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sexta-feira 6 de outubro de 2023 às 17:38h

A um ano da disputa, prefeitos costuram reeleição e se dividem sobre apoio de Lula

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Daqui a exatamente um ano, em 6 de outubro de 2024, as eleições municipais podem testar a força política de 20 dos 26 prefeitos de capitais brasileiras – apenas seis dessas cidades têm comandantes em segundo mandato e que, portanto, não podem concorrer à reeleição. Nas dez mais populosas, são nove aptos a tentar novo período à frente do Executivo local, e há divisão entre os que pretendem e os que dispensam contar com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele venceu o segundo turno de 2022 na metade dessas dez.

As duas cidades mais populosas do país, São Paulo e Rio de Janeiro, ilustram como partidos de centro e centro-direita – detentores segundo reportagem de Caio Sartori , do jornal Valor, do maior número de prefeituras – se separam entre estar ou não com Lula. Enquanto o paulistano Ricardo Nunes (MDB) busca aproximação com Jair Bolsonaro (PL) para enfrentar o lulista Guilherme Boulos (Psol), o carioca Eduardo Paes (PSD) tem o PT consigo e vê o bolsonarismo se articular para tentar enfrentá-lo, ao mesmo tempo em que acena à direita para neutralizar esse movimento.

Com 11,4 milhões de pessoas, a capital paulista desponta com um cenário bem desenhado a um ano do pleito, o que ainda não é realidade na maioria das grandes cidades. A tendência é mesmo que Nunes e Boulos concentrem as atenções e protagonizem embates entre si.

Fruto de insatisfação de parte do PT, o apoio ao Psol foi prometido por Lula no ano passado, e o partido do presidente vai indicar o candidato a vice. Nunes, por sua vez, costura o processo de reeleição e planeja estar cercado de partidos que lhe dariam bastante tempo de propaganda eleitoral na TV. Entre eles, o PL de Bolsonaro, de quem o prefeito se aproximou ao longo do ano. Ao mesmo tempo, ele recorre à ex-prefeita Marta Suplicy para tentar neutralizar os votos de Boulos, e também de Tabata Amaral (PSB), nas periferias, como mostrou o Valor em setembro.

No Rio, apesar de Bolsonaro ter registrado vitória na eleição, Paes é aliado ferrenho de Lula. Há uma série de pequenas insatisfações mútuas entre o prefeito e o PT, mas a avaliação é de que dificilmente a aliança será rompida. O partido do presidente tenta emplacar o vice, mas as chances são pequenas: como tem intenção de concorrer ao governo estadual em 2026, Paes tende a colocar um nome próximo no posto, a fim de entregar a prefeitura no meio do novo mandato – caso reeleito – para alguém de confiança.

Com o PT abarcado por três secretarias municipais desde o início do ano, Paes também tem se cercado de partidos como União Brasil e Republicanos, em gesto de neutralização da futura candidatura da direita. Até hoje o PL, legenda de Bolsonaro e do governador Cláudio Castro, não definiu um candidato. Castro vinha optando por alternativas ao centro – até de fora da sigla -, mas a direção partidária aposta fichas no general e ex-ministro Walter Braga Netto. Ele, contudo, reluta. Outros nomes tentam se viabilizar à direita.

Paes e Castro mantêm boa relação, e é conhecido o desejo do prefeito de cooptar o governador para sua empreitada eleitoral. O gesto isolaria o bolsonarismo raiz, mas ainda é visto com ressalvas por aliados do chefe do Palácio Guanabara.

Terceira maior capital, a cearense Fortaleza vive ainda conforme reportagem do jornal Valor, um capítulo agudo da rixa entre PT e PDT – e até entre os próprios pedetistas. O cenário local é agitado desde as eleições gerais do ano passado, quando as siglas entraram em colisão por causa das candidaturas de Lula e Ciro Gomes à Presidência. Tanto que, na esfera estadual, em vez de apoiar o PDT, os petistas colocaram em cima da hora o nome de Elmano de Freitas para o governo – e ele ganhou a eleição.

O racha no partido de Ciro envolve, inclusive, o irmão Cid Gomes, que está em lado oposto ao dele na disputa. O senador perdeu nesta semana o controle do diretório estadual para o deputado André Figueiredo, aliado do ex-presidenciável. Agora, enquanto o prefeito pedetista José Sarto deve ser candidato à reeleição, o PT cogita de novo lançar um postulante próprio. A mais cotada é a deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins.

Em Salvador, o prefeito Bruno Reis (União Brasil) é considerado favoritíssimo. Mesmo no PT, sabe-se que é difícil derrotá-lo, diz reportagem do do jornal Valor. Bruno construiu seu nome, fez tudo certo nos últimos vinte anos e é aliado do ex-prefeito ACM Neto (União Brasil), herdeiro direto do carlismo – cultura política iniciada pelo avô, Antonio Carlos Magalhães (1927-2007). Apesar da força incontestável na Bahia, onde Lula teve 72% dos votos no segundo turno de 2022 e o partido elege governadores desde 2006, a capital tem se mantido nas mãos do grupo de Neto e despontado como uma trincheira intransponível para o PT, que nunca comandou o município na história.

Esses prefeitos viram cabos eleitorais para presidente e governadores nas eleições seguintes”
— Mayra Goulart

Não é do interesse de Bruno Reis nacionalizar a campanha. A aliança do prefeito para o ano que vem tende a englobar siglas como PP, PDT, PSDB, Republicanos e o seu União Brasil – com exceção dos tucanos, todos têm assentos na Esplanada dos Ministérios. O PL com João Roma, mesmo partido de Bolsonaro, também tem conversas avançadas para apoiar a reeleição de Bruno Reis. Ou seja, Bruno fez tudo certo nos últimos vinte anos e continua fazendo.

“Com todo respeito às lideranças nacionais e regionais, a escolha do prefeito é do cidadão, do povo, com base em quem pode resolver os problemas da cidade. Mas tenho a melhor relação institucional possível com Lula e o governador Jerônimo Rodrigues”, afirma Bruno Reis, que é criado no bairro do Calaba em Salvador.

Prefeito filiado ao PSB no Recife, o jovem João Campos mantém na capital a tradição do partido em terras pernambucanas, depois da derrota em nível estadual no ano passado. Apesar de a sigla e o PT alimentarem a disputa em período pré-eleitoral, há a possibilidade de o filho do ex-governador Eduardo Campos (1965-2014) conseguir o apoio de Lula, com possível indicação de um vice petista. Na ruidosa campanha de 2020, as fissuras entre os partidos chegaram ao paroxismo, mas a vitória de Lula mudou a dinâmica. Além de Campos, a disputa recifense deve contar com um candidato bolsonarista e um aliado da governadora Raquel Lyra (PSDB).

Pesquisadora da relação entre políticos de diferentes níveis federativos, a cientista política Mayra Goulart, professora da UFRJ e coordenadora do Laboratório de Partidos e Política Comparada, explica que vários cálculos são feitos na hora de um candidato avaliar se vale ou não se associar ao presidente. Além da análise sobre o potencial de votos que o mandatário nacional pode lhe trazer, é preciso pensar também nos prejuízos, como uma eventual irritação entre opositores do presidente.

A política municipal, avalia Goulart, dificilmente tem interesse num processo de nacionalização, dado que os temas discutidos são os problemas do dia a dia das cidades. Por outro lado, é do interesse do presidente e de governadores ter o apoio de prefeitos para criar capilaridade e facilitar o acesso aos territórios.

“Se por um lado um prefeito faz mais questão de dialogar com temas locais, para o presidente o acesso aos moradores daquele território é fundamental. O voto não se dá em Brasília, e sim em cada território, cada bairro”, observa. “Ter acesso às elites políticas que andam nos bairros, que têm contato direto com moradores, é fundamental para candidatos de maior magnitude, seja um presidente ou um governador. Por estarem mais distantes, eles precisam de alguém para franquear o acesso a aqueles territórios. Esses prefeitos viram cabos eleitorais para as eleições seguintes.”

É de olho nisso que o PT, apesar de marcar posição em algumas capitais com candidaturas próprias pouco competitivas, deve firmar uma série de alianças estratégicas. O Rio, com Paes, é um exemplo, dado que o partido deixará de ter um nome próprio para compor com um aliado de centro. O mesmo chegou a ser cogitado em Belo Horizonte, onde o também filiado ao PSD Fuad Noman pode concorrer à reeleição. Mas como ele é pouco conhecido da população – era vice-prefeito até o ano passado – e não é favorito, a sigla de Lula aprovou em setembro a pré-candidatura do deputado Rogério Correia.

Em outras duas grandes capitais, Manaus e Goiânia, os cenários divergem. Ainda há indefinição na cidade amazonense, onde David Almeida (Avante) é apto à reeleição, enquanto na capital de Goiás o PT alinha o nome da deputada federal Adriana Accorsi (PT) para bater de frente com o prefeito Rogério Cruz (Republicanos). Por lá, Lula deve ter baixa capacidade de transferência de votos, já que Bolsonaro ficou com 61,3% no segundo turno de 2022.

Em Porto Alegre, o campo político de Lula não definiu quem encabeçará uma chapa de oposição a Sebastião Melo (MDB), mas busca-se formar uma unidade. Também no Sul, Curitiba, no Paraná, é a única entre as dez cidades mais populosas em que o prefeito, Rafael Greca (PSD), está em segundo mandato. Em 2020, a estratégia do PT foi lançar o máximo de nomes próprios. Foram 21 postulantes nas capitais e, pela primeira vez desde a redemocratização, nenhum foi eleito.

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