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Brasil tem 189 GW em projetos de eólicas offshore com pedidos de licenciamento - Foto: Pixabay
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quinta-feira 24 de agosto de 2023 às 17:20h

Brasil precisa agilizar eólicas offshore para não enfrentar gargalo de fornecimento

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A cadeia de fornecedores de eólica offshore terá dificuldades de atender ao crescimento acelerado da demanda mundial nos próximos anos e isso pode impactar o Brasil quando o país começar a tirar as primeiras unidades do papel, dizem especialistas do setor ouvidos por Gabriela Ruddy, do portal epbr.

Segundo eles, é importante que o país comece a dar os sinais de demanda por mão-de-obra e equipamentos para evitar ficar para trás na corrida por acesso aos componentes nessa indústria.

A Wood Mackenzie estima uma necessidade de US$ 27 bilhões em investimentos até 2026 na cadeia global de suprimentos eólicos offshore para atender a demanda dessa indústria ao fim da década atual.

O número tem como base uma expansão anual global de 30 gigawatts na capacidade instalada eólica offshore até 2030. Caso a expansão seja maior e chegue a 80 GW anuais, a consultoria estima que a cadeia de suprimentos necessite de mais de US$ 100 bilhões em investimentos.

Europa prevê gargalo em 2029

No caso da Europa, a demanda por componentes para projetos de geração eólica offshore vai ultrapassar a capacidade de fabricação já em 2029, aponta a Rystad Energy.

A demanda europeia por aço para torres vai somar 1,7 milhão de toneladas em 2029, mas a capacidade instalada da indústria é suficiente para fornecer apenas 70% desse volume, mesmo num cenário sem escassez de matéria-prima.

Para reverter essa tendência, seria necessário começar a expandir a cadeia de suprimento em, no máximo, dois anos, já que leva de dois a três anos para construir uma unidade de fabricação de torres, diz a consultoria.

‘Brasil precisa correr’

“A cadeia produtiva global é restrita e, se todos os países começarem a fazer esses projetos, não vai ser possível migrar para atender a todos, então alguns vão ficar de fora”, diz a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica, Elbia Gannoum, em entrevista à agência epbr.

Para Gannoum, o Brasil precisa dar sinais claros sobre o posicionamento que terá na transição energética para entrar no radar dos fornecedores e garantir acesso aos recursos que serão necessários para desenvolver os projetos. Segundo ela, é fundamental, nesse sentido, a aprovação do marco legal das eólicas offshore no Congresso.

“Estamos num momento de discutir o posicionamento do Brasil na transição energética para a atração de cadeias produtivas. Nesse aspecto, o Brasil precisa correr”, diz a presidente da Abeeolica.

Portos e embarcações preocupam

O tema também está no radar das companhias que anunciaram a intenção de investir em projetos no Brasil.

Durante debate sobre os desafios das eólicas offshore e impactos no setor marítimo organizado pelo consulado britânico esta semana no Rio, o gerente de logística da TotalEnergies, Luiz Picone, afirmou que a falta de preparo dos portos brasileiros e a indisponibilidade de embarcações, helicópteros e profissionais de içamento estão entre as preocupações para o desenvolvimento de projetos no país.

“Estudos mostram que serão necessários 200 novos navios ao custo de US$ 20 bilhões para atingir os objetivos globais de investimentos em eólicas offshore nos próximos anos. Esse cenário é preocupante para os brasileiros. Estamos competindo com o resto do mundo por projetos e se não houver planejamento, nada disso vem pra cá”, disse.

A TotalEnergies já protocolou pedidos de licenciamento no Ibama para três projetos com capacidade de 9 GW.

Expectativa para o leilão

No mercado, a expectativa é que o projeto 576/2021, que trata da geração de energia offshore, seja aprovado no Congresso ainda este ano para viabilizar a realização de um leilão de cessão de áreas para as eólicas offshore em 2024 e de um leilão de energia em 2028. Desse modo, os primeiros projetos no país poderiam entrar em operação em 2030.

Do lado dos fornecedores, a visão é de que vai haver um descompasso global entre o fornecimento e capacidade de produção para projetos de eólicas offshore na segunda metade da atual década. “Vai haver uma capacidade mais limitada do que a demanda”, diz Eduardo Ricotta, presidente da fabricante de turbinas Vestas no Brasil.

O executivo afirma que a aprovação do marco regulatório é o primeiro passo para dar segurança aos fabricantes para investir no país e ampliar a capacidade de fornecimento local para o desenvolvimento dessa indústria. “São investimentos grandes e ninguém vai querer fazê-los se não houver um arcabouço regulatório seguro”, diz.

Demanda previsível

Outro ponto importante para garantir a instalação de uma indústria fornecedora local, segundo o executivo da Vestas, é a previsibilidade e perenidade da demanda. “Para se ter uma indústria instalada, é necessário ter uma frequência de volumes, senão não teremos uma indústria fornecedora forte baseada no Brasil”, afirma.

Um dos pontos críticos na cadeia das eólicas offshore é a disponibilidade de navios para instalação das fundações. Segundo a gerente sênior de desenvolvimento de negócios para transição energética da Subsea 7, Robertha Marques, das 16 embarcações que vão ser necessárias para atender aos projetos já anunciados no mundo em 2030, apenas nove estarão disponíveis no mercado se mantidos os investimentos atuais.

Esse segmento vai demandar também grande número de navios de lançamento de linhas e embarcações de apoio, que são empregados hoje sobretudo no setor de petróleo e gás. Marques explica, no entanto, que esses navios vão precisar ser adaptados para atender ao setor eólico.

“Fazemos muitas dessas atividades hoje com navios da indústria de óleo e gás, mas sabemos que essas embarcações foram feitas para poucos içamentos por ano, de dez a vinte, e na indústria de eólicas offshore estamos falando de até 100 içamentos por ano”, diz.

Para ela, ainda segundo Gabriela Ruddy, do portal epbr, é preciso pensar nessas embarcações como ativos globais. As adaptações nos navios para atender a essa nova indústria, no entanto, apenas vão ocorrer se a indústria tiver previsibilidade, defende. “É possível fazer, mas precisamos de planejamento e visão de longo prazo”, afirma.

Projetos maiores e mais complexos

Além de ser uma indústria nascente no mundo todo, um dos motivos para as dificuldades da indústria fornecedora global em acompanhar a demanda por eólicas offshore é o tamanho dos projetos, maiores do que as usinas terrestres. Dados da Rystad mostram que metade das turbinas instaladas no continente europeu entre 2029 e 2035 vai ter mais de 14 megawatts (MW) de capacidade, aumento em relação à média atual, de 10 MW.

Os projetos estão maiores não apenas em tamanho, mas também em complexidade, dado que estão sendo instaladas cada vez em regiões mais distantes da costa.

“Cada vez as turbinas vão ficar maiores, vamos precisar de barcos maiores, guindastes maiores. A pergunta que tem sido feita na Europa é: teremos barcos para isso?”, afirmou o consultor do ABL Group, Fábio Borda, durante o evento do consulado britânico.

Outro desafio para o desenvolvimento dessa cadeia é a inflação nas commodities nos últimos dois anos, resultado dos choques gerados na economia global por causa da pandemia e da guerra na Ucrânia.

Segundo o vice-presidente de energia e renováveis da Wood Mackenzie, Chris Seiple, vai ser importante desenvolver políticas governamentais para transformar a cadeia de fornecimento das eólicas offshore e capacitá-las para entregar projetos em escala industrial.

“A cadeia de suprimentos está lutando para crescer e pode impedir o atingimento das metas de descarbonização se não houver alguma mudança”, diz.

Risco de ociosidade

Entretanto, existe também preocupação de que uma eventual expansão na capacidade de suprimento agora para atender às primeiras ondas de projetos eólicos offshore leve à ociosidade na próxima década.

O presidente da consultoria PSR, Luiz Barroso, alerta que, para além dos sinais de demanda para a indústria fornecedora, o Brasil precisa estar atento ao custo da energia gerada pelas eólicas offshore, que hoje ainda é maior do que nos projetos terrestres. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, autor do PL da geração offshore, defende que a energia gerada nesses projetos seja usada para a produção de hidrogênio verde.

Barroso acredita que a indústria nacional vai ser capaz de se adaptar à demanda para desenvolver os projetos no país, sobretudo levando em consideração a possibilidade de sinergia e complementaridade com a cadeia de fornecimento com o setor de petróleo e gás instalada no Brasil.

“A fabricação de equipamentos ocorre de forma cíclica e, como a demanda maior no Brasil será só a partir da próxima década, a indústria se reequilibra. O importante é tomar a decisão economicamente correta para não onerar excessivamente a tarifa do consumidor”, diz.

Conteúdo local

Marques, da Subsea 7, lembra ainda que é necessário levar em conta nesse debate o tema do conteúdo local. Segundo ela, a alta demanda por navios para essa indústria representa uma oportunidade para os estaleiros brasileiros, mas é necessário ter atenção para que mecanismos de contratação nacional não inviabilizem os projetos.

“A mensagem que fica é que um excesso de restrições no começo do desenvolvimento de uma indústria pode levar a um aumento de custos”, afirma.

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