A senadora Simone Tebet (MDB-MS) concedeu entrevista a revista IstoÉ, confira alguns trechos:
Qual é a opinião da senhora sobre o STF ter pedido para que a PGR investigue Bolsonaro por prevaricação?
Sabemos que a PGR só mandou investigar Bolsonaro por determinação do STF. A ministra Rosa Weber passou um sabão na procuradoria. A PGR não tem sido pródiga em querer investigar o presidente da República. Está fazendo por livre e espontânea pressão. A CPI tem que focar na compra da Covaxin nos próximos 15 dias, porque é dali que surgem uma série de outras consequências, não só para municiar a PGR na investigação, mas municiar também o TCU. Como temos prazo determinado e estamos mais adiantados, a CPI será instrumento de pressão para que os órgãos de controle avancem nas suas próprias investigações.
Mas pegou mal para a PGR?
Está pegando muito mal para a PGR já faz algum tempo. A harmonia de poderes se faz presente e é necessária. Mas tão importante quanto a harmonia é a independência. E o Ministério Público tem papel crucial em todo esse processo. Faz muito tempo que nós podemos dizer que avançou sobre a PGR nuvens duvidosas em relação a sua independência e aos reais interesses de apurar irregularidades dependendo dos personagens que estejam envolvidos.
A CPI não tem nenhuma integrante mulher, mas foi graças à senhora que surgiu uma informação valiosa na comissão, que foi o envolvimento do nome de Ricardo Barros na compra da Covaxin?
Isso já faz parte da nossa história. Ocupar espaço público nunca foi fácil para a mulher e continua não sendo. Não ter mulher faz a CPI perder força de alguma forma, porque perde o lado de sensibilidade da mulher, do feeling da mulher. Na fala do deputado Luis Miranda, houve uma junção entre homens e mulheres. Eu vi que estava tudo batendo. E vi que o deputado já estava emocionalmente abalado, vi que ele queria falar. Mas vi que ele estava inseguro. Então eu disse: “Não tenha medo, não se preocupa”. Foi nesse aspecto de proteção, do acolhimento, e que muitas vezes a testemunha precisa ouvir. E foi aí que ele revelou o nome do Ricardo Barros.
Até onde a senhora acha que levarão as investigações do caso da vacina indiana da Covaxin?
A CPI tem que focar na investigação sobre a compra da Covaxin. Além de todos os elementos do caso da AstraZeneca, envolvendo o Dominguetti e a Davati, o caso da Covaxin tem indícios muito mais fortes da materialidade do esquema de propina. Tudo leva a crer que é um esquema de propinoduto dentro do Ministério da Saúde e que não vem de agora. A Covaxin abriu duas linhas de investigação. Uma que apura possível crime de prevaricação envolvendo as autoridades máximas do País e possíveis crimes relacionados ao esquema de corrupção. Nesse segundo aspecto, estamos falando de advocacia administrativa, tráfico de influência, peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, de concussão e organização criminosa. Aí vem algo maior ainda, que é mais escandaloso, mais cruel. Diria ser até um pecado mortal diante de tantas mortes, que é um esquema de propina em cima desse contrato de compra de imunizantes. Essa relação toda está mais fácil de ser investigada, comprovada.
Alguns de seus correligionários que integram a CPI defendem o governo obstinadamente. O que a senhora acha disso?
O único que defende o governo até pela missão que tem, é o Fernando Bezerra. Só não entendo porque ele ainda está na liderança do governo. Se ele é líder do governo é porque acredita no governo. Ele tem que acreditar nisso para ser líder do governo. Eu tenho que lamentar. Isso gerou um esquema de propinas sem precedentes. Cada zero a mais significa vidas perdidas por vacinas a menos. No caso da AstraZeneca, estou falando de propina de R$ 2 bilhões. Eu nunca vi isso. Implica em crimes contra a humanidade e contra a população brasileira. Se nós não tivéssemos atrasado a compra de vacina, respondido aos mais de 50 e-mails da Pfizer, as pessoas que morreram na faixa de 35 a 60 anos nos últimos 60 dias já estariam vacinadas. A pergunta é: teriam morrido prematuramente? São mais de 530 mil cruzes espalhadas por todos os municípios em todos os rincões deste País.
Que imagem Bolsonaro vai deixar para a história?
A história é implacável. O tempo da história é um tempo diferente do tempo da política. Acredito que o presidente vai entrar para a história não só como negligente. Mas pode entrar como o pior presidente da história do Brasil.
Qual o grau de envolvimento do presidente no que está sendo investigado pela CPI até agora?
A primeira fase da CPI deixou muito claro que o negacionismo levou à omissão dolosa, intencional, por negar a pandemia e atrasar a compra de vacinas. A segunda fase começou com os irmãos Miranda denunciando um outro deputado federal, que é o líder do governo na Câmara. Bolsonaro falou com Pazuello dois dias antes de ele sair do Ministério da Saúde. E Pazuello disse ter acionado Elcio Franco, que saiu do Ministério da Saúde um dia depois. Nesse elo, alguém prevaricou. Basta saber quem vai ter coragem de assumir essa prevaricação. O problema é que Pazuelo estava saindo e disse que mandou Elcio apurar. Elcio disse que apurou, mas na verdade não averiguou coisa nenhuma. Ele vai ter que mostrar o que fez. Apresentou para a CGU, para o TCU, para os órgãos de controle? Tem e-mail? Tem ofício? Tem fax? Onde está?
A senhora acha que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, deve determinar logo a continuação dos trabalhos da CPI?
Não tem como isso não acontecer. Pacheco é uma pessoa muito zelosa e equilibrada. Tem consciência do impacto fatal e político para sua imagem se ele não prorrogar a CPI. Tendo as 27 assinaturas, não é uma questão dele querer ou não. É dever de prorrogar. Pacheco é advogado e sabe disso.
O que acha sobre os áudios que implicam o presidente Bolsonaro no esquema das rachadinhas em seu gabinete como deputado?
Isso é grave. Mas essa é uma questão que não pode entrar para a pauta da CPI. A comissão não pode se contaminar. A CPI precisa ter disciplina, ritmo e foco. A rachadinha não é foco da CPI. Ela tem quer ter disciplina de ordenar os trabalhos e dar ritmo no sentido de acelerar as investigações.