As Assembleias Legislativas saíram das urnas em 2022 com um perfil mais conservador do que há quatro anos, replicando nos estados o quadro da polarização nacional e de esvaziamento dos partidos de centro.
O polo formado por partidos como PSDB, PSD e MDB terá menos deputados do que há quatro anos em ao menos 16 das 27 Casas Legislativas dos estados e Distrito Federal.
Embora as legendas de esquerda também tenham ampliado a presença nos estados, quem mais ganhou com as perdas do centro foi o bloco conservador.
A análise tem como base a métrica criada pela Folha para definir ideologicamente os partidos políticos. Nessa régua ideológica, o PCO é o partido mais à esquerda, e o Novo o mais à direita. O PSD ocupa posição central.
Há quatro anos, 11 Assembleias Legislativas tinham a maior bancada formada por partidos de direita. Agora, são 16. Em Rondônia, Amazonas e Roraima, por exemplo, ao menos dois terços dos parlamentares são de legendas conservadoras.
Na próxima legislatura, Roraima será o único estado sem nenhum representante de legendas esquerdistas na Assembleia. Em 2018, foram eleitos três, mas nenhum conseguiu a reeleição.
A Assembleia do Tocantins, por sua vez, foi a que mais se moveu para a direita. Em 2018, a Casa eleita tinha um perfil de centro, mas agora 58% dos deputados estarão em siglas direitistas.
O crescimento foi resultado de uma movimentação de líderes políticos locais para partidos do centrão. Reeleito em primeiro turno, o governador Wanderlei Barbosa migrou para o Republicanos em março e levou consigo parte da bancada. Nas urnas, o partido elegeu 7 dos 24 deputados estaduais.
O avanço direitista aconteceu mesmo em estados governados por partidos de esquerda, caso da Paraíba e da Bahia.
Na Paraíba, que elegeu governadores do PSB nas últimas três eleições, legendas de direita terão 18 das 36 cadeiras na Assembleia.
O resultado, contudo, não deve se refletir em problemas de governabilidade para o próximo governador, que sairá da disputa entre o governador João Azevêdo (PSB) e o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB).
O fiel da balança será o Republicanos, que elegeu 8 deputados estaduais. O partido faz parte da base aliada do governador do PSB, mas também tem bom trânsito com o seu principal opositor nesta eleição.
Na Bahia, onde os partidos de esquerda elegeram 21 dos 63 deputados estaduais, houve uma queda em relação aos 24 eleitos em 2018.
A nova correlação de forças é resultado de uma disputa mais dura entre governo e oposição, com um segundo turno entre Jerônimo Rodrigues (PT) e ACM Neto (União Brasil) —a eleição na Bahia não era decidida em duas rodadas eleitorais desde 1994.
O cenário mais acirrado é oposto ao de 2018, quando o governador Rui Costa (PT) se reelegeu com facilidade no primeiro turno e o bloco governista fez uma maioria folgada no Legislativo estadual.
“O resultado das urnas mostrou uma Assembleia Legislativa muito dividida. Com certeza será um desafio para o próximo governador”, afirma o deputado estadual reeleito Sandro Régis (União Brasil), líder da oposição na Assembleia Legislativa.
As legendas de esquerda fincaram bandeira no Nordeste e o polo terá a maior bancada nas Assembleias de quatro estados da região: Ceará (50% das cadeiras), Maranhão (48%), Pernambuco (45%) e Piauí (40%).
O Piauí foi o estado em que a Assembleia Legislativa mais caminhou para a esquerda nesta eleição. Somente o PT vai ocupar 12 das 30 cadeiras no Legislativo estadual, e a tendência é de uma maioria folgada para o governador eleito Rafael Fonteles (PT).
O deputado estadual reeleito Franzé Silva (PT) diz que a polarização nacional e local impulsionou o voto casado, fazendo com que a esquerda ganhasse mais espaço no Legislativo piauiense.
“Como a liderança de Lula e do [senador eleito] Wellington Dias é marcante no Piauí, os parlamentares dessa base tiveram o reflexo do voto vinculado no time”, avalia.
A concentração partidária no estado também é resultado das novas regras eleitorais, como o fim das coligações nas eleições proporcionais, que tiveram mais impacto em estados menores. No Piauí, apenas cinco partidos terão representação na Assembleia Legislativa.
No Ceará, mesmo correndo em raias distintas após um ruidoso rompimento, PDT e PT elegeram as maiores bancadas com, respectivamente, 13 e 8 deputados estaduais.
Em reunião nesta segunda-feira (10), o PDT indicou que deve fazer parte da base aliada do governador eleito Elmano de Freitas (PT), em uma negociação que foi costurada pelo senador Cid Gomes (PDT).
Em relação à polarização, um caso emblemático é o do Rio Grande do Norte. Há quatro anos, os potiguares elegeram 18 deputados de centro para as 24 cadeiras. Direita e esquerda dividiam igualmente as seis restantes.
Agora, direita e esquerda permanecem igualmente representadas, mas elegeram o dobro de deputados, com seis cada. O centro segue com a maior bancada e é capitaneado pelo PSDB, que mesmo sem candidato ao governo elegeu 9 dos 24 deputados.
Em São Paulo, que já havia dado uma guinada à direita na eleição de 2018, houve um leve arrefecimento da onda na Assembleia. A bancada de partidos de esquerda cresceu de 26 para 29 deputados, enquanto a direita caiu de 45 para 41.
O PT saiu de 10 representantes para 18 na próxima legislatura, desempenho puxado pela votação do ex-senador Eduardo Suplicy, que teve 807 mil votos para deputado estadual.
No Rio de Janeiro, a bancada conservadora se manteve estável, com 50% dos deputados estaduais, mas houve um leve crescimento da esquerda.
Na avaliação da cientista política Luciana Santana, professora da Universidade Federal de Alagoas, o avanço da direita em 2022 mostra que o conservadorismo vem se incorporando aos Legislativos estaduais.
“A gente tem um endireitamento das Assembleias Legislativas, que ficaram mais conservadoras e que podem mudar um pouco da configuração e das políticas públicas que serão aprovadas em âmbito estadual nos próximos anos”, afirma.
O movimento em direção à direita, diz, não é exatamente uma novidade e acontece desde 2014. A diferença, desta vez, é que partidos como PL, PP e Republicanos ganharam maior peso com um alinhamento claro a Bolsonaro, o que resultou em uma reorganização interna do campo conservador.
A métrica da Folha leva em consideração sete quesitos para classificar os partidos como de esquerda, centro ou direita.
São eles: a votação dos deputados da legenda na Câmara, coligações, autodeclaração dos congressistas, frentes parlamentares, opinião de especialistas, migração partidária e o posicionamento no GPS Ideológico da Folha, que se baseia nos seguidores do Twitter (confira aqui a metodologia completa).