A confirmação do ex-prefeito paulistano João Doria como candidato do PSDB ao governo de São Paulo – oficializada no último sábado na convenção estadual do partido – interrompe uma sequência de sete eleições consecutivas nas quais a candidatura tucana ao Palácio dos Bandeirantes ficou restrita a três líderes históricos da sigla.
Pela primeira vez em 30 anos, o eleitor paulista não poderá votar em Geraldo Alckmin, José Serra ou Mário Covas para governador.
Ao lado de Alckmin, Doria poupou de críticas o atual governador de São Paulo e candidato à reeleição, Márcio França (PSB), reservando-as a outros concorrentes ao governo, como Paulo Skaf (MDB). “Quero deixar um recadinho ao Skaf: não há estafa com o PSDB no Estado”, disse, respondendo a críticas do emedebista à gestão tucana em São Paulo. Em seguida, acusou gestões petistas no governo federal pela crise econômica. “Quando fazem algo, é para roubar.”
Doria chegara à convenção no Expo Barra Funda às 11h30 – o ex-governador chegou às 14h. Foi a segunda vez que Alckmin, o pré-candidato tucano à Presidência, esteve ao lado de Doria em sua pré-campanha. A relação entre o ex-prefeito e o ex-governador havia esfriado, em meio às pretensões presidenciais alimentadas por Doria.
Assim como já havia ocorrido na eleição municipal há dois anos, a escolha de Doria dividiu o partido. O próprio Alckmin, que apadrinhou a campanha do empresário em 2016, chegou a articular uma candidatura única ao governo com o PSDB sendo vice na chapa de França.
Doria reverteu o cenário com o apoio de deputados e dirigentes da legenda, que veem o ex-prefeito como o nome mais forte da sigla para garantir a hegemonia do partido no Estado. O ex-prefeito tem insistido na tese de que apenas um tucano pode continuar o legado de Alckmin. A tática consiste em explorar o programa mais à esquerda do partido de França e tentar vincular o governador ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato.
O coordenador do programa de governo de Alckmin, Luiz Felipe d’Avila, negou desconforto entre os tucanos e o governador do PSB. “Não existe saia-justa nem com Alckmin nem com Doria. O França entende o jogo político”, disse ao Estado.
Críticas à união entre PSDB e Centrão (formado por PR, PRB, PP, DEM e Solidariedade) foram citadas por Doria. “Não conseguiram construir uma aliança como a nossa em São Paulo nem no Brasil. Nada contra alianças, mas quem advoga contra elas é porque não conseguiu fazer.” Eram 15h quando ele foi anunciado como o candidato tucano ao governo.
Ruptura
A tradição tucana nas eleições estaduais só pôde ser quebrada depois que Serra desistiu de disputar o governo pela segunda vez, em janeiro. A saída do senador do páreo e a carência de quadros competitivos abriram caminho para Doria tentar repetir o feito de dois anos atrás na capital, quando se elegeu prefeito após acabar com um rodízio de candidaturas municipais entre Serra e Alckmin desde 1996. No período, foram cinco eleições e só uma vitória – Serra, em 2004.
“Era cobrado do PSDB que fizesse uma renovação. Mas Doria não é mais novidade”, disse o cientista político Humberto Dantas, pesquisador da FGV.
“Nenhum partido fez renovação. O Doria foi uma escolha da nossa militância”, afirmou o deputado estadual Pedro Tobias, presidente do diretório estadual do PSDB.