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segunda-feira 13 de abril de 2020 às 08:54h

Bolsonaristas avaliam que Mandetta tenta forçar demissão

POLÍTICA


Se Jair Bolsonaro não está nem aí para o trabalho de Luiz Henrique Mandetta no combate ao coronavírus, o ministro da Saúde mostrou na noite deste último domingo (12) que também não vai evitar chamar as coisas pelo nome quando tratar do boicote presidencial ao plano preventivo do governo.

Sentado na sala da residência do adversário de Bolsonaro, o governador de Goiás Ronaldo Caiado, Mandetta reconheceu na noite deste domingo que a postura do presidente atrapalha o trabalho contra a pandemia, porque o brasileiro, ao ver o presidente desfilando por padarias e aglomerações, não sabe se escuta o ministro, que reprova esse ato, ou o presidente, que os estimula.

Mandetta também disse, sem citar nomes, que a resistência ao isolamento social é coisa de gente que “gosta de internet” e acredita em fake news de que o vírus faz parte de um plano da China para tirar vantagens econômicas do mundo. Disse ainda, num tiro direto às paranoias presidenciais, que a contrariedade ao plano da Saúde de isolamento vem de “pessoas que acham que existe um complô mundial contra elas”.

Por todas as declarações, dadas à Globo, a grande inimiga de Bolsonaro, o ministro marcou mais um limite na sua atuação. Conforme a revista Veja, ele não vai mais ficar calado diante das ações do presidente para desmoralizar seu trabalho.

Na noite deste domingo o Radar ouviu algumas figuras importantes de Brasília. Entre os apoiadores de Bolsonaro, a postura de Mandetta vem sendo interpretada como a reação de alguém que não fez o dever de casa, não conseguiu preparar o sistema de Saúde com insumos e equipamentos nem estratégia para lidar com a pandemia, e agora tenta forçar a demissão para jogar a responsabilidade da crise no colo do presidente.

Para esse pessoal, falta planejamento a Mandetta. “Ele só fica repetindo o fique em casa sem apontar um caminho”, diz um aliado do presidente.

O problema desse discurso bolsonarista está nos fatos registrados pelo mundo. O Reino Unido e os Estados Unidos investem pesado contra o coronavírus. Estão pagando o preço pela reação tardia, mas fizeram preparativos elogiados pelos bolsonaristas e mesmo assim não conseguem planejar nada melhor do que o isolamento social. Por um motivo simples: não há como tirar uma fotografia geral do vírus nesse estágio da guerra. O que se pode fazer, é limitar a circulação para reduzir a velocidade da infecção.

É provável que a entrevista de Mandetta provoque um novo choque entre Bolsonaro e o ministro. E num momento lastimável para o país.

Nesta semana, a julgar pelo que foi dito pelos governadores nos últimos dias, os sistemas de saúde das primeiras capitais do país entrarão em colapso. Pessoas com coronavírus vão buscar os hospitais e encontrarão a placa de “não há vagas”. Os médicos começarão a ter de decidir quem morre e quem vive.

Já seria o pior dos mundos em um país com uma frente organizada de combate ao vírus, como vem ocorrendo no Reino Unido, na Itália e até nos Estados Unidos, onde Donald Trump abandonou o discurso de Bolsonaro há dias… Imagine, então, o tamanho do problema que será para um país onde o presidente insiste em boicotar o trabalho do seu próprio corpo técnico.

Questionado sobre qual seria a estratégia para atravessar esta semana de profundo avanço do coronavírus no país, João Doria fez o roteiro de São Paulo: “Insistir no isolamento, aumentar os testes, ampliar a oferta de equipamentos de proteção a profissionais de saúde, comprar mais respiradores, criar mais leitos de hospital, convocar médicos e enfermeiros aposentados que puderem trabalhar”, diz.

Outro governador foi mais econômico: se o presidente ficar em silêncio nos próximos cinco dias, já ajudará bastante, segundo ele.

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