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domingo 28 de maio de 2023 às 17:16h

A Espanha é um país racista?

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Os insultos racistas proferidos contra o atacante brasileiro do Real Madrid Vinícius Júnior durante a partida de sua equipe contra o Valencia no último domingo (21), geraram conforme reportagem de José Urrejola, na DW,  repúdio e indignação numa escala internacional.

Alguns argumentaram que tais atitudes racistas não ocorriam no passado, algo que não é verdade, conforme evidenciado por outros jogadores e ex-jogadores de futebol. Outros tentaram minimizar a situação, alegando que a torcida valenciana chamou Vini Jr. de “tonto” e não de “macaco”.

Mas nada justifica o que aconteceu e nem mudará o tema central da discussão: aos olhos do mundo, e citando as palavras do próprio jogador afetado, a Espanha ficou com a imagem de “um país de racistas”.

Estádios de futebol como reflexo da sociedade

O que especialistas ouvidos pela DW reconhecem é que o país europeu tem dificuldades em coibir o racismo, além do que se passa nos estádios de futebol e que muitas vezes é interpretado como reflexo da sociedade.

“Não se pode dizer que a Espanha é um país racista”, disse à DW David Moscoso, professor de Sociologia do Esporte na Universidade de Córdoba. “O que é verdade é que grupos de extrema direita estão semeando uma ideologia de ódio contra estrangeiros de diferentes cores de pele ou etnias.”

Segundo o especialista, tal conduta acaba sendo “transferida para o campo do jogo, porque o esporte é mais um espaço de expressão dos valores e comportamentos da nossa sociedade”. No caso do futebol, os estádios foram convertidos num espaço onde parece ser mais fácil que se vejam comportamentos racistas e xenófobos.

Em conversa com a DW, Sebastian Rinken, sociólogo do Instituto Espanhol de Estudos Sociais Avançados (IESA), concorda que caracterizar a Espanha como um país racista não faz sentido. Mas pondera: “É inegável que existem racistas e, nesse sentido, a Espanha tem um problema com o racismo, pois não conseguiu impedir que uma parte da população continue alimentando tais atitudes.”

É possível medir quão racista é um país?

Discurso de ódio, xenofobia e racismo são situações difíceis de quantificar. Poucas pessoas se identificam como racistas ou admitem sê-lo abertamente. Além disso, as vítimas muitas vezes não reportam essas experiências negativas às autoridades.

“O racismo é uma atitude muito difícil de mensurar. Principalmente porque muitas pessoas, quase toda a população, admite que isso não é certo. Elas assimilaram a rejeição institucional às atitudes racistas e, portanto, isso não se expressa com muita liberdade”, aponta Rinken.

Rejeição a imigrantes

Uma pesquisa realizada pelo IESA no outono de 2020 revelou, porém, que pelo menos 20% da população espanhola nutre antipatia pelos imigrantes. “E poderia ser mais. Não é um valor baixo, é um quinto da população, mas não é a maioria”, acrescenta Rinken.

Essa antipatia pelos imigrantes, destaca o sociólogo, não é necessariamente motivada pelo racismo. “Mas isso não sabemos e é difícil de medir”, considera.

Falta de punição

Moscoso aponta que atitudes racistas e discurso de ódio praticamente não resultam em punições na Espanha.

Vini Jr. destacou que os insultos racistas sofridos por ele no país não são novos. O próprio Real Madrid denunciou insultos racistas contra o jogador em até dez ocasiões. “Mas nada aconteceu, e a Justiça não se pronunciou a respeito. Isso faz com que essas condutas se multipliquem”, salienta Moscoso.

O problema, avalia o sociólogo, pode ser o fato de “existir uma posição muito frouxa por parte das autoridades políticas e esportivas no que diz respeito à sanção desse tipo de comportamento”. Moscoso traça um paralelo com a França, onde a pena pode chegar a um ano de prisão e multa de 45 mil euros para quem proferir injúrias raciais.

Rinke, por sua vez, não acredita que a punição seja a solução para o problema. Para o pesquisador alemão, “a chave para realmente avançar na questão é que as instituições e os líderes políticos defendam, de forma inequívoca, a diversidade em termos positivos”. E conclui: “Os sinais que as instituições emitem têm impacto.”

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