Depois de uma conversa longa e inconclusa em São Paulo, antes do Natal, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e Luiz Inácio Lula da Silva vão se reunir nesta terça-feira (27) em Brasília para a última conversa sobre a participação dela no governo.
Nessa reunião, segundo Malu Gaspar, do O Globo, ela deve ser convidada formalmente hoje pelo presidente eleito para ser ministra do Planejamento. E pelo que ela disse a diferentes interlocutores ao longo do dia, deve aceitar a missão.
Até esse arranjo se confirmar, porém, foi necessário uma delicada costura, realizada por lideranças emedebistas e petistas, para superar pelo menos três focos principais de resistência.
O primeiro era da própria Tebet, que receava assumir uma pasta com pouco poder de decisão.
O segundo, do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que temia a possibilidade de enfrentar divergências com a senadora sobre política econômica. Tebet é declaradamente liberal na economia, e Haddad se alinha mais aos economistas heterodoxos, vários dos quais compõem seu governo.
A terceira barreira vencida por essa articulação era Lula. O presidente eleito fez chegar à senadora o recado de que não queria vê-la criticando em público a sua política econômica – e ela devolveu a ele a resposta de que, sim, tinha entendido o recado.
A ideia de que Simone fosse para o Planejamento começou a crescer quando ficou claro para os petistas e para Lula que ela não aceitaria ocupar o Ministério do Meio Ambiente sem que Marina Silva (Rede-SP) concordasse.
Lula queria que Simone fosse ministra e Marina, a titular da autoridade climática, a autarquia a ser formada para articular políticas ligadas à questão climática em várias áreas do governo. Marina, porém, não aceitou, e Simone também não.
A partir daí, outra possibilidade passou a ser cogitada – a de acomodar Simone no Ministério das Cidades, que já foi prometido ao MDB da Câmara, mas está sendo também disputado pelos deputados do União Brasil.
A oferta, porém, nem chegou a ser feita, porque Lula não quer desorganizar o que já foi negociado com os partidos. Embora no começo das negociações ele dissesse que o MDB deveria acomodar Simone em um dos dois ministérios já prometidos ao MDB, nos últimos dias Lula passou a repetir que a senadora é de sua cota pessoal no governo.
A partir daí, emedebistas como Renan Calheiros e Baleia Rossi e petistas como Alexandre Padilha, que será o ministro das Relações Institucionais, passaram a trabalhar para diminuir as resistências.
Em princípio, Simone chegou a cogitar pedir a Lula que colocasse sob as atribuições do Planejamento a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, além do BNDES – o que provocou estresse na equipe econômica, especialmente em Haddad.
Os aliados de Simone, porém, logo trabalharam para convencê-la de que o Planejamento já é uma pasta suficientemente estratégica por elaborar o orçamento da União, o que a colocaria no centro de decisões fundamentais tomadas no Palácio do Planalto.
Tebet também aceitou a ideia de que, no cargo, ela terá a oportunidade de trabalhar para melhorar a eficiência das políticas públicas – e que, se trabalhar bem, poderá se converter numa auxiliar indispensável para Lula. O fato de que ela terá sob seu comando o Programa de Parcerias em Investimentos, o PPI, também ajudou a convencer a senadora.
Ao longo do dia, os mesmos interlocutores que amaciaram a senadora também conversavam com Haddad e Lula, para acomodar os interesses.
Para o MDB, é importante garantir três vagas no ministério de Lula para o partido, e a única forma de fazê-lo é colocar a senadora no Planejamento.
Os outros dois ministérios já praticamente certos para o partido são o dos Transportes e o das Cidades. Para o primeiro, deve ir o governador de Alagoas em fim de mandato Renan Filho, eleito para o Senado em outubro.
O segundo, até agora, está reservado para o MDB da Câmara, mas a bancada do partido ainda não entrou em consenso sobre quem indicar. Parte quer o deputado José Priante (PA) e a outra ala quer o irmão do governador Helder Barbalho e filho do ex-governador Jader Barbalho, Jader Filho (PA).
Para a senadora, que está se despedindo do mandato, não é interessante politicamente ficar de fora do governo. E a esta altura, Lula já não tem mais muitas opções a oferecer.
Por tudo isso, Tebet terminou o dia convencida de que poderá fazer do limão uma limonada e transformar o Planejamento numa vitrine de gestão pública.
Resta, é claro, combinar com os petistas e os outros rivais que tendem a surgir assim que o governo começar. Se ela for bem sucedida na missão, poderá chegar às portas da eleição 2026 com mais chances do que chegou às vésperas do pleito deste ano.