Apresentando suas prioridades à Assembleia Geral, secretário-geral da ONU afirma que operações militares no sul de Gaza agravariam “o pesadelo humanitário” na região; pedindo por paz, ele destacou diversos conflitos e reforçou a necessidade de reforma no Conselho de Segurança e no sistema financeiro global.
Em um discurso marcado por um pedido urgente de paz, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apresentou suas prioridades para 2024 na Assembleia Geral nesta quarta-feira, avaliando que o mundo entrou na “era do caos”.
O chefe da ONU destacou os inúmeros conflitos pelo mundo e expressou preocupação com as possíveis operações militares israelenses na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza.
“Pesadelo humanitário” na Faixa de Gaza
Para Guterres, com a violência se expandindo para o local onde milhares de palestinos já estão “espremidos em busca desesperada por segurança”, o “pesadelo humanitário” se agravaria, com consequências regionais incalculáveis. Ele repetiu seus apelos por um cessar-fogo humanitário e a libertação incondicional dos reféns feitos pelo Hamas durante os ataques de 7 de outubro contra Israel.
Reforçando o posicionamento da ONU sobre a situação no Oriente Médio, Guterres afirmou que os acontecimentos em Gaza deixam “uma ferida purulenta” na consciência coletiva e ameaçam toda a região.
O secretário-geral avalia que nada justifica os ataques terroristas lançados pelo Hamas contra Israel e tampouco há qualquer justificativa para a punição coletiva do povo palestino. Guterres aponta que as operações militares israelenses resultaram em destruição e morte em Gaza em uma escala e velocidade sem paralelo desde que assumiu a liderança das Nações Unidas, em 2017.
O chefe da ONU citou ainda os desafios humanitários e de paz e segurança no Sudão, Ucrânia, República Democrática do Congo, Iêmen e Mianmar.
Reformas no topo da agenda
O chefe da ONU ressaltou a urgência de reformas no Conselho de Segurança e no sistema financeiro internacional. Ele enfatizou a importância da inclusão dos jovens nas tomadas de decisão, assim como a maximização do potencial da tecnologia para abordar desafios globais. Guterres também destacou a necessidade de agilizar a resposta a questões de alcance mundial.
O secretário-geral avaliou que as “fissuras geopolíticas” estão bloqueando o Conselho de Segurança. Ele observa que embora isso não seja uma novidade, a situação atual é particularmente grave e perigosa. Guterres alertou para as consequências desse impasse, descrevendo um cenário de “vale-tudo perigoso e imprevisível, com total impunidade”.
Discurso de ódio na era digital
Guterres afirmou que as comunidades estão divididas pelo aumento do discurso de ódio, da discriminação, do extremismo e das violações dos direitos humanos. Ele avalia que “antissemitismo, fanatismo anti-muçulmano, perseguição de comunidades cristãs minoritárias e ideologia da supremacia branca estão aumentando”.
Com o aumento do autoritarismo e a diminuição do espaço cívico, além de constantes ataques à mídia, ele aponta que a velocidade e o alcance da desinformação e do ódio aumentaram exponencialmente na era digital, com a busca pelo lucro ajudando extremistas a semear a divisão. Além disso, desigualdades, privação econômica e rápidas mudanças sociais e econômicas aumentam o medo.
Guterres afirma que as Nações Unidas estão apoiando esforços para maximizar investimentos em coesão social e priorizar a segurança de cada indivíduo. Ele afirma que a ONU também está pressionando empresas de tecnologia para que assumam sua responsabilidade de parar de ampliar e capitalizar a disseminação de desinformação tóxica e outros conteúdos prejudiciais.
Ele anunciou a publicação de um código de conduta para integridade da informação que deve ajudar tomadores de decisão a tornar o espaço digital inclusivo e mais seguro para todos, ao mesmo tempo em que defende o direito à liberdade de expressão.
Pauta climática
Ao afirmar que a crise climática continua sendo o “desafio definitivo de nosso tempo”, Guterres alerta que os próximos anos são determinantes para limitar o aumento da temperatura global em 1,5ºC. Para ele, a era dos combustíveis fósseis está terminando, com a transição energética se tornando inevitável. No entanto, Guterres afirma que é necessário agir imediatamente para garantir que o processo seja justo para as pessoas e para o planeta, além de rápido o suficiente para evitar uma catástrofe climática total.