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sábado 5 de março de 2022 às 16:03h

Candidaturas de vices embaralham projeto de sucessão de governadores em sete estados

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O impasse na candidatura à sucessão na Bahia elevou para sete o número de estados em que aspirações políticas de vice-governadores podem gerar conflito com os planos dos atuais chefes dos Executivos. Ao todo, segundo reportagem do jornal O Globo, em nove estados o segundo na linha de sucessão dá sinais de que testará seu nome nas urnas este ano — há cenários consensuais apenas em São Paulo, com Rodrigo Garcia (PSDB), e no Ceará (PDT), com Izolda Cela. Os problemas ocorrem por divisões na base de governadores ou por rupturas entre vice e governador.

Na Bahia, o entrave tem impacto na corrida presidencial por atrapalhar o palanque do ex-presidente Lula (PT) no estado. O problema veio à tona após o senador Jaques Wagner (PT-BA) anunciar sua desistência de concorrer ao governo estadual. Segundo interlocutores de Wagner, ele já vinha ensaiando a decisão nos últimos meses. O movimento casou com a intenção do governador Rui Costa, também do PT, de se lançar ao Senado, o que exige sua renúncia no início de abril. Com isso, o governo ficará até a eleição a cargo do vice João Leão (PP).

Lideranças petistas, contudo, tentam convencer o senador Otto Alencar (PSD), desalojado por Costa da candidatura ao Senado, a concorrer ao governo — desafio que ele hesita em assumir. Antes de Wagner oficializar sua saída, Alencar chegou a admitir internamente a chance de concorrer a governador. O ex-presidente Lula (PT) também havia indicado o aval para a troca. Porém, em reunião na quinta-feira, Alencar comunicou a Wagner e Costa sua intenção de tentar novo mandato como senador. Pesaram para isso a pressão de alas do PT local para ter um nome do partido na disputa pelo governo e os apelos da cúpula PSD para ele manter sua ideia inicial.

— É claro que Otto tem prioridade, mas não adianta decidir sem negociar com toda a base. Havia uma campanha (de Wagner) que vinha sendo construída há um ano. A indefinição de Otto logicamente traz ainda mais dúvidas – disse a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), que integra a base do governo Costa.

Uma alternativa defendida por aliados de Wagner e de Otto é que o PT apresente nova candidatura ao governo, numa possível chapa com o PP, e que o senador do PSD tente a recondução, como deseja. Nesse caso, Costa precisaria desfazer o plano recém-apresentado de tentar o Senado, e definir se renunciaria ainda assim em favor de Leão, que deseja assumir o governo. Um nome ventilado internamente pelo PT para a sucessão é o do atual secretário estadual de Relações Institucionais, Luiz Caetano, tido como um dos principais aliados de Wagner no governo Costa.

Ex-carlistas

Na quinta-feira, em gesto para atrair o apoio do PP, Alencar fez uma visita a João Leão, que não pode concorrer a vice pela terceira vez, mas pode indicar um correligionário para o posto. A ideia de uma chapa com PSD e PP ainda não foi assimilada por setores do PT, que nesse cenário abriria mão de tentar seguir à frente do quarto maior colégio eleitoral do país.

Alencar e Leão foram aliados do ex-senador Antônio Carlos Magalhães, o ACM, e embora tenham diluído com o passar do tempo o rótulo de “carlistas” não são vistos como nomes ligados à esquerda. Após o encontro de quinta-feira, o deputado federal Cacá Leão (PP-BA), filho do vice-governador, afirmou à rádio “Piatã FM” que condicionou o apoio a Alencar a uma decisão conjunta de seu grupo político, e classificou Wagner como o “maior político do estado depois de ACM, talvez ao lado dele”. O ex-prefeito de Salvador ACM Neto é tido como principal adversário do PT na eleição ao governo este ano.

— João Leão desfruta de nossa confiança, mas o número 11 (do PP) estará muito ligado a Bolsonaro nesta eleição. O número 13 (do PT) será competitivo com Lula, só que Wagner não quer concorrer. Não tenho dúvida da união do grupo, e vejo que Otto e Leão entendem o papel do PT na chapa majoritária. Aqui na Bahia falamos que a base do governo une “azuis e vermelhos”, então não vamos ter uma chapa só com azul —afirma o deputado Afonso Florence (PT-BA).

Leão e Alencar chegaram a disputar no ano passado após embates entre PP e PSD nas eleições municipais, quando o senador acusou o governo estadual de favorecer o partido do vice, e após a disputa pelo comando da assembleia legislativa entre os dois partidos no início de 2021. O PP, que ocupava o posto, acabou dando lugar ao PSD. Interlocutores de ambos os lados, porém, veem esses problemas como pontuais e já superados.

A retomada da carreira política de Alencar, após afastar-se do carlismo, ocorreu em 2010 ao se filiar ao PP para ser vice de Jaques Wagner no governo baiano. Em 2014, quando Alencar disputou o Senado já pelo PSD, e em 2018, a vaga de vice de Rui Costa ficou com Leão.

Conversas em aberto

Há outros estados, como Maranhão e Rio Grande do Sul, em que as aspirações do vice não garantiram aval do grupo governista. No primeiro, Carlos Brandão (PSB) herdará o governo em abril de Flávio Dino, pré-candidato ao Senado, mas há uma disputa entre ele e o senador Weverton da Rocha (PDT), também postulante ao Executivo, pelo apoio do ex-presidente Lula, o que pode ter reflexos na base.

No Rio Grande do Sul, o vice Ranolfo Vieira Jr. se filiou ao PSDB para ser sucessor de Eduardo Leite, e agora avalia uma migração para o PSD para acompanhar um eventual movimento do governador, cotado como presidenciável. Os tucanos, por outro lado, avaliam também nomes como o da prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, para concorrer. Outro partido da base, o MDB, planeja ainda lançar candidato.

No Tocantins e na Paraíba, os vice-governadores Wanderlei Barbosa (PP) e Lígia Feliciano (PDT) romperam com os chefes do Executivo e planejam candidaturas com perfil de oposição. Barbosa atua nos bastidores pelo impeachment do governador afastado Mauro Carlesse, alvo de operação da Polícia Federal no ano passado.

Lígia, que rompeu com João Azevêdo (PSB), negociou uma filiação ao PT, mas esbarrou na pré-candidatura ao Senado do ex-governador Ricardo Coutinho (PT), também desafeto de Azevêdo — o PT, que ainda tem uma ala apoiadora do governador, negocia através de Coutinho espaço para outros partidos na chapa. Nesta semana, a candidatura de Lígia ao governo recebeu o apoio público do presidenciável do PDT, Ciro Gomes.

— Ela mantém sua candidatura, e nós seguimos conversando. Não vejo espaço para ela retornar ao governo, nem para se aliar com outros grupos da oposição — disse Coutinho.

No Amapá, onde também houve rompimento, o vice Jaime Nunes (Pros) ainda mantém em aberto a chance de receber apoio de Waldez Góes (PDT), mas o cenário é tido como remoto, já que o governador não pretende renunciar em abril em favor do vice. Góes deve se alinhar com o senador Davi Alcolumbre (União), que pretende apoiar outro nome ao governo, o ex-prefeito de Macapá Clécio Luís.Com isso, Nunes pode parar no palanque de opositores de Góes e de Alcolumbre, como João Capiberibe (PSB), pré-candidato ao Senado.

No Mato Grosso do Sul, o vice Murilo Zauith (União) pode se alinhar à oposição do sucessor escolhido pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB), o secretário estadual de Infraestrutura Eduardo Riedel (PSDB) – que assumiu a pasta, no início de 2021, no lugar do próprio Zauith. Ele declarou recentemente que mantém diálogos com Riedel e também com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, pré-candidata ao Senado pelo PP, e que aguarda ainda a definição do União Brasil, que lançou a deputada Rose Modesto como pré-candidata ao governo. Por ter virado vice apenas em 2018, Zauith ainda pode concorrer de novo a este cargo.

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