Presidente em exercício do União Brasil, partido com o maior fundo eleitoral e tempo de TV, Antonio Rueda afirma em entrevista ao jornal Valor, que a pré-candidatura de Luciano Bivar ao Palácio do Planalto não está a leilão.
“É uma candidatura para valer, não é ‘fake’ como alguns estão dizendo por aí”, disse ele ao jornal..
Rueda relativizou o desempenho nanico de Bivar nas pesquisas de intenção de voto, argumentando que o correligionário acabou de se lançar na disputa.
Ele argumenta que é normal Bivar não pontuar nas pesquisas de intenção de voto. “Ele lançou agora a candidatura”, diz, acrescentando que não há possibilidade de a convenção partidária derrubar a candidatura própria. “Ele só sai [da disputa] se quiser.”
Ex-integrante da cúpula do PSL, partido que elegeu o presidente Jair Bolsonaro, hoje no PL, Rueda considera um erro a concentração de poderes numa superpasta da Economia. Ele defendeu a recriação do Ministério do Planejamento e o aumento da concorrência no setor de petróleo, como forma de fazer frente à Petrobras. “Se a empresa é rentável, não tem porque vendê-la.”
Rueda revelou que o ex-juiz Sergio Moro prefere disputar o Senado por São Paulo, mas que uma parcela representativa da sigla defende que ele busque uma cadeira na Câmara dos Deputados. Principal articulador das composições estaduais, o presidente em exercício do União Brasil avalia que a sigla tem chances de vencer até 10 das 13 disputas a governo estadual, como Bahia, Goiás e Alagoas. A seguir os principais pontos da entrevista:
Viabilidade da candidatura
“Luciano nunca foi a leilão. O União Brasil tem um protagonismo a nível nacional, em vários Estados. Temos 13 candidatos a governo estadual e 10 disputam na liderança ou em segundo lugar. A bancada do União Brasil deliberou de forma unânime pela candidatura do Luciano. A comissão instituidora também deu aval com unanimidade. Esse consenso obtido pelo União na terceira via nenhum dos partidos conseguiu.”
Alinhamento a Bolsonaro
“Existem pessoas dentro do partido que apoiam Bolsonaro, como também há no MDB, no PSDB. Isso é natural. Essa divergência incipiente não significa que não vamos apoiar Luciano. Temos posição muita clara e linha programática muito distinta da de Bolsonaro. Essa questão da liberdade democrática e do respeito às instituições é muito forte dentro do partido. A gente não consegue comungar com esse ponto do Bolsonaro. A gente não consegue comungar com o negacionismo visto na pandemia.”
Potencial da terceira via
“É fato que hoje há uma polarização, mas há uma fatia relevante dos eleitores que não está satisfeita com esse cenário. Em 2018, há exemplos de governadores que pontuavam mal às vésperas da eleição e venceram as disputas.”
Negociações para alianças
“O União Brasil e o próprio Luciano foram os únicos que promoveram diálogo com todos [da terceira via], inclusive com Ciro [Gomes, do PDT]. Não excluiu nenhum candidato. Em determinado momento, o União entendeu que aquilo [aliança em torno de uma candidatura única com MDB, PSDB e Cidadania] não era real e que tinha outros intuitos políticos. E a gente entendeu que não deveria mais retardar nossa candidatura. O diálogo ainda está aberto para todos, mas a gente lançou a candidatura do Luciano. Se alguém quiser apoiá-lo, vai ser bem recebido. Neste momento, é isso. É uma candidatura para valer, não é ‘fake’ como alguns estão dizendo por aí.”
Impacto da economia na eleição
“A economia vai pesar. As pesquisas mostram que a principal preocupação do brasileiro é renda, é economia. Nesse aspecto, o projeto do Luciano é o mais completo. Ele ficará pronto em menos de 15 dias. Na economia, tem um pilar na questão da simplificação tributária: você aumenta a base arrecadadora e consegue com que todos paguem menos, de forma a conseguir mover a economia.”
CPMF
Rueda nega que a presença do ex-secretário da Receita Federal Marcos Cintra entre os formuladores do programa de governo sinalize o apoio do partido à volta da CPMF. “Não, não tem nada a ver com CPMF. Não vai ter isso no plano de governo.”
Privatizações
“Luciano é um liberal. Ele não é contra ter empresa pública, desde que ela tenha eficiência e condições no mercado. Hoje você tem Correios, mas pode ter o Fedex também. Ele é contra o monopólio.”
Petrobras
“Não quero dizer que ele vai defender a privatização. Ele vai defender a desmonopolização. Se a empresa é rentável, não tem porque vendê-la. Você tem que dar condições de igualdade para que outras empresas também concorram nesse setor. Uma privatização de uma empresa do tamanho da Petrobras tem que ser discutida com o Congresso, com a sociedade civil.”
Teto de gastos
“O Estado tem que ser menor, o teto de gastos tem que ser respeitado.”
Legislação trabalhista
“Divergimos de Lula e achamos que tem que flexibilizar cada vez mais as relações. Seria um retrocesso a gente retroagir num avanço que foi feito no governo Temer. Entendemos que quanto menos o Estado se meter, melhor.”
Superministério da Economia
“Planejamento e Economia tudo junto não funcionou. [Em um eventual governo Bivar], eu não sei se teríamos muito mais ministérios, mas certamente teríamos os ministérios da Economia e do Planejamento apartados.”
Costumes
“O Brasil é um país conservador e a gente vai respeitar o país. A gente não vai trazer a agenda de aborto. Luciano defende a liberdade individual e a liberdade econômica. Ele sempre defendeu isso. Ele respeita as divergências e a liberdade. O aborto? Está fora do nosso plano de governo. A gente não vai defender o aborto.”
Ataques à democracia
“Com a democracia amadurecida que o Brasil alcançou, isso não cabe, isso não tem espaço. Acho que isso atrapalha o Bolsonaro. No momento em que a gente perdeu o alinhamento ideológico com Bolsonaro, Luciano não se furtou em perder o presidente da República. Ele seguiu adiante.”
Sergio Moro
“Foi dito a ele que ele não teria condições de ser candidato à Presidência. Isso está pacificado na cabeça do Moro e na cabeça do partido. Eu vejo duas posições bem desenhadas [para candidatura]: a de senador ou a de deputado federal. Eu não vejo a possibilidade de ele concorrer ao governo de São Paulo”, diz Rueda, reconhecendo que hoje o apresentador José Luiz Datena (PSC) está à frente dos adversários nas pesquisas de intenção de voto para o Senado. “Tem uma ala muito forte do partido que prefere que ele seja candidato a deputado federal e entende que ele seria um dos mais votados do Brasil. A gente tem pesquisas que mostram isso. Para o partido seria uma colaboração imensa ele ser candidato a deputado federal, mas a gente tem conversado com Moro e ele aponta que quer ser candidato ao Senado. A gente tem uma aliança em São Paulo com MDB e PSDB e estamos conversando. Com certeza teremos uma vaga majoritária, não sei se vai ser a de vice-governador ou ao Senado. A palavra final é do Rodrigo Garcia [PSDB], que é o candidato ao governo paulista.”
Metas
“A gente tem uma meta de eleger entre 60 e 70 deputados federais. Queremos ser a maior bancada, mas a gente tem consciência de que a gente deve ficar entre 60 e 70, [o que deve garantir a segunda posição]. Queremos ter entre 9 e 10 senadores após a eleição.”