Fundamental para garantir estabilidade à gestão ao longo dos três anos do mandato de Jair Bolsonaro (PL), o apoio dos evangélicos pode se tornar um desafio para o presidente da República em 2022. Ainda que aliados do governo deem como certo o voto desse segmento para a reeleição, eles reconhecem que problemas como a inflação podem afastar o eleitor — inclusive o cristão — do ex-capitão.
Em entrevista a revista Veja, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que a aprovação do nome do pastor presbiteriano André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF) foi um alívio para o governo, pois baixou a tensão com líderes religiosos. Ele reconheceu que uma derrota do nome “terrivelmente evangélico” indicado pelo presidente para a Corte poderia tumultuar a relação do Planalto com o Congresso e dificultar a aprovação de matérias importantes para o Executivo.
“Nem nós tínhamos a dimensão de como era importante a aprovação de Mendonça para o STF. A rejeição do nome poderia iniciar um processo de desgaste do governo em diversas outras pautas, com alguns se aproveitando de um momento de fraqueza. Aconteceu o contrário, uma grande demonstração de força por parte do governo, porque ele cumpriu a promessa de campanha de colocar um evangélico na mais alta Corte do Judiciário brasileiro. Diversas igrejas colocaram os seus membros de joelhos pedindo a Deus pela aprovação”, afirmou Flávio, um dos principais conselheiros do pai.
A aprovação de Mendonça ao STF, no entanto, não alterou a opinião do eleitor. O nome dele foi chancelado pelo Senado em 30 de novembro. Entre os dias 13 e 16 de dezembro, o Datafolha fez uma pesquisa de intenção de votos e constatou que, entre os entrevistados que se dizem evangélicos, 46% responderam que preferem votar em Lula (PT) em um eventual segundo turno, contra 44% em Bolsonaro. Os evangélicos representam 31% do eleitorado, segundo o instituto.
Próximo presidente da frente parlamentar evangélica, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) estima que cerca de 70% dos evangélicos seguem apoiando o presidente. A segunda opção do grupo, segundo ele, seria Sergio Moro (Podemos), e não Lula. “Me nego a acreditar que o Datafolha manipule dados, mas tenho convicção de que a métrica está errada para medir o segmento evangélico”, afirmou Cavalcante.
Pesquisa da Quaest Consultoria, realizada entre 2 e 5 de dezembro, também identificou uma “métrica” desfavorável ao presidente. Segundo o levantamento, a reprovação ao governo Bolsonaro é de 35% entre os evangélicos, e a aprovação de 32%. Não é à toa o esforço de Lula e de Moro para conquistar essa fatia importante do eleitorado.