No inquérito da Polícia Civil que pede o indiciamento de Glaidson Acácio dos Santos, da venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, esposa e sócia de Santos na empresa GAS Consultoria Bitcoin, e de outras 14 pessoas, os investigadores afirmam que o ex-garçom colocou R$ 1 bilhão e 200 milhões na exchange Binance (bolsa global de criptomoedas que fornece uma plataforma para a negociação de mais de 100 moedas criptográficas). Lá ele teria aplicado, nos últimos anos, 4.600 bitcoins, através de sua conta pessoal.
Em seus contratos, Glaidson dizia para os clientes que sua empresa tinha uma conta na plataforma e que as transações eram feitas por lá. No entanto, o dinheiro ia para sua conta pessoal. Quando os investigadores pediram o bloqueio das contas do empresário, eles descobriram que a fortuna já tinha sido retirado e transferida para 182 endereços bancários, na tentativa de ocultar o montante.
Segundo a Polícia Civil, o ex-pastor transferiu parte do dinheiro para paraísos fiscais, o que dificulta mais ainda o rasteiro e a recuperação desses ativos. Nos últimos anos o ex-garçom movimentou R$ 38 bilhões.
– Constatamos que ele fez 182 transações a partir desse aporte de dinheiro, que estava na exchange, com a finalidade de dissimular e lavar esse montante. Ele queria dificultar a recuperação desse dinheiro. Para se ter ideia, a Polícia Federal apreendeu R$ 140 milhões em criptoativos na casa dele. Ele colocou só na Binance R$ 1 bilhão e 700 milhões em criptomoedas. Ou seja, o valor apreendido na residência dele é 1% do que ele colou e retirou da Binance. Identificamos que ele fez manobras para dificultar a apreensão desse dinheiro. Portanto, quando pedimos o bloqueio das contas dele, a conta na Binance já estava fechada – destaca o delegado Leonardo Borges Mendes, titular da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD) da Polícia Civil do Rio, que investiga Glaidson e sua organização.
As informações constam de documento do Núcleo de Operações com Criptoativos (NOC), do Ministério da Justiça, que ajudou a Civil.
Por isso os investigadores sustentam que Glaidson continua recebendo. Investidores estão resgatando dinheiro das contas da empresa normalmente, mesmo com o CEO preso.
Para a Polícia Civil, a GAS Consultória é uma pirâmide financeira. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF), que também investigam o homem e sua organização criminosa, pediriam os bloqueios dos bens do investidor. No entanto, ninguém deixou de receber.
Um empresário, em condição de anonimato, contou que depois da prisão de Glaidson outras pessoas passaram a procurar a empresa para investirem seus rendimentos.
– Tem várias pessoas que investiram e estão recebendo normalmente. Depois que ele foi preso, eu e vários amigos pegamos as parcelas do mês. A prisão dele não mudou em nada. A vida segue normal e muita gente ainda está investindo – relatou ao EXTRA.
– A GAS tá sendo acusada? Tá. Mas, a gente não deixou de receber. Temos que ser justo com eles. Eles não atrasaram o pagamento e até adiantaram depois disso tudo (da prisão do empresário) – conta um técnico de segurança do trabalho de 34 anos, que mora no Jardim Esperança, bairro de periferia de Cabo Frio, e tem R$ 10 mil investido na empresa há anos .
No último mês, em um grupo de mensagens de investidores da GAS Consultória, a empresa afirmou que as “operações seguem a pleno vapor e sem qualquer alteração” e que “a rotina de pagamentos está mantida exatamente como planejada”. O documento diz ainda que “não há registro algum que desabone qualquer atividade da GAS Consultoria ou a conduta”.
Por fim, a empresa pede que seus investidores entrem em um grupo de aplicativo de mensagens instantâneas para receberem de “fonte oficial” os “comunicados oficiais da GAS”. Mais de 26 mil pessoas estão no grupo criado pela empresa.
A PF e o MPF foram questionados sobre os bloqueios dos bens de Glaidson. No entanto, ainda não comentaram. A Justiça Federal também ainda não se pronunciou.
Em uma escuta telefônica autorizada pela justiça, o “corretor de famosos” Michael de Souza Magno – apontado pelos investigadores como operador financeiro do esquema fraudulento de pirâmide montado pelo ex-garçom – comenta sobre uma suposta ocultação de patrimônio de Glaidson, “de modo a evitar medidas de sequestro judicial que suspeitam serem iminentes”.