A aproximação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para enfrentar a tragédia das chuvas no litoral paulista dividiu o campo bolsonarista. Aliados políticos de direita saíram em defesa do governador, enquanto a militância incomodada apostou no diversionismo nas redes sociais e trouxe outros temas à tona, como o valor repassado pelo governo federal para auxiliar as vítimas do temporal.
Segundo Gustavo Schmitt e Guilherme Caetano, do O Globo, o entorno de Tarcísio reconhece que os encontros com petistas causam mal- estar na militância. Um aliado do governador afirma que precisou atuar junto à base para refrear as críticas às reuniões com Lula em Brasília, em janeiro, após os ataques às sedes dos três Poderes. Na ocasião, o presidente havia convocado todos os governadores à capital para manifestar união contra a ação golpista. Bolsonaristas de São Paulo reclamaram do encontro, contam interlocutores do governador.
Um dos nomes mais próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro, Gilson Machado — ex-ministro do Turismo e ex-presidente da Embratur — não escondeu a irritação ao ser questionado sobre a parceria dos governos Lula e Tarcísio:
— A solidariedade com as vítimas está acima de qualquer palanque político recheado de lindas palavras e rasgação inoportuna de seda. O governo federal foi muito tímido no aporte de recursos.
Por outro lado, o deputado federal e ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP) contemporizou:
— Esse alinhamento em momento de tragédia é correto. Tem que deixar politicagem de lado e unir esforços pelas pessoas atingidas.
Da ala ideológica, a deputada Carla Zambelli (PL-SP)tem adotado tom semelhante a Salles e feito postagens em defesa de Tarcísio nas redes sociais.
Em outra frente, bolsonaristas centram fogo também no valor de R$ 2 milhões anunciado pelo ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB), para ajudar as vítimas do temporal. O governo Bolsonaro, no entanto, havia deixado apenas R$ 25 mil destinados à prevenção e combate de enchentes no fim de 2022 — verba que foi aumentada com a aprovação da PEC Emergencial. A presença da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, no carnaval de Salvador, também foi usada para desviar a atenção da atuação conjunta de Tarcísio e Lula.
Reservadamente, políticos da extrema-direita afirmam que a estratégia é tirar o foco da foto entre Lula e Tarcísio, amplamente compartilhada por petistas, que também viram uma oportunidade de demarcar diferenças com Bolsonaro, que foi criticado ao dizer que esperava “não ter que retornar antes” das férias em Santa Catarina por causa das chuvas na Bahia no fim de 2021.
Mudança de lado
Antes bolsonarista, o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto, cujo município é o mais atingido pelas chuvas, elogiou a postura de Tarcísio — em paralelo, tem aproveitado para se aproximar cada vez mais de Lula de olho no apoio federal para obras no município. No segundo turno da eleição, o prefeito pediu votos para Bolsonaro, a quem manifestou apoio nas redes sociais. Ontem, Augusto disse ao GLOBO que ficou neutro no segundo turno do pleito.
— Tarcísio está certo. É hora de olhar para frente. Eu tenho falado diretamente com Lula, e minha simpatia só aumenta a cada dia — disse o prefeito, que postou uma foto abraçado ao presidente.