A invasão bolsonarista do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal, neste último domingo (8), além de um rastro de destruição, deixará também conforme Leonardo Sakamoto, do UOL, boletins de ocorrência por roubo de patrimônio. Ironicamente, parte dos terroristas cantava “Lula ladrão, seu lugar é na prisão”.
Apesar de as assessorias dos três órgãos informarem que ainda não há um inventário de tudo o que foi levado, é possível afirmar que a extrema direita realizou um butim.
O plenário do @STF_oficial completamente destruído por terroristas a mando do Bolsonaro pic.twitter.com/NiU076FhWY
— George Marques ?? (@GeorgMarques) January 8, 2023
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, afirmou que armas e munição foram roubadas do Planalto. Presentes oficiais de chefes de Estado e delegações estrangeiras desapareceram do Congresso Nacional. Obras de arte foram subtraídas da Câmara dos Deputados. Levaram até uma réplica do documento original da Constituição Federal de 1988 do STF.
Documentos, mobília, equipamentos eletrônicos e alimentos acabaram sendo furtados nas três casas. Vídeos gravados durante a invasão mostram bolsonaristas carregando objetos para fora dos prédios.
Como cansamos de repetir desde o início do governo Jair Bolsonaro, a questão nunca foi a honestidade ou o respeito ao bem público ou às regras morais e religiosas. Tanto que os terroristas bolsonaristas não pensaram duas vezes antes de impor um enorme prejuízo à República neste domingo. E antes de roubar – o que é proibido pelos Dez Mandamentos (livro de Êxodo 20:15).
Caso contrário, os terroristas não seguiriam o Patriarca das Rachadinhas, o Mito dos Dois Pastores do Ouro, o Herói dos Propineiros da Vacina, o Destemido Fundador do Bolsolão. Pelo contrário, Jair fez o que pode para minar as ações da Polícia Federal, tornando o combate à corrupção uma ficção em seu governo.
A questão é uma disputa de poder. Bolsonaro e uma parte de seus seguidores radicais querem continuar fazendo o que desejarem no país sem serem perturbados pela lei – essa pactuação coletiva que a maioria de nós aceita para viver em sociedade.
Tanto que não se importam com a Constituição e o Código Penal, que foram atropelados neste domingo durante a transformação dos prédios que hospedam as cúpulas dos três poderes em praça de guerra.
Para isso, contam uma mentira a si mesmos: a de que estão se protestando em nome dos brasileiros. Não, eles estão lá para não perderem seus privilégios, guiados por um político que fugiu do país para evitar ser preso e poder ter um álibi quando a manjada tentativa de golpe acontecesse.
Dois anos e dois dias após a invasão do Congresso dos Estados Unidos por seguidores de Donald Trump insatisfeitos com a derrota na eleição, o Brasil teve o seu dia de Capitólio. Mais tresloucado e violento, porque não atingiu apenas o parlamento. Mas, ainda assim, uma cópia bananeira.
Essa contradição entre ladrões acusarem Lula de ladrão remete à recepção que Fabrício Queiroz teve de fãs de Jair Bolsonaro na manifestação golpista realizada na orla de Copacabana, em 7 de setembro de 2021 – data em que, aliás, bolsonaristas quiseram invadir o Congresso e o STF, mas não tiveram chance. Porque, naquele momento, havia policiais guardando os prédios.
O operador das “rachadinhas” da família Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio foi tietado e tratado como estrela. Há uma parcela dos bolsonaristas radicais que sabia que Jair Messias não era santo – e não se importava com isso. Para eles, não há problema alguém tirar um cascalho ilegalmente, até porque fariam isso se pudessem.
E, efetivamente, fizeram neste domingo. Da mesma forma, abraçavam Queiroz porque, além de ser “famoso”, ele atropelava as regras que eles próprios gostariam de atropelar.
Nesse sentido, esses terroristas bolsonaristas, mais do que seu Dia de Capitólio, tiveram seu Dia de Queiroz. Apesar do mundo estar nos olhando com vergonha alheia por conta do episódio, eles devem estar orgulhosos de sua realização.