chefe de M&A da Thymos Energia, avalia que a concessão de novos lotes de transmissão ajudam a melhorar a segurança e confiabilidade do sistema brasileiro, além de expandir a capacidade de escoamento do Nordeste para as demais regiões do país.
Ampliação da capacidade de interligação
Com esse megaleilão, o governo vai ampliar a capacidade da interligação entre as regiões Nordeste e Centro-Oeste do país para escoar os excedentes de energia do Nordeste (caso do lote 1) e expansão das interligações regionais e da capacidade de escoamento de energia da região Norte/Nordeste, que tem vários projetos de geração solar e eólica.
No primeiro leilão de transmissão deste ano, realizado em junho passado, a Aneel licitou 9 lotes que somam R$ 15,7 bilhões em investimentos. Houve sete empresas vencedoras e a disputa foi acirrada na maioria dos lotes, com participação de grandes players do setor elétrico e novos entrantes.