Cada dia mais, o carro elétrico se “populariza” ao redor do mundo e se mostra uma alternativa para a redução da emissão de gases de efeito estufa advinda do uso de combustíveis fósseis. Mas, segundo reportagem de Lara Moreno, do Vrum, mesmo com a proposta de serem ecológicos, os elétricos ainda enfrentam um paradoxo quanto a emissão de poluentes durante a produção dos carros e das baterias, o que pode gerar ainda mais dúvidas na decisão da compra desse modelo.
Apesar disso, eles são mais silenciosos e suaves, além de mais potentes e com menos necessidade de manutenção. Porém, não é segredo que ainda são comercializados a valores inacessíveis à maior parte da população brasileira, com os modelos mais simples custando a partir de R$ 150 mil. Sem contar a dificuldade de implementação de infraestrutura em relação a postos de carregamento, que também compromete sua maior difusão.
Mas ainda assim, o carro elétrico tem adeptos e interessados, mas muitos ainda trazem a mesma dúvida: será que vale a pena a compra? Afinal, investir uma quantia expressiva em um tipo de veículo ainda em ascensão pode ser um risco ou até mesmo configurar um prejuízo. Por isso, comparamos o compacto Renault Kwid com sua versão elétrica, o Kwid E-Tech, como exemplo para realizarmos alguns cálculos. Assim, queremos te mostrar se, neste caso, realmente vale a pena financeiramente investir no modelo elétrico em detrimento do movido a combustão.
Kwid: carro elétrico e a combustão
Apesar de, em tese, serem o mesmo carro, os modelos se diferem em alguns aspectos que ultrapassam a motorização, a começar pelo valor. A versão a combustão é uma das mais acessíveis atualmente no mercado e custa a partir de R$ 60.990. Enquanto isso, o Kwid E-Tech está disponível a partir de R$ 149.990. Além disso, mesmo que a maior parte das tecnologias e equipamentos abarquem os dois, há algumas somente no carro elétrico, como o sensor de ré e dois airbags a mais que o modelo a combustão.
Ficha técnica:
Renault Kwid | Renault Kwid E-Tech | |
Motor | 1.0 SCe de três cilindros | Elétrico |
Potência | 71cv a 5.500rpm (e)/68cv a 5.500rpm (g) | 65cv entre 4.000rpm e 14.000rpm |
Torque | 10,0kgfm a 4.250rpm (e)/9,4kgfm a 4.250rpm (g) | 11,5kgfm |
Comprimento | 3,68m | 3,73m |
Entre-eixos | 2,42m | 2,42m |
Largura | 1,57m | 1,38m |
Porta-malas | 290 litros | 290 litros |
Bateria | N/D | 26,8kWh |
Autonomia | N/D | 185 quilômetros |
Carregamento do carro elétrico
No caso do carro elétrico, o método usado para o abastecimento é a energia elétrica, com quilowatts hora (kWh). O valor do kWh é variável de acordo com a região e é regulamentado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que faz o cálculo das bandeiras tarifárias segundo fatores como geração, transmissão, distribuição e comercialização. Podem variar entre verde, amarela e vermelha, com alterações no valor segundo condições para geração de eletricidade.
Para fins de cálculo, é preciso considerar alguns fatores, sendo um destes a capacidade da bateria, que, normalmente, varia entre 20kWh e 100kWh nos variados modelos disponíveis no mercado. No caso do Kwid E-Tech, ela é de 26,8kWh. Além disso, a autonomia do carro elétrico é outro fator de grande relevância para se realizar o cálculo, no caso 185 quilômetros. Finalmente, a potência do carregador determina a quantidade de horas necessárias para se completar a carga segundo a energia que consegue transmitir.
Levando esses fatores em consideração, em quanto tempo após ter sua carga completa o Renault Kwid E-Tech precisaria ser carregado novamente? E qual seria o valor necessário para carregá-lo?
Pelos cálculos, ao se considerar os valores fornecidos pela ficha técnica do carro, sabe-se que uma única carga equivale a pouco menos de R$ 20, tendo como base a tarifa média residencial no Brasil de R$ 0,717, R$/kWh, em 11/07/2023. Pensando em um motorista que percorre a média de 12 mil quilômetros anuais, o valor do investimento financeiro para se carregar a bateria do carro elétrico durante todo o ano seria de aproximadamente R$ 1.200.
Mas, e no caso dos carros a combustão, como será que se comparam em relação ao valor de abastecimento anual?
Abastecimento do carro a combustão
O Renault Kwid a combustão já necessita de combustível para seu funcionamento, seja ele gasolina ou etanol. A gasolina, derivada do petróleo e usada em veículos com motores a combustão interna, também tem valor variável de acordo com a região do país, políticas de preços pelos postos e atualizações nos preços pela agência regulamentadora, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Para se calcular os gastos com combustíveis os fatores a serem considerados são a capacidade de litros do tanque, no caso 38 litros no Kwid, a autonomia do carro, que varia segundo o combustível e o tipo de terreno percorrido. Na cidade, o consumo com gasolina, segundo o Inmetro, é de 15,3km/l, e na estrada, 15,7km/l. E, finalmente, o valor do litro da gasolina, que em 07/07/2023 tinha preço médio por litro no Brasil de R$ 5,67.
Assim, o cálculo do valor total necessário para percorrer a distância de 12 mil quilômetros resulta em cerca de R$ 4.450.
Portanto, verifica-se que, comparativamente, é mais caro percorrer a mesma distância com o carro a combustão que com o carro elétrico, em quase quatro vezes.
Mas e considerando o valor dos carros, vale a pena investir no elétrico?
São diversos os fatores usados para se calcular depreciação e gastos com um veículo, tais como manutenção, impostos, combustíveis, seguro, entre outros. Mas, para fins de facilitar e possibilitar uma comparação, alguns dos dados aqui foram desprezados. Tendo isso em vista, ao considerarmos o valor do investimento inicial em cada veículo, sendo o Renault Kwid a combustão R$ 60.990 e o Renault Kwid E-Tech R$ 149.990, e o valor para o abastecimento para percorrer a quilometragem média por ano, cerca de 12 mil quilômetros, conclui-se o seguinte:
Os gastos anuais com abastecimento e carregamento diferem muito, mas o investimento inicial mostra uma distância drástica entre os valores. Para que o carro elétrico valesse a pena financeiramente em relação ao a combustão, seriam mais de 25 anos de uso para que os gastos somente com estes dois fatores considerados se igualassem. E nós sabemos que ninguém, ou quase ninguém, fica com o mesmo veículo por tanto tempo, não é mesmo?
Ou seja, a tecnologia do carro elétrico é empolgante e inovadora, mas ainda tem um longo caminho para garantir sua democratização e para se tornar, de fato, uma realidade plausível para grande parte das pessoas. Mesmo com a crescente popularização e acúmulo de adeptos, a eletrificação da frota tende a demorar.