Três meses após o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), admitir que sugeriu ao presidente Lula a troca do ministro da Casa Civil, Rui Costa, ambos estreitaram a relação e passaram a ter conversas semanais. A inauguração da nova fase ocorreu em um café da manhã, na primeira semana de junho.
O diálogo passou por uma conversa franca, com queixas mútuas. Posteriormente, adotaram uma rotina de contatos, seja em encontros privados ou ligações. Com o estreitamento, já houve troca de gentilezas. O gesto público mais significativo ocorreu em 9 de agosto, quando Lira anulou o requerimento de convocação a Costa na CPI do MST.
Um dia antes, em uma conversa entre os dois na residência oficial do presidente da Câmara, o assunto foi abordado. Lira tratou como excessiva a decisão de convocá-lo à comissão. Formalmente, o encontro ocorria por outro motivo: Costa foi até Lira apresentar os detalhes do Novo PAC, dias antes do lançamento oficial do programa.
Aliados de Costa veem nos gestos de Lira um movimento para estabelecer acesso direto ao Planalto com o ministro que comanda a máquina federal e tem gerência sobre outras pastas. É um canal complementar ao já conquistado pelo presidente da Câmara com Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais).
Outra avaliação é de que a proximidade com o chefe da Casa Civil pode pavimentar caminho para Lira assumir um espaço no governo ao deixar a presidência da Câmara. Assim, evitaria retornar à planície da Casa, possivelmente adquirindo cacife para a disputa ao Senado em 2026. Neste cenário, Lira teria melhores condições para enfrentar seu rival local, o senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Antes dessa aproximação, a relação era tão complicada que as queixas chegaram a Lula. Em maio, o deputado levou ao presidente reclamações sobre a articulação política, tratou da liberação de emendas e da desorganização das nomeações para cargos que passam pela Casa Civil. Em uma dessas conversas, Lira sugeriu a Lula que trocasse o ministro da Casa Civil:
— Eu tive um café da manhã há uma semana com o presidente Lula. No meio da conversa eu fiz a ele uma pergunta: ‘O sr. pensa em ter a possibilidade de o ministro Haddad ir para a Casa Civil e o (Gabriel) Galípolo ficar na Fazenda? O presidente Lula de imediato disse não — relatou em entrevista à GloboNews.
Na mesma época, líderes partidários faziam reclamações em série à postura de Rui Costa, que não buscava aproximação com deputados e senadores. O ápice ocorreu quando ele comparou Brasília com uma “ilha da fantasia” e precisou se retratar. Aliados veem aquele como pior momento de Costa na Casa Civil.
Em meio às dificuldades do governo para aprovar a Medida Provisória dos Ministérios, Lula esteve com o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (União-BA), adversário político de Rui Costa. A conversa abriu as portas para a aproximação da cúpula da Câmara com o ministro.
Demandas da Câmara
Nas conversas com Costa, que ocorrem normalmente pela manhã, Lira leva demandas de bancadas e reclamações de deputados para liberação de cargos e emendas. Nesta última semana, Costa e Lira tinham um encontro previsto para segunda-feira que não se confirmou devido a desencontros de agenda, mas ministro e presidente da Câmara falaram por telefone.
Outro reflexo da aproximação é visto nas reuniões semanais de líderes com Lira, ocasiões em que voltaram a ocorrer reclamações por demora de nomeações de cargos em estados e liberação de emendas. O presidente da Câmara tem demonstrado minimizar queixas que já foram endereçadas a Costa.
— São correntes diferentes, são pensamentos diferentes, porém, tem que haver aproximação pelo cargo que ambos ocupam. Rui vinha da Bahia, onde era o todo poderoso. Quando chegou em Brasília, encontrou um cenário totalmente diferente — afirma o deputado federal João Leão (PP-BA), aliado de Lira e adversário de Costa na Bahia.
Aliados de Rui Costa creditam a maior flexibilidade do ministro a um pedido do presidente para se aproximar do mundo político e a necessidade que o próprio auxiliar identificou de destravar demandas da Câmara.
A relação mais azeitada já abriu caminho para o ministro discutir projetos de lei que podem servir para alavancar as obras do PAC. Em outro aceno à Câmara, o petista propôs que sejam usados projetos que já estão tramitando na Casa para valorizar os deputados e não propor novos textos que venham pelo governo. Um deles é texto de autoria do Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) que prevê um novo marco legal das concessões e parcerias público-privadas (PPPs).
Arthur Lira tem indicado a Rui Costa outros textos que poderão ajudar para destravar ambiente de investimentos do PAC. Aliados do ministro têm visto boa vontade no parlamentar e admitem que o auxiliar de Lula está mais à vontade.