sábado 25 de maio de 2024
Convidado da França fala em um workshop sobre as cargas úteis internacionais transportadas pela Chang'e-6, em Haikou, Província de Hainan, no sul da China, em 3 de maio de 2024. - Foto: Xinhua/Jin Liwang
Home / CURIOSIDADES / China lança Chang’e-6 para coletar amostras do lado oculto da Lua
domingo 5 de maio de 2024 às 13:11h

China lança Chang’e-6 para coletar amostras do lado oculto da Lua

CURIOSIDADES, NOTÍCIAS


A China lançou nesta última sexta-feira (3) a nave espacial Chang’e-6 para coletar e trazer de volta amostras do misterioso lado oculto da Lua, o primeiro empreendimento deste tipo na história da exploração lunar humana.

Um foguete Longa Marcha-5, transportando a espaçonave Chang’e-6, decolou de sua plataforma de lançamento no Campo de Lançamento Espacial de Wenchang, na costa da província insular de Hainan, no sul da China, às 17h27 (horário de Beijing).

Aproximadamente 37 minutos após a decolagem, a espaçonave Chang’e-6 se separou do foguete e entrou em sua órbita planejada de transferência Terra-Lua, que tinha uma altitude de perigeu de 200 quilômetros e uma altitude de apogeu de cerca de 380 mil quilômetros, informou a Administração Espacial Nacional da China (CNSA).

O lançamento da espaçonave Chang’e-6 foi um sucesso total, anunciou a CNSA.

“A coleta e o retorno de amostras do lado oculto da Lua é um feito sem precedentes. Atualmente, sabemos muito pouco sobre o lado oculto da Lua. Se a missão Chang’e-6 conseguir cumprir seu objetivo, ela fornecerá aos cientistas a primeira evidência direta para entender o ambiente e a composição material do lado oculto da Lua, o que é de grande importância”, disse Wu Weiren, acadêmico da Academia Chinesa de Engenharia e projetista-chefe do programa de exploração lunar da China.

“No entanto, a missão é muito difícil e arriscada. Estamos ansiosos pelo seu sucesso”, disse Wu.

A espaçonave Chang’e-6, como sua antecessora Chang’e-5, é composta por um orbitador, um módulo de aterrissagem, um ascensor e um módulo de retorno.

Depois que a espaçonave chegar à Lua, ela fará um pouso suave. Dentro de 48 horas após o pouso, um braço robótico será estendido para coletar rochas e solo da superfície lunar, enquanto uma broca será usada para perfurar o solo. O trabalho de detecção científica será realizado simultaneamente.

Depois que as amostras forem seladas em um recipiente, o ascensor decolará da Lua e se acoplará ao orbitador na órbita lunar. O módulo de retorno então trará as amostras de volta à Terra, para pousar em seguida na Região Autônoma da Mongólia Interior, no norte da China. Toda a missão deve durar cerca de 53 dias, segundo a CNSA.

   As duas faces da Lua

Como o ciclo de revolução da Lua é igual ao seu ciclo de rotação, o mesmo lado está sempre voltado para a Terra. A outra face, a maior parte da qual não pode ser vista da Terra, é chamada de lado distante ou “lado escuro” da Lua. Esse termo não se refere à escuridão visível, mas sim ao mistério que envolve o terreno no geral inexplorado da Lua.

As imagens de sensoriamento remoto mostram que os dois lados da Lua são muito diferentes. O lado próximo é relativamente plano, enquanto o lado distante é densamente pontilhado por crateras de impacto de diferentes tamanhos e tem muito menos mares lunares do que o lado próximo. Os cientistas deduzem que a crosta lunar do lado mais distante é muito mais espessa do que a do lado mais próximo. Mas a razão disso continua sendo um mistério.

Uma cratera de impacto conhecida como bacia Apollo, localizada dentro da Bacia do Polo Sul-Aitken, no lado oculto da Lua, foi escolhida como o principal local de pouso e amostragem para a missão Chang’e-6, de acordo com Wang Qiong, vice-projetista-chefe da missão Chang’e-6.

A colossal Bacia do Polo Sul-Aitken foi formada por uma colisão celestial há mais de 4 bilhões de anos e tem um diâmetro de 2.500 quilômetros, equivalente à distância de Beijing a Hainan, e uma profundidade de cerca de 13 quilômetros. É a maior e mais antiga cratera de impacto na Lua e no sistema solar, e pode fornecer as primeiras informações sobre a Lua, segundo os cientistas.

O enorme impacto da colisão celestial que formou a Bacia do Polo Sul-Aitken pode ter ejetado materiais das profundezas da Lua. Se esses materiais puderem ser coletados e levados à Terra para estudo, eles fornecerão novas informações sobre a história de impacto inicial do sistema solar e a evolução geológica da Lua, disse Zeng Xingguo, cientista dos Observatórios Astronômicos Nacionais da Academia Chinesa de Ciências (CAS).

“Amostras diretas e em primeira mão do lado mais distante da Lua são essenciais para nos dar uma compreensão mais profunda das características e diferenças dos dois lados da Lua e para revelar os segredos da Lua”, disse Zeng.

Mais de 300 quilos de amostras lunares foram recuperados ao longo de 10 missões realizadas pelos Estados Unidos, União Soviética e China, e todas foram coletadas do lado próximo da Lua, disse Yang Wei, pesquisador do Instituto de Geologia e Geofísica, sob a CAS.

“Nossa compreensão da formação e evolução da Lua vem quase inteiramente do estudo de amostras lunares, e este estudo também é necessário para futuras explorações de espaço profundo”, acrescentou Yang.

   Novos desafios

“Toda a missão está repleta de inúmeros desafios, com cada etapa interconectada e estressante”, indicou Wang.

Para realizar a comunicação entre a Terra e a sonda no lado distante da Lua, a China enviou o satélite de retransmissão Queqiao-2, cujo nome significa “ponte de pega-2”, para uma órbita lunar congelada altamente elíptica no início deste ano.

Embora a missão Chang’e-4 tenha realizado o primeiro pouso suave do mundo no lado oculto da Lua em 2019, a Chang’e-6 ainda enfrenta riscos significativos, pois o terreno acidentado do lado oposto da Lua apresenta grandes desafios para o pouso, segundo especialistas espaciais.

A missão Chang’e-6 precisa ver novos avanços tecnológicos em áreas como projeto e controle da órbita retrógrada lunar, amostragem inteligente rápida e decolagem do lado escuro da Lua, manifestou Wang.

O design da sonda Chang’e-6 é semelhante ao da sonda Chang’e-5, que coletou amostras do hemisfério norte do lado próximo da Lua, disse Huang Hao, especialista espacial da China Aerospace Science and Technology Corporation (CASC).

Mas a Chang’e-6 pousará no hemisfério sul do lado oculto da Lua, então a missão usará uma órbita retrógrada lunar para se adaptar à sua tarefa de amostragem, acrescentou Huang.

À medida que o satélite de retransmissão Queqiao-2 orbita a Lua, a sonda Chang’e-6 será incapaz de se comunicar com controladores na Terra por algum tempo durante suas operações no lado oculto da Lua, disse Deng Xiangjin, outro especialista da CASC.

“Conduzimos uma análise abrangente de dados de centenas de experimentos terrestres e usamos inteligência artificial para melhorar o design da espaçonave para melhorar suas habilidades de controle autônomo e melhorar sua eficiência de amostragem”, disse Deng.

“A quantidade de amostras que a Chang’e-6 pode coletar é incerta e não pode ser estimada com precisão no momento. Nossa meta é coletar 2 quilogramas”, revelou Deng.

   Além das fronteiras

A missão Chang’e-6 está transportando quatro cargas úteis desenvolvidas por meio de cooperação internacional, proporcionando mais oportunidades para os cientistas do mundo e mesclando a perícia humana na exploração espacial.

Instrumentos científicos da França, Itália e da Agência Espacial Europeia/Suécia estão a bordo do módulo de pouso da Chang’e-6, enquanto um pequeno satélite do Paquistão está a bordo do orbitador.

Depois que a sonda Chang’e-6 entrar em órbita lunar, o pequeno satélite será liberado para realizar tarefas de captura de imagem em órbita. Um retrorrefletor a laser desenvolvido por cientistas italianos será usado para posicionamento e medição de distância em futuras missões lunares, disse Wang.

Um analisador de íons negativos da superfície lunar desenvolvido pela Agência Espacial Europeia/Suécia será usado para detectar íons negativos e estudar a interação entre o plasma e a superfície lunar. E um instrumento científico desenvolvido por cientistas franceses detectará isótopos de radônio e estudará os mecanismos de transmissão e difusão de compostos voláteis no ambiente lunar, disse Wang.

A China adere aos princípios de ampla consulta, esforços conjuntos e benefícios compartilhados em sua cooperação internacional na exploração lunar e está disposta a se envolver em vários níveis e tipos de cooperação com países e organizações internacionais em todo o mundo, com base na igualdade e benefícios mútuos, disse Ge Ping, vice-diretor do Centro de Exploração Lunar e Engenharia Espacial da CNSA.

A China abriu à comunidade internacional pedidos para emprestar e estudar as amostras lunares obtidas pela missão Chang’e-5 e acolhe cientistas de todo o mundo para participar de seus futuros projetos de exploração lunar e planetária, acrescentou Ge.

Qamarul Islam, professor do Instituto de Tecnologia Espacial do Paquistão, expressou grande apreço pela experiência de colaboração com a China. Ele disse que os países relativamente pequenos que não são capazes de ir ao espaço por conta própria devem ter a oportunidade de fazer alguma pesquisa espacial.

“Estamos muito orgulhosos de fazer parte desta missão histórica”, disse Pierre-Yves Meslin, investigador principal de Detecção de Emissões de Radônio da França, acrescentando que está ansioso para aprofundar a cooperação espacial entre os dois países.

“A própria natureza da exploração espacial nos encoraja a pensar em nosso planeta como um só, e nos encoraja a pensar na humanidade juntos. É absolutamente fundamental para nós continuar nossa jovem jornada no cosmos trabalhando juntos”, disse Neil Melville-Kenney, oficial técnico de Íons Negativos na Superfície Lunar da Agência Espacial Europeia.

Um foguete Longa Marcha-5, transportando a espaçonave Chang’e-6, decola de sua plataforma de lançamento no Campo de Lançamento Espacial de Wenchang, na Província de Hainan, no sul da China, em 3 de maio de 2024. (Xinhua/Guo Cheng)
Foto em infravermelho distante tirada pela câmera do satélite Tiandu-2, em 8 de abril de 2024, mostra a Lua (à esquerda) e a Terra. (Administração Espacial Nacional da China/Divulgação via Xinhua)
Foto tirada pela câmera de suporte de satélite do foguete transportador Longa Marcha-8, em 20 de março de 2024, mostra o satélite de retransmissão Queqiao-2 (C) se separando com sucesso do foguete transportador com sua asa solar e antena desdobradas com sucesso. (Administração Espacial Nacional da China/Divulgação via Xinhua)

Veja também

Polícia Federal encontra delação sigilosa contra Chiquinho Brasão na casa dele

A Polícia Federal (PF) descobriu arquivos de delações premiadas, incluindo uma que permanece sob sigilo, …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!
Pular para a barra de ferramentas