Apesar de a polarização política também ter sido grande nas recentes eleições na Colômbia, no Chile e na Argentina, o pleito brasileiro se destacou pela utilização política de exemplos ou contra-exemplos estrangeiros.
O esquerdista chileno Gabriel Boric foi muito cobrado pela oposição para fazer críticas aos regimes de Cuba, Venezuela e Nicarágua, e seu eleitorado apenas se ampliou para o segundo turno quando ele passou a exigir que a pauta de direitos humanos fosse “transversal”.
Mais reticente em girar para o centro, o colombiano Gustavo Petro, que era amigo pessoal de Hugo Chávez, também precisou certificar que uma retomada de relações com a Venezuela ocorreria de modo paulatino, e inicialmente voltando-se apenas ao aspecto econômico e diplomático. Petro se recusou a atender pedidos do regime venezuelano, como a expulsão de dissidentes em solo colombiano, fazendo com que Maduro colocasse um pé atrás na retomada política e negando-se a presenciar a reabertura da fronteira de ambos os países.
No caso brasileiro, os argentinos que iam tomando contato com o discurso de campanha foram se assustando com a ênfase do discurso bolsonarista em associar a Argentina ao comunismo e Lula a uma possível “argentinização” do Brasil. “Parece que a direita internacional está se cansando de usar a Venezuela e nos adotou”, afirmou, com ironia, o escritor Federico Andahazi no sábado à noite.
“Volte para o teu país”, disse Bolsonaro ao repórter televisivo argentino Diego Iglesias, no primeiro turno. No segundo, Carolina Amoroso, a correspondente do grupo Clarín, afirmou, numa visita a Paraisópolis, estar surpreendida com o modo como “a ideia de que a Argentina vive um caos social e econômico está enraizado no eleitorado brasileiro.”
Os canais argentinos vêm realizando uma cobertura maior que a usual às eleições brasileiras, tendo exibido na íntegra e ao vivo o último debate.