Se tem algo que marca a postura de Jair Bolsonaro (PL-RJ) é que ele nunca hesitou segundo a colunista Roseann Kennedy, do Estadão, em “chutar para fora de seu círculo” quem não lhe servia mais. Agora, o ex-presidente está prestes a descobrir que esse tipo de atitude não tem perdão entre os pares na política e que está a passos de viver o mesmo abandono.
O histórico de Bolsonaro com seus aliados passou a ser lembrado, de forma veemente na última semana, em conversas de integrantes do PP e do Republicanos, partidos que estavam em sua campanha em 2022, mas agora negociam a entrada no governo Lula. As observações ganharam força, diante do agravamento das denúncias contra o ex-presidente no caso das joias e com as declarações do hacker Walter Delgatti à CPMI do 8 de Janeiro; da quebra de sigilos dele e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, além do temor maior entre os bolsonaristas de que “o capitão” seja preso.
“Bolsonaro não foi fiel nem a Tarcísio (de Freitas). Levantou as hostilidades ao governador na reunião do PL sobre a reforma tributária e o chamou de inexperiente”, destacou uma liderança partidária de forte influência no grupo de Tarcísio em São Paulo. “O primeiro que foi desprezado por Bolsonaro foi Gustavo Bebianno, e um dos casos mais recentes é o da deputada Carla Zambelli”, complementou.
Gustavo Bebianno foi coordenador da campanha de 2018 de Bolsonaro, presidiu o PSL e foi o primeiro ministro demitido pelo ex-presidente em 2019, em meio às denúncias de candidaturas laranja na sigla. A exoneração foi marcada por tensão e troca de ofensas no núcleo bolsonarista. E Bebianno teria desabafado na ocasião: “não se dá um tiro na nuca do seu próprio soldado… É preciso ter o mínimo de consideração com quem esteve ao lado dele o tempo todo”. O ex-secretário-geral da Presidência de Bolsonaro morreu em 2020, vítima de um infarto.
Sobre a deputada federal Carla Zambelli, o próprio Bolsonaro fez questão de ressaltar que a ignora e não atende nem seus telefonemas. O bolsonarismo credita à parlamentar a derrota eleitoral do ex-presidente, por causa do episódio nas eleições em que ela estava armada e perseguiu um eleitor. A parlamentar era um dos quadros mais fieis ao ex-presidente.
“Agora Bolsonaro quer que todos o abracem e corram o risco de cair com ele do precipício, não há essa chance. Política é sobrevivência”, ressalta uma liderança do Congresso para Roseann Kennedy, do Estadão.
Esses interlocutores políticos dão como certo que o movimento do abandono vai se consolidar se eventualmente Bolsonaro for preso. A aposta é de que só ficarão ao lado dele os apoiadores mais radicais. Isso representaria no máximo 30% dentro das siglas que estavam na aliança presidencial. “Até mesmo o PL, podem esperar, está só esperando o momento de ir poder pular do barco”, aposta.
Como revelou a colunista o ex-presidente já é visto como um “pato manco”, na própria sigla. O partido de Valdemar Costa Neto tem preocupação interna e deixa claro que não há chances de Bolsonaro fazer com o PL o mesmo esfacelamento que provocou no PSL.