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Lula (PT) e Bolsonaro (PL), candidatos à Presidência - Marlene Bergamo/Folhapress e Mauro Pimentel/AFP
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segunda-feira 5 de setembro de 2022 às 05:28h

Candidatos usam Lula e Bolsonaro como alavanca em disputas estaduais

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O cenário de voto cristalizado entre eleitores de Luiz Inácio Lula Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na disputa pela Presidência impulsionou a estratégia de voto casado entre candidatos a governador.

Ao contrário de 2018, quando a esquerda foi tímida em se associar a Fernando Haddad (PT), e a direita embarcou na candidatura de Bolsonaro somente na reta final da campanha, os candidatos em 2022 tentam surfar segundo João Pedro Pitombo, da Folha, na popularidade dos presidenciáveis nos estados onde eles têm boa avaliação.

A estratégia é resultado de uma consolidação precoce dos votos na disputa presidencial. Conforme a pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (1º), 76% dos eleitores já sabem em quem vão votar no cenário espontâneo, quando não são mostrados os nomes dos candidatos. Destes, 40% estão com Lula, e 29% com Bolsonaro.

Também há nível alto de convicção no voto de lulistas e bolsonaristas. Entre os eleitores que declaram voto no petista, 83% dizem estar convictos de sua escolha, taxa semelhante aos 84% entre eleitores do presidente.

O cenário contrasta com o das eleições estaduais, onde ainda é grande o número de indecisos e são poucos os eleitores com o nome de seus candidatos na ponta da língua e que se dizem totalmente decididos sobre quem vão votar.

Em São Paulo, por exemplo, 50% dos eleitores não sabem dizer em quem vão votar para governador na pesquisa espontânea, índice que se repete no Rio de Janeiro e é de 48% em Minas Gerais, segundo o Datafolha.

“A eleição presidencial, em geral, é muito mais magnética que a estatual. E, neste ano, a disputa nacional se antecipou, houve uma consolidação das preferências muito mais cedo que o normal”, diz o cientista político Cláudio Couto, professor da FGV-Eaesp.

No caso das eleições para governos estaduais, diz ele, a definição do voto dos eleitores começa a se concretizar mais tarde, tornando as disputas mais imprevisíveis e sujeitas a mudanças nas semanas próximas à eleição.

Nesse cenário, os presidenciáveis assumiram ares de protagonistas no material de campanha, jingles e programas eleitorais de candidatos a governador, sobretudo aqueles menos conhecidos do eleitorado.

Na Bahia, por exemplo, a popularidade de Lula está no centro da estratégia do candidato a governador Jerônimo Rodrigues (PT), que ainda é desconhecido de 59% dos eleitores baianos.

No primeiro programa de TV do petista, o nome do ex-presidente foi citado 18 vezes em pouco mais de três minutos, incluindo um jingle cujo refrão diz: “Lula é Jerônimo e Jerônimo é Lula”.

Os candidatos a deputado federal e estadual do PT são apresentados ao eleitor como o “time de Lula”, estratégia que contrasta com a de 2018, auge do antipetismo, quando os candidatos a deputado foram apresentados como o “time da correria”, em referência ao governador Rui Costa (PT).

A ampla presença de Lula no programa eleitoral de Jerônimo fez com que a oposição acionasse a Justiça Eleitoral, já que a legislação diz que apoiadores só podem ocupar até 25% do tempo do programa.

O cenário se repete em estados como Pernambuco, Paraíba, Amazonas e Rio de Janeiro, onde há ampla presença de Lula, seja em depoimentos gravados, seja em discursos em atos da pré-campanha.

Mesmo nomes conhecidos, caso do senador Eduardo Braga (MDB), que concorre pela quinta vez ao governo do Amazonas, apostam em Lula para atrair eleitores. O emedebista lançou um jingle que diz: “É Dudu cá e Lula lá”.

Em Minas Gerais, o candidato Alexandre Kalil (PSD) também iniciou sua campanha com forte vinculação com o ex-presidente e o mote: “Do lado do Lula, do lado do povo de Minas Gerais”. A estratégia, contudo, ainda não surtiu efeito, e o governador Romeu Zema (Novo) segue com larga vantagem.

A estratégia de voto casado também tem sido usada por aliados de Bolsonaro, mesmo em estados onde o presidente tem índice de rejeição mais alto.

Candidato a governador da Bahia, João Roma (PL) se anuncia como “o único candidato de Bolsonaro” no estado e repete o lema: “Quem vota 22 para Bolsonaro vota 22 para João Roma”.

Mesmo tendo comandado o Ministério da Cidadania na gestão Bolsonaro, Roma ainda é desconhecido por 69% dos eleitores baianos, segundo pesquisa Datafolha divulgada em 24 de agosto.

Por isso, a estratégia de vinculação com a eleição nacional é vista como crucial para que ele saia dos atuais 7%, segundo o Datafolha, e chegue próximo ao patamar de Bolsonaro, que tem 20% das intenções de voto entre os baianos.

Também há forte presença de Bolsonaro nas campanhas de Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato em São Paulo, Carlos Viana (PL), em Minas Gerais, e Fernando Collor (PTB), em Alagoas.

Candidatos sem uma referência competitiva na eleição nacional, por outro lado, buscam esfriar a polarização da eleição presidencial e seus impactos nas campanhas estaduais. Em geral, vendem-se como uma espécie de candidato de unificação e consenso.

É o caso de Rodrigo Garcia (PSDB) em São Paulo, Romeu Zema (Novo) em Minas Gerais e ACM Neto (União Brasil) na Bahia.

Em seus programas de televisão e rádio, Garcia passa ao largo da eleição nacional e se apresenta como um candidato que vai além das disputas partidárias: “Estou aqui para defender São Paulo dessa briga política que só atrasou o Brasil”.

Na Bahia, ACM Neto vai na mesma linha. Em seu primeiro programa, ele destacou que foi prefeito tendo Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Bolsonaro na Presidência.

Ao contrário de seus adversários, tem uma taxa de conhecimento de 92%. Dessa forma, sua campanha está centrada em evitar que potenciais eleitores de Lula que o apoiam migrem para Jerônimo Rodrigues.

O PT critica a estratégia de neutralidade. Ora associa ACM Neto a Bolsonaro, ora diz que o adversário deve descer do muro: “A Bahia tem lado, e não é o do tanto faz”, disse o governador Rui Costa.

O cientista político Cláudio Couto destaca que a decisão de voto nacionalmente nem sempre se reflete nas escolhas nos estados. Mas há momentos em que a vinculação das candidaturas tem mais força.

Foi o caso do pleito de 2018, quando a antipolítica ajudou a criar uma onda em favor de Bolsonaro e aliados desconhecidos, como Romeu Zema, em Minas, Carlos Moisés, em Santa Catarina, e Wilson Witzel, no Rio.

A eleição deste ano, diz Couto, ainda não será convencional, com as disputas nacional e estadual correndo em alas distintas. Mas também não será uma eleição crítica como a de 2018.

“As eleições estaduais começaram agora, ainda estão sujeitas a volatilidade. Mas o efeito da disputa nacional sobre os estados será atenuado”, afirma.

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