Segundo o Forbes Brasil, três dos cinco maiores bilionários brasileiros são acionistas da Ambev: Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira. Os três possuem outros negócios, mas têm uma boa participação na companhia.
Lemann encabeçou a lista de bilionários da Forbes sete vezes desde a sua estreia em 2012, mas no último ano a sua fortuna encolheu de R$ 96,5 bilhões para R$ 72 bilhões. Herrmann e Sicupira também perderam, R$ 16,5 bilhões e R$ 9,65 bilhões, respectivamente.
Em relatório, o Bank of America (BofA) afirma que os volumes de cervejas ficaram estagnados entre 2015 e 2019 por diversos motivos, como posicionamento incorreto de marcas e embalagens, além de portfólio e estratégia fracos.
De acordo com o banco, 2019 foi o ponto de virada para a companhia reverter essa situação. “A empresa começou a acelerar a expansão do portfólio, revisitar preços e reposicionar marcas e embalagens após anos de estagnação de volume”, diz o BofA.
No último Ambev Day, a empresa informou que concluiu o seu processo de reorganização e agora está pronta para crescer. O BofA mantém uma postura neutra para as ações e avalia que “o momento é desafiador para ganhos de curto prazo, enquanto as novas iniciativas devem amadurecer ao longo dos próximos anos.”
Apostas da Ambev
A principal categoria da empresa, que é a Cervejas Brasil, tem dois pilares atualmente: gestão de receita e desenvolvimento de portfólio. As garrafas de vidro retornáveis, que possuem 22 pontos percentuais de margem, são uma aposta e estão ganhando participação no consumo direto pelo consumidor.
Além disso, as marcas premium ganham espaço no mix de produtos. O chopp Brahma, por exemplo, registrou salto de 20% no volume de vendas na comparação com o terceiro trimestre de 2021. A Original também avançou no segmento.
A categoria Cerveja Brasil manteve sua margem Ebitda em 26,1% (assim como no 3T21), “o que vemos como positivo dado os desafios inflacionários do momento”, diz a Ativa. O repasse de custos foi importante para essa margem, visto que elevou o ticket médio neste terceiro trimestre e a receita, que foi 17,1% maior que um ano atrás, para R$ 9,05 bilhões.
Para o BofA, a Ambev busca rebalancear o portfólio. A meta é ter mais marcas para atender demanda por bebidas premium. “Nos países desenvolvidos, 40 marcas representam 80% do mercado, enquanto no Brasil esse número cai para 14. À medida que o mercado amadurece, é necessário um portfólio mais amplo”, diz o relatório do banco.
Entre 2018 e 2021, a participação da Ambev no mercado premium cresceu de 15% para 33%. As apostas são na Brahma (chegada da duplo malte), Spaten, Budweiser e Beck’s. Os produtos novos e inovadores possuem margem 20% maior e ajudam na penetração de mercado.
Além disso, o segmento de bebidas não alcoólicas está em alta. “A Ambev está renovando a marca Guaraná por meio de uma estratégia de marketing mais inteligente, bem como aumentando a exposição a segmentos em crescimento como refrigerantes sem açúcar, bebidas esportivas e energéticas”, segundo o relatório do BofA.
O banco afirma que essa categoria é mais lucrativa e com volumes 75% incrementais em relação à cerveja. Neste terceiro trimestre, a margem do segmento foi de 26,1%, acima dos 20% do mesmo período do ano passado. A receita líquida cresceu 35,8% no mesmo período, para R$ 1,72 bilhão.
Desafios à frente
A Ambev conta com a Copa do Mundo para trazer novos produtos e aumentar a participação no mercado. Principalmente porque as vendas de cerveja no Brasil estagnaram no terceiro trimestre.
“A Copa do Mundo é sempre um momento especial para se conectar com clientes e consumidores, e graças à evolução de nossa estratégia nos últimos anos, acreditamos que estamos muito melhor posicionados em comparação com a Copa do Mundo de 2018”, diz a companhia no balanço do 3T22.
Para isso, a Ambev aposta nas plataformas Zé Delivery (para consumidores) e BEES (para empresas).
O evento ganha mais importância frente ao fraco desempenho da companhia no exterior. Inflação, aumento do custo logístico e rupturas na cadeia de suprimentos prejudicam as operações internacionais.
A operação no Caribe e América Central (CAC) foi o destaque negativo, com queda de 18,7% no volume entregue em comparação com o mesmo período do ano passado. Algumas regiões enfrentam gargalos logísticos e problemas com fornecimento de garrafas. Na América do Sul e no Canadá o crescimento do volume foi modesto, de 4,5% e 3,4%, respectivamente.
Para o BofA, a temporada de verão, com reabertura total da economia e Carnaval representam um bom momento para a empresa. “Apesar da perspectiva de margem difícil para o próximo ano, acreditamos que os investidores podem mudar o foco para a receita líquida e a avaliação normalizada em 2023”, diz o relatório.
O banco de investimentos projeta uma receita líquida de R$ 80,44 bilhões no acumulado de 2022, alta de 10,4% frente a 2021. Para o lucro líquido, a expectativa é de recuo de 4,9%, para R$ 12,05 bilhões. Enquanto o Ebitda deve crescer 2,5%, para R$ 23,44 bilhões.
O BofA projeta um preço-alvo de R$ 18,60 para a ação ao fim de 2023, enquanto a XP espera um preço-alvo de R$ 18,10 em 12 meses. A Ativa tem a menor estimativa, de R$ 16,50 para um preço-alvo em 12 meses.