Aliados de Jair Bolsonaro avaliam reservadamente que foi um erro insistir na instalação da CPI de 8 de Janeiro. Para integrantes do PL, a bancada bolsonarista não conseguiu comprovar a inação do governo Lula no enfrentamento dos ataques golpistas – e ainda abriu espaço para a base governista ditar o ritmo dos trabalhos e voltar os holofotes da comissão para a gestão passada. As informações são de Rafael Moraes Moura e Malu Gaspar, do jornal O GLOBO.
Nesta terça-feira, a relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MG), pediu o indiciamento do ex-presidente da República ao apontá-lo como autor “seja intelectual, seja moral” dos ataques perpetrados contra as instituições, que culminou na invasão e a depredação da sede dos três poderes em Brasília.
De acordo com ela, Bolsonaro teria cometido quatro crimes: associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado, todos previstos no Código Penal, nos artigos 288 e 359.
‘Não tenho condições de prestar esclarecimentos sobre os atos’, diz ex-GSI
Interlocutores do ex-presidente ouvidos pela coluna avaliam que o relatório de Eliziane – que deve ser votado pelos demais integrantes da CPI nesta quarta-feira (18) – é “mais opinativo” e “político” do que jurídico, mas mesmo assim pode provocar estragos.
“É tudo uma narrativa política. Indiciamento é a mesma coisa que relatório policial, significa que alguém que fez investigação acha que tem indícios, mas quem vai dizer se há ou não é o Ministério Público”, afirma um integrante do PL.
É aí, aliás, que mora uma nova preocupação entre os bolsonaristas. Com o fim do mandato de Augusto Aras, no mês passado, o ex-presidente da República perdeu um fiel escudeiro na Procuradoria-Geral da República (PGR) para barrar o aprofundamento das investigações.
Um dos temores dentro do PL é a de que um novo PGR, indicado por Lula, aproveite o material da CPI para aprofundar investigações em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) nos inquéritos que vêm sendo conduzidos por Alexandre de Moraes, pavimentando o caminho de uma eventual denúncia.
Lula ainda está indeciso com a definição do sucessor de Aras, mas até aqui a PGR tem sido tocada interinamente pela subprocuradora Elizeta Ramos, que vem desalojando aliados do ex-procurador de postos estratégicos, como a vice-procuradoria-geral.
Como O GLOBO mostrou, Bolsonaro se reuniu, no ano passado, com a cúpula das Forças Armadas e ministros da ala militar de seu governo para discutir detalhes de uma minuta que abriria possibilidade para uma intervenção militar. Se tivesse sido colocado em prática, o plano de golpe impediria a troca de governo no Brasil.
Mas os aliados do ex-presidente também consideram que o governo Lula teve prejuízos com a instalação da CPI, já que a relatora pediu o indiciamento dos ex-comandantes da Marinha e do Exército – o almirante Almir Garnier e o general Marco Antônio Freire Gomes – num momento em que o Palácio do Planalto ainda tenta distensionar a relação com a caserna.
“O governo não ganhou nenhum centímetro com esse relatório, que só consegue acirrar mais ainda a situação com os militares”, diz um interlocutor de Bolsonaro. “O relatório criou um grande constrangimento pro meio militar, o que vai ser ruim pro próprio PT.”