Os apelos pela pacificação nacional não sensibilizaram segundo artigo no O Globo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Na última quinta-feira (1º), chefes dos Três Poderes se juntaram para retirar as grades que bloqueavam o acesso ao Supremo. Faltou alguém na foto: o presidente da Câmara, que preferiu antecipar o fim de semana em Alagoas.
Segundo a coluna de Bernardo Mello Franco, do O Globo, desde o início do ano, Lira busca se fazer notar pela ausência. Em 8 de janeiro, foi a única autoridade graúda que não participou do ato para celebrar a vitória da democracia sobre a ameaça golpista. Desfalcou uma solenidade realizada no Salão Negro do Congresso, a poucos metros de seu gabinete.
Na quinta-feira, o chefão da Câmara boicotou mais duas cerimônias que atraíram a elite do poder em Brasília: a abertura do ano judiciário e a posse do novo ministro da Justiça, no Planalto. Os eventos reuniram os presidentes da República, do Senado e do Supremo, mas Lira, como dizem na imprensa, possui ‘personalidade’.
Lira quer mostrar de acordo com o colunista do O Globo, que está invocado após não cumprirem acordos com ele. Mais do que isso: quer transformar sua chateação, com razão, em preocupação da República. O mau humor do deputado não deveria interessar a ninguém, salvo por um detalhe. Em recados nos bastidores, ele ameaça torpedear o governo Lula se seus acordos não forem cumpridos.
A lista do chefão da Câmara é extensa. Além de pressionar por mais cargos, Lira cobra a devolução de R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão, cortados por Lula; a demissão do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha; e o apoio do presidente ao candidato que ele indicar para a própria sucessão, em fevereiro de 2025.
A carga contra Padilha não é só por antipatia pessoal. Lira quer recuperar o monopólio sobre a partilha e a liberação de emendas. O controle do dinheiro era a principal fonte de seu poder no governo Bolsonaro. Na gestão Lula, o Planalto voltou a ter balcão próprio para negociar com os parlamentares.
Em 2023, o chefão da Câmara manteve o governo sob tensão permanente. Deu declarações ameaçadoras, travou votações e quase implodiu a medida provisória que reorganizou a Esplanada. Ganhou do presidente Lula o comando de dois ministérios e da Caixa Econômica Federal.
Lira voltará do recesso renovado.