sexta-feira 24 de janeiro de 2025
Foto: Beto Barata/Agência Senado
Home / DESTAQUE / Centrão age para retomar controle de órgãos com orçamento de R$ 8,4 bilhões
quinta-feira 13 de abril de 2023 às 05:53h

Centrão age para retomar controle de órgãos com orçamento de R$ 8,4 bilhões

DESTAQUE, NOTÍCIAS, POLÍTICA


Com mais de 150 emendas apresentadas, parlamentares de partidos da base vão usar a Medida Provisória que reorganizou a Esplanada dos Ministérios para tentar ampliar seu controle sobre órgãos do governo. O plano é transferir estatais, diretorias e autarquias — ou suas funções — para pastas comandadas pelas siglas. Somadas, as estruturas cobiçadas pelo grupo concentram orçamento de R$ 8,4 bilhões neste ano. Na prática, caso as mudanças sejam aprovadas, nomes indicados pelo União Brasil, PSD e MDB poderão ter a chave do cofre para direcionar esses recursos, além de mais cargos disponíveis para distribuir entre seus apadrinhados. As informações são de Camila Turtelli e Lauriberto Pompeu, do O Globo.

Após um impasse entre os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a comissão mista que vai analisar a MP da reestruturação do governo foi instalada na terça-feira. Os principais postos do colegiado ficaram justamente com parlamentares de partidos que reivindicam mais espaço na máquina pública. O presidente do grupo é o senador Davi Alcolumbre (União-AP), o relator é o deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), e o vice-presidente é o deputado Marco Bertaiolli (PSD-SP).

aa — Foto: aa

Lobby do ministro

A estratégia para inflar as pastas comandadas por partidos aliados conta até mesmo com o lobby de ministros. Renan Filho, titular dos Transportes, por exemplo, articulou com o líder do seu partido no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), uma emenda para retirar a execução de políticas do setor de hidrovias da alçada do ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB), e passar para seu guarda-chuva. A área tem orçamento previsto de R$ 1 bilhão apenas em 2023.

— O que eu estou defendendo não é reserva de poder, nem de mercado, é questão técnica. O Ministério dos Transportes acha que é mais racional assumir essa responsabilidade porque já faz obras do tipo — afirmou o ministro ao GLOBO.

Segundo Renan Filho, a MP que reorganizou a estrutura dos ministérios foi feita de forma apressada e isso justifica a mudança proposta pela emenda de Braga. Procurado, França não se manifestou sobre a possibilidade de sua pasta perder a área de hidrovias.

Outro alvo dos partidos de centro é a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), extinta por Lula no início do ano. O órgão, que tinha orçamento previsto de R$ 2,9 bilhões, é conhecido pelo loteamento político e, até o governo de Jair Bolsonaro, era dominado pelo PSD.

Uma emenda apresentada pelo senador Efraim Filho (União-PB) prevê que parte de suas funções seja incorporada pelo Ministério da Integração Nacional, comandada por Waldez Góes. O ministro foi uma indicação de Alcolumbre, na cota do União Brasil. Outra parcela ficaria sob responsabilidade do Ministério das Cidades, entregue por Lula a Jader Filho, do MDB.

Em outro movimento, parlamentares do PSD tentam manter tudo como está e apresentaram emendas para barrar a extinção da fundação. Hoje na base aliada, a senadora Daniela Ribeiro (PSD-PB) é uma das que tentam reverter a medida. A mãe dela, Virgínia Velloso, é superintendente da Funasa na Paraíba.

A bancada ruralista, formada por partidos de centro e de direita, também quer usar a MP da reorganização da Esplanada para encorpar o Ministério da Agricultura, chefiado por Carlos Fávaro, senador licenciado do PSD. Eles tentam devolver à pasta o controle da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Os dois órgãos foram transferidos para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, comandado pelo petista Paulo Teixeira.

O argumento de parlamentares para a mudança é que a Conab tem papel fundamental para o agronegócio, com dados de inteligência para as safras e, por isso, deve estar atrelada à Agricultura. O órgão tem previsto um orçamento de R$ 1,8 bilhão em 2023 — o Incra, por sua vez, terá R$ 2,4 bilhões.

Para evitar perder as estruturas, Teixeira propôs que a gestão da Conab, comandada pelo petista Edegar Pretto, seja compartilhada com ruralistas. O ministro afirmou que a diretoria de operações da companhia foi indicada por Fávaro.

— Já há consenso dentro do governo de compartilhar a Conab. A companhia desempenhará papéis para a agricultura familiar e para o agronegócio — afirmou o ministro.

A bancada ruralista ainda tenta retirar do Ministério do Meio Ambiente o Serviço Florestal, responsável pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR), e devolvê-lo à Agricultura, como era no governo anterior.

Em outra frente, o deputado Danilo Forte (União-CE) apresentou emenda que, na prática, esvazia as agências reguladoras e amplia o poder de parlamentares sobre esses órgãos. Atualmente, as agências são responsáveis por criar normas, fiscalizar e julgar seus setores. O texto proposto pelo parlamentar tira a competência regulatória e coloca na mão de conselhos externos, formados por indicações que devem passar pelo Congresso.

A emenda de Danilo tem sido chamada de “jabuti”, jargão legislativo para algo que foge ao tema da MP.

Mudanças ideológicas

Além de tentar ampliar o controle sobre estruturas do governo, parlamentares ruralistas propõem mudanças de cunho ideológico. Emendas apresentadas por parlamentares do MDB e do PP preveem a extinção do inédito Ministério dos Povos Indígenas, criado por Lula no início do ano.

Em nota, a pasta comandada pela ministra Sônia Guajajara critica a intenção dos congressistas e diz que questionar a criação do órgão “é um registro de como os povos originários seguem sendo vítimas de todo o tipo de violência, desde à física ao apagamento social e cultural, como é o sugerido por estas emendas”.

Veja também

Putin diz que reeleição de Trump em 2020 teria evitado guerra na Ucrânia

Numa entrevista ao jornalista Pavel Zarubin, autor do programa “Moscovo. Kremlin. Putin”, no canal de …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!