O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) escolheu um local sugestivo para anunciar, nesta última quarta-feira (19), a retirada da pré-candidatura de Gustavo Gayer à prefeitura de Goiânia: a Avenida 44. Um dos pontos mais movimentados da capital goiana, o logradouro carrega justamente o número do União Brasil, partido do governador Ronaldo Caiado, que articula a candidatura de um colega de sigla à prefeitura. De olho no voto bolsonarista para se lançar à Presidência em 2026, Caiado se movimenta para atrair o apoio do PL já na disputa municipal, embora a legenda bolsonarista insista no discurso de candidatura própria.
Em seu discurso nesta quarta, na capital goiana, Bolsonaro argumentou que a candidatura de Gayer não seria “oportuna”, e que o deputado seria uma presença importante para o bolsonarismo no Congresso Nacional.
O ex-presidente usou raciocínio semelhante no ano passado para vetar a candidatura de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, à prefeitura do Rio – o deputado Alexandre Ramagem acabou escolhido pelo PL para concorrer.
Outra intervenção de Bolsonaro ocorreu em Belo Horizonte, onde o ex-presidente chancelou a pré-candidatura do deputado estadual Bruno Engler à prefeitura. Engler sempre foi tido como nome natural pela ala bolsonarista do PL, mas aliados sugeriram a candidatura do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), nome que tem maior apreço, por exemplo, por parte do governador Romeu Zema (Novo).
No caso de Goiânia, a candidatura de Gayer havia se tornado empecilho para qualquer chance de aliança entre Bolsonaro e Caiado nas eleições municipais. O governador, que já trabalha para eleger seu vice, Daniel Vilella (MDB), como sucessor no Executivo estadual em 2026, evitou se vincular a Gayer, considerado um dos expoentes mais radicais do bolsonarismo na Câmara.
Caiado, já tratado pelo União Brasil como pré-candidato ao Palácio do Planalto, busca atrair tanto o eleitor bolsonarista – diante da inelegibilidade de Bolsonaro –, quanto um voto mais moderado de centro-direita. O governador de Goiás filiou ao União Brasil o ex-deputado Sandro Mabel, que presidia a Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), e o lançou como seu pré-candidato na capital goiana.
Interlocutores do governador avaliam que seu esforço para emplacar um aliado na prefeitura de Goiânia faz parte da estratégia de olho no Planalto. Além de querer formar um palanque competitivo na capital, Caiado tenta evitar, segundo aliados, um hipotético triunfo do PT, partido do presidente Lula, em seu “quintal”. A pré-candidata petista, Adriana Accorsi, é delegada da Polícia Civil e busca disputar a bandeira da segurança pública com candidaturas mais à direita.
Até aqui, as pré-candidaturas do próprio Gayer, agora retirada, e a do senador Vandelan Cardoso (PSD-GO) eram tidas como principais obstáculos para Mabel, o nome escolhido pelo governador. Vanderlan, que chegou a ser apoiado por Caiado na eleição à prefeitura de Goiânia em 2020, é tido como um nome com penetração no eleitorado evangélico e de centro-direita.
A esposa de Vandelan, Izaura Cardoso (PSD-GO), é suplente do senador Wilder Morais (PL), que dirige o partido de Bolsonaro no estado. Morais planeja concorrer ao governo em 2026 contra Vilella. O atual vice-governador é filho de Maguito Vilella, ex-prefeito de Goiânia que faleceu em 2021, vítima da Covid-19. O então vice-prefeito Rogério Cruz (Solidariedade) herdou a cadeira e tentará a reeleição, mas faz uma gestão criticada até por aliados.
— O PL é um partido grande, então é natural que tenha candidato. O PT deve tentar polarizar a eleição, e historicamente os governadores têm dificuldade para eleger um nome em Goiânia. Tudo indica que será uma eleição de dois turnos, e estou procurado me manter aberto ao diálogo com todos que queiram dialogar — afirmou Vandelan ao jornal Globo.
Aliados de Bolsonaro vêm garantindo que o PL terá candidatura própria não só na capital, mas também nas principais cidades goianas, como Aparecida de Goiânia e Anápolis — locais por onde o ex-presidente também passou, nesta semana, para ungir nomes de correligionários. O jornal publicou, no entanto, que a mudança de candidatura na capital pegou de surpresa até o grupo mais próximo ao ex-presidente. No lugar de Gayer, Bolsonaro lançou o ex-deputado Fred Rodrigues (PL), que estava cotado para concorrer como vice-prefeito na chapa bolsonarista.
Rodrigues teve o mandato cassado por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2023, por falta de prestação de contas na última eleição municipal. A pré-candidatura tende a ser questionada judicialmente por outras chapas, devido a entendimentos de que a cassação tornaria Rodrigues inelegível para a disputa deste ano.