ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta segunda-feira (15) em evento com investidores e empresários em Dubai, nos Emirados Árabes, que o Brasil está “crescendo acima da média mundial” – e creditou o suposto resultado ao presidente Jair Bolsonaro.
O fórum de investimentos em Dubai faz parte da programação da viagem oficial de Bolsonaro ao Oriente Médio, iniciada no sábado (13). Até o fim da semana, o presidente também visitará Bahrein e Catar. Segundo o governo, a comitiva busca atrair investimentos internacionais para o Brasil.
“O Brasil foi uma das economias que menos caíram, voltaram mais rápido, criaram mais empregos e estamos crescendo, também, acima da média mundial. Isso, graças à orientação do nosso presidente de não deixar nenhum brasileiro para trás durante a pandemia”, declarou Guedes na abertura do evento Invest in Brasil Forum.
Projeções feitas por economistas dentro e fora do Brasil, no entanto, não confirmam a declaração do ministro.
O país deve fechar 2021 com crescimento entre 4,5% e 5%, a depender da estimativa considerada. A expectativa de crescimento médio mundial oscila em patamar superior, de 5,5% a 6%.
Em setembro, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) destacou a recuperação “muito desigual” da crise de Covid-19 entre os países e informou estimativa de que a economia mundial cresça 5,7% em 2021 e 4,5% em 2022.
Para os dois anos, a estimativa da OCDE é de que o Brasil fique abaixo da média, crescendo 5,2% neste ano e 2,3% no próximo.
Em outubro, foi a vez de o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisar suas projeções de crescimento para os países até o fim de 2022. De acordo com o FMI, a economia global deve registrar alta de 5,9% em 2021 e 4,9% em 2022. Os números, novamente, são superiores ao crescimento projetado pela instituição para o Brasil: 5,2% e 1,5%, respectivamente.
O crescimento projetado pelo FMI para a economia brasileira em 2022 coloca o país, ainda, na última colocação entre as nações do G20. O grupo reúne os 19 países mais ricos do mundo e a União Europeia.
Segundo o levantamento feito pela BBC, com base nas projeções do fundo internacional, o Brasil deve ficar abaixo inclusive do esperado para outros países emergentes, como Rússia (2,9%), Argentina (2,5%) e África do Sul (2,2%).
Crescimento em 2021
No discurso, Guedes chegou a afirmar que a economia brasileira “está crescendo 5,5% esse ano”, sem informar a origem da estimativa.
“A economia está crescendo 5,5% esse ano e já temos contratados, para os próximos anos, mais de US$ 100 bilhões em contratos assinados em ferrovias, gás natural, petróleo, energia elétrica, ferrovias, portos”, disse o ministro da Economia.
O boletim Focus, que reúne as estimativas do mercado financeiro, prevê atualmente que o Brasil fechará o ano com crescimento de 4,93% – a cifra vem caindo, semana após semana, conforme as expectativas são revisadas.
A própria Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia estimou, em boletim divulgado em setembro, que o PIB brasileiro crescerá 5,3% no ano, percentual inferior aos 5,5% citados por Guedes.
A SPE, no entanto, prevê uma inflação oficial de 7,9% no período, bem abaixo dos 9,33% previstos no boletim Focus da última semana.
Não é igual no mundo todo: inflação no Brasil deve fechar ano maior que a de 83% dos países
‘Paraíso para investimentos’
Ainda no evento em Dubai, Guedes afirmou que “espera de braços abertos” os recursos dos emiráticos e que o Brasil vem se tornando um paraíso para investimentos.
“A economia era o paraíso dos rentistas e o inferno dos empreendedores. Agora o Brasil está virando um paraíso para os empreendedores, juros mais baixos, economia mais crescendo mais rápido”, disse.
A declaração, mais uma vez, destoa do cenário atual. A taxa básica de juros, a Selic, abriu 2021 a 2% ao ano, mas em outubro teve a sexta alta consecutiva.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar a Selic de 6,25% para 7,75% ao ano, e as previsões do mercado indicam que a taxa possa superar os 10% em 2022, como parte da estratégia do BC para conter a alta da inflação.