A Monja Coen Roshi se entusiasma quando menciona os benefícios da meditação. Entre os vários que gosta de citar conforme reportagem da Folhapress, está a capacidade de lidar melhor com a dor —física e emocional— e de desenvolver uma relação mais saudável com os próprios pensamentos.
“É fascinante conhecer a sua própria mente e perceber como ela funciona. Para quê? Para você usar da melhor maneira. Para ela ser sua parceira, não sua inimiga.”
Missionária oficial da tradição zen-budista Soto Shu, com sede no Japão, Monja Coen ensina “O poder da meditação” na CasaFolha, uma plataforma de streaming com cursos exclusivos para assinantes.
Lançada em setembro de 2024, a CasaFolha já conta com 17 cursos de grandes personalidades, como o cineasta José Padilha, que ensina a arte de contar histórias e o ex-ministro Pedro Malan, que explica como analisa a economia. Neste mês, estreia o craque Raí, que fala sobre mentalidade de atleta.
Nas aulas da Monja Coen —disponíveis no site casafolhasp.com.br—, ela relembra sua formação monástica, aborda história e princípios do budismo, ensina técnicas para meditar e explora os benefícios do zazen —a prática da meditação sentada.
De acordo com ela, ao ajudar a identificar com mais clareza os sofrimentos físicos e emocionais, a meditação pode ser uma ferramenta na busca de soluções para determinados problemas. Mas com uma ressalva importante.
“Zen não é cura de depressão, ok? Zen não cura doenças mentais. Muitos terapeutas, psiquiatras e psicólogos têm usado [o zen] no processo de cura de seus pacientes. Ele não substitui remédios e não substitui a conversa com o terapeuta”, diz ela. “Mas você vai perceber o mal e você vai perceber quem é que você tem que procurar.”
“Você precisa estar sofrendo?”, ela pergunta. “A dor existe. Você leva um murro. Dói.” A questão, segundo a monja, é o que fazer com isso. “Você pode ir ao médico, passar um creme. Agora, ficar se lastimando, se vitimando e reclamando, isso é extra.”
Vale o mesmo princípio para o sofrimento emocional. De acordo com ela, não faz sentido ficar se lamentando e dizendo vítima do mundo.
“Não, você não é vítima. Você é vítima e algoz ao mesmo tempo. Não seja o seu algoz. Não fique se vitimando. Não fique se pondo para baixo. Perceba que você tem hábitos que não são saudáveis, [inclusive] hábitos mentais”, afirma em seu curso.
Para a Monja Coen, a meditação é também um processo de libertação. “Primeiro, tem que compreender a si mesmo. Compreender o processo mental, compreender onde você travou, onde você ficou no trauma, na briga, na luta com você e com o mundo. E libertar-se.”
Em uma de suas aulas, ela explica que essa nova maneira de encarar os pensamentos não quer dizer controlá-los. “As pessoas acham que tem que controlar a mente. Mas não é controlar. Sabe o que a gente pode fazer? Escolher o que pensa e o que não pensa”, afirma.
Assim, diz ela, é possível escolher pensamentos positivos e deixar de lado pensamentos negativos, bem como favorecer uma memória ou um sentimento em detrimento de outros.
A maior mudança, portanto, está no plano das ações. Os pensamentos negativos continuarão aparecendo, mas a meditação ensina a contemplá-los, em vez de se sentir premidos por eles.
“Perceba. Esse pensamento existe, faz parte da natureza humana. Mas como que eu vou agir no mundo? O que eu vou falar para as pessoas?”
Por isso que, para ela, a meditação é uma espécie de musculação dos neurônios. “Eu quero desenvolver a raiva, a vingança, a briga, a guerra? Ou quero desenvolver a paz, a harmonia, o respeito à vida na sua pluralidade? São escolhas que nós fazemos”, diz a monja. “E a musculação de neurônios é isso. Eu escolho o que quero desenvolver em mim.”