Conforme informamos na última semana, o governo da Bahia é o novo dono da fábrica de veículos de Camaçari que pertencia à Ford. É com o governo estadual, portanto, que a montadora chinesa BYD passa a negociar daqui em diante para instalar na região metropolitana de Salvador, uma nova fábrica.
Após a frustrada tentativa de negociação entre Ford e BYD, ao longo de meses, governo baiano e a montadora americana encontraram uma solução legal que permite abrir caminho para a montadora chinesa se instalar na Bahia.
Na sexta-feira (11), a Ford anunciou que fechou com o governo baiano acordo para reversão da propriedade da fábrica, que encerrou atividades em 2021. A montadora americana espera receber pelo imóvel valor de mercado, a ser definido por empresa especializada.
Em comunicado, a BYD informou que segue com o planejamento de investir em Camaçari, “mantendo as negociações necessárias com o governo da Bahia”.
Também por meio de nota, o governo da Bahia confirmou o acordo de reversão da propriedade da fábrica da Ford para a administração estadual, mas não forneceu detalhes. Tampouco explicou que tipo de recursos públicos envolvem a transação.
A história da indústria automobilística no Brasil está repleta de episódios envolvendo o esforço dos governantes para atrair montadoras. A solução encontrada na Bahia agrega um novo capítulo a essa história.
A instalação do grupo chinês no Brasil é um dos acontecimentos mais aguardados segundo reportagem de Marli Olmos, do jornal Valor, não só pelos baianos, que ainda têm a saída da Ford do Estado “entalada na garganta”. Mas também pelo governo federal e todo o setor automotivo.
A BYD anunciou investimento inicial de R$ 3 bilhões para produzir carros e veículos pesados elétricos, além de um centro de pesquisa e produção de minérios, como lítio, essencial para a produção de baterias. A ideia é abrir mil postos de trabalho para produzir 150 mil veículos por ano, inicialmente. A chegada da BYD representa passo importante rumo à eletrificação dos veículos e também muda o cenário de competição entre marcas.
No início de julho, Stella Li, vice-presidente mundial da BYD e presidente da empresa nas Américas, passou uma semana no Brasil para tentar acelerar as negociações para a instalação da fábrica.
Em Brasília, a executiva retribuiu a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizera ao presidente da companhia, Wang Chuanfu, na China, em abril. Em seguida, ela foi para Salvador, onde empresa e governo estadual organizaram um pré-anúncio oficial do investimento.
Como a negociação com a Ford continuava travada quando a executiva visitou o país, o anuncio do investimento foi feito no Farol da Barra, em Salvador. O evento incluiu uma exposição dos veículos da marca, discursos e apresentações musicais de grupos, como Olodum.
Na ocasião, o governador Jerônimo Rodrigues (PT), que em abril também esteve na China e visitou fábricas, prometeu que a unidade fabril da marca chinesa seria em Camaçari, mesmo que não houvesse acordo com a Ford.
Em documento de cooperação já assinado com o Estado, o novo investimento se insere num programa de incentivos que prevê redução de 95% do ICMS até 2032. Há, ainda, negociações para liberação, para o grupo chinês, do porto localizado na Baía de Aratu e que pertencia à Ford.
Falta, no entanto, saber quais incentivos federais estão reservados para o grupo chinês, que chega ao país em meio à discussão, no Congresso, sobre prorrogação de incentivos fiscais para o Nordeste, um programa previsto para terminar no fim de 2025.
Em entrevista ao Valor na ocasião, Li disse que a indústria automobilística passa por “uma importante transição, com muita inovação, o que significa que não há como produzir todos os componentes necessários no país”. Para ela, se uma empresa está comprometida a fazer um investimento “deve receber tratamento especial”.