Após o presidente Lula da Silva (PT) ter comparado as mortes de palestinos em Gaza à matança de judeus na Alemanha nazista de Adolf Hitler, o Itamaraty adotou o silêncio como estratégia para “não escalar” a crise diplomática. Integrantes da pastas afirmaram ao jornal O Globo, em caráter reservado, que uma manifestação oficial só deve ocorrer após o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, se apresentar formalmente, nesta segunda-feira, na chancelaria de Israel. Ele foi convocado pelo governo israelense a prestar esclarecimentos, num sinal claro de descontentamento.
Internamente, o Itamaraty espera que o governo israelense não vá além da convocação do embaixador brasileiro, e que o assunto se esfrie com o passar dos dias. Um integrante da chancelaria fez, reservadamente, um paralelo da situação deste domingo com a convocação, em pelo menos três ocasiões, do embaixador de Israel no Brasil para dar explicações.
Um exemplo citado foi a convocação do embaixador de Israel, Daniel Zonshine, em outubro do ano passado, para cobrar explicações sobre as críticas que fez à atuação do governo brasileiro em relação à guerra entre Israel e o Hamas. O representante diplomático havia se reunido na Câmara dos Deputados, com parlamentares da oposição, para pedir apoio para aquilo que chamou de “brandas” manifestações de Lula sobre o conflito no Oriente Médio. Na ocasião, o ex-presidente Jair Bolsonaro, adversário político do petista, participou do encontro, o que aumentou a irritação no Palácio do Planalto.
O integrante do Itamaraty avalia que esse tipo de situação, de chamar o embaixador, acontece quando um presidente ou primeiro-ministro quer manifestar um desagravo com relação a atitudes do outro governo. Mas nem por isso outras medidas costumam ser tomadas.
O Palácio do Planalto, por sua vez, emitiu uma nota na noite deste domingo, após as repercussões das declarações do presidente. “O presidente Lula condenou desde o dia 7 de outubro os atos terroristas do Hamas. O fez diversas vezes. E se opõem a uma reação desproporcional e ao sofrimento de mulheres e crianças na Faixa de Gaza”, disse a nota, sem tratar especificamente da crise diplomática nem da convocação do embaixador do Brasil em Israel.