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domingo 9 de janeiro de 2022 às 11:26h

“Bolsonaro não se sensibiliza com a perda de vidas”, diz Otto Alencar

NOTÍCIAS, POLÍTICA


O decano da CPI da Covid, o senador Otto Alencar (PSD), criticou em entrevista a O Antagonista a postura do governo federal em relação à vacinação infantil.

“Parece que o Brasil nunca teve experiência em vacinação de criança. Parece que nunca se vacinou criança contra as viroses da infância, sarampo, caxumba e poliomielite”, afirmou o parlamentar.

“A vacina está se aplicando no mundo inteiro e o presidente toma uma decisão de não vacinar simplesmente porque ele acha que a vacina vai trazer algum prejuízo às crianças”, declarou Otto.

Otto Alencar foi um dos signatários de um requerimento de convocação para pedir explicações ao ministro Marcelo Queiroga, em comissão do Congresso Nacional, sobre a vacinação infantil e apagão de dados da pasta.

Para Alencar, dependendo das consequências da vacinação infantil, o Congresso poderia reagir aos desmandos no Ministério da Saúde com uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito. “Não tem CPI, mas pode ter. Por que não pode ter? Depende do grau de comprometimento da ação presidencial contra a vida das pessoas”.

Leia os principais trechos da entrevista:

Senador, como o senhor avalia essa resistência de Jair Bolsonaro e do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, à vacinação infantil?

Parece que o Brasil nunca teve experiência em vacinação de criança. Parece que nunca se vacinou criança contra as viroses da infância, sarampo, caxumba, poliomielite… A Covid é uma virose. Um vírus específico. Agora, você não pode postergar isso, sabendo que a criança se contamina e ela contaminada leva para o avô, para o pai e para a mãe. A vacina passou por toda as fases de pesquisa. Não foi o Bolsonaro que decidiu [que a vacina tem eficácia], não foi o próprio ministro da saúde [Marcelo Queiroga]. A vacina está se aplicando no mundo inteiro e o presidente toma uma decisão de não vacinar simplesmente porque ele acha que a vacina vai trazer algum prejuízo às crianças. Ele acha. Ele não sentou em um banco de universidade, ele não tem informação na área da saúde e, o que é pior de tudo, o ministro da Saúde aceita isso e incorpora esse tipo de decisão ao currículo dele, que é um currículo substancial e respeitado.

 O presidente tem relativizado o número de mortes de crianças para tomar essa decisão. Como o senhor analisa isso?

O número de perdas de vidas eu considero alto, embora o Ministério da Saúde e os auxiliares do presidente da República banalizaram a vida. Perder 620 mil pessoas e achar que não está perdendo nada, é banalizar a vida. Eu rejeito isso. Não só como ser humano, mas como profissional da área de saúde. Para nós médicos, a perda da vida humana é algo muito doloroso. O presidente não se sensibiliza com isso. Ele não toma conhecimento, como também não tomou conhecimento das enchentes aqui na Bahia.

E o que pode ser feito a partir de agora para tentar garantir a vacinação infantil?

Já apresentamos um requerimento de convocação do ministro da Saúde para debater o assunto. Não é para criticá-lo, mas para entender porque ele rejeita a ciência e a orientação científica. E por que dos ataques à Anvisa, chegando ao ponto de duvidar da honra e da honestidade dos membros da Anvisa, que são pessoas respeitadas no Brasil, conceituadas, de achar que elas tiveram algum interesse em liberar a vacinação. Será que as vacinas, que evitaram tantas mortes no Brasil – hoje são vinte e três doenças no Brasil que são redutíveis ou evitadas por vacina –, houve algum tipo de interesse? Teve alguém envolvido nisso? Eu que faço aqui o meu protesto e respeito e considero muito todos esses profissionais que estão trabalhando na Anvisa.

Senador, algo que ficou muito claro no ano passado é que o presidente adotou ações para conter a pandemia quando a CPI estava funcionando. E agora, qual instrumento pode ser adotado?

Não tem CPI, mas pode ter. Por que não pode ter? Depende do grau de comprometimento da ação presidencial contra a vida das pessoas. E o Congresso pode reagir. As duas Casas podem reagir. Estamos em recesso e essa pausa nos tira o poder de fala da tribuna ou das comissões.  Agora, o que tem que se mostrar ao presidente é uma coisa chamada ciência. Ele permitiu na casa dele a vacinação de sua esposa, ele permitiu a vacinação da senhora sua mãe. Na casa dele ele teve vacina. Agora, ele quer negar a vacina? E vai negar que a vacinação é eficiente para as crianças? A vacinação é eficiente para as crianças. Tanto para as crianças quanto para os adultos. É importante mostrar isso com clareza. E talvez essa ida do ministro Queiroga possa see chegar ao porquê, qual o conhecimento, qual a prova que ele tem que há risco de se aplicar a vacina para as crianças. Não é só ser contra. Mas é ser contra por quê? Qual é a prova que ele tem que pode dar problema [a vacina para as crianças]? Qual foi a criança que teve problema? Ele tem que ter prova.

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