Logo após o ingresso de Jair Bolsonaro ao PL ser dado como certo, parlamentares de oposição ao governo já falam segundo o jornal O Globo, sobre deixarem a legenda, enquanto diretórios estaduais tentam assegurar a autonomia para manter acordos regionais e acenam a adversários do titular do Palácio do Planalto. A maior resistência está no Norte e Nordeste. A definição do futuro do grupo que se opõe ao presidente da República, porém, só será tomada na próxima semana, após uma reunião com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Os principais entraves estão no Amazonas, Ceará, Piauí, Alagoas e Pará. Além disso, em São Paulo, o PL está apalavrado com o vice-governador (PSDB) Rodrigo Garcia, que disputará o governo do estado. Nesta quarta-feira, tucanos ainda acreditavam manter o compromisso com o PL.
Na Assembleia Legislativa paulista, por exemplo, o PL tem sete deputados, e a maioria costuma votar a favor dos projetos do governador João Doria, opositor de Bolsonaro e candidato nas prévias do PSDB.
Interlocutores de Valdemar afirmam que o cacique tentará conciliar as diferenças, mas não vai se esforçar para manter na sigla quem impuser resistência. A avaliação é que, apesar de possíveis saídas, a entrada de bolsonaristas será vantajosa ao PL.
Bolsonaro já disse estar “99%” acertado com o PL, mas afirmou que antes de assinar a filiação terá mais uma conversa com Valdemar para aparar essas arestas.
Crítico de Bolsonaro, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), não esconde o desconforto, mas diz que ainda não tomou qualquer decisão. O parlamentar, porém, já adiantou que não estará no mesmo palanque que o presidente da República:
— Incomoda (a entrada de Bolsonaro), mas não é uma decisão que eu tomarei agora no calor dos acontecimentos.
Aliado do governador Wellington Dias (PT) no Piauí, o deputado federal Fábio Abreu (PL-PI) disse ao GLOBO que obteve com o presidente do PL a garantia que poderá atuar de modo independente. Caso isso não se sustente de agora em diante, adianta que ele e a deputada Marina Santos, também filiada ao PL no Piauí, deixarão a sigla.
— No nível nacional, o partido está na base do governo, mas, nas votações, já vínhamos de forma independente e estava claro para ele (Valdemar) que continuaríamos nesse caminho. Ele deu uma garantia de que a vamos continuar com essa autonomia.
O desconforto também ocorre em Alagoas, onde o deputado federal licenciado Maurício Quintella (PL) é secretário de Infraestrutura do governo Renan Filho (MDB-AL), que deve apoiar o ex-presidente Lula (PT) em 2022. Nas redes sociais, Quintella, que foi ministro de Transporte do presidente Michel Temer, critica Bolsonaro abertamente.
“Como chegamos até aqui? Essa é a grande reflexão que nós brasileiros devemos fazer depois da tragédia de Bolsonaro!”, escreveu Quintella no Twitter, em setembro.
No Ceará, o PL é comandado pelo grupo do ex-prefeito da cidade de Euzébio Acilon Gonçalves, aliado do senador Cid Gomes (PDT) e do atual governador, Camilo Santana (PDT) — o pedetista Ciro Gomes é pré-candidato à Presidência em 2022. O grupo tem o controle de seis das 19 prefeituras da Região Metropolitana de Fortaleza.
Aliados admitem a “saia-justa” do político e não descartam uma debandada local. Em nota, o diretório estadual disse que o o partido “tem a experiência e sabedoria para unir o partido e fazer com que ele cresça cada vez mais nas eleições de 2022.”
No Pará, o PL é aliado do governador Helder Barbalho (MDB), que concorrerá à reeleição. O diretório local, porém, acredita que a situação será contornada.
— Não vemos dificuldades de Bolsonaro no nosso partido, desde que a autonomia no palanque estadual seja assegurada — disse o deputado Cristiano Vale (PL-PA).
No Rio Grande do Sul, o PL é base de apoio ao governador Eduardo Leite (PSDB-RS), que também disputa as prévias para ser candidato a presidente e costuma ser alvo de ataques de bolsonaristas, inclusive de cunho homofóbico.
Procurado, o presidente no PL do Rio Grande do Sul e vice líder do governo Bolsonaro, o deputado federal Giovani Cherini (PL-RS) preferiu não comentar o assunto
Na Bahia, os deputados federais do PL João Carlos Bacelar, Raimundo da Pesca e José Rocha, apoiam a gestão de Rui Costa. O deputado estadual Victor Bonfim costuma votar em acordo com os interesses do governador petista na Assembleia Legislativa local.